RN registra 7 ataques com cães em 2025; causa está na forma de criação

Este conteúdo foi originalmente publicado no Agora RN – Portal de Notícias do Rio Grande do Norte. Visite https://agorarn.com.br para mais notícias de Natal e RN.

O Rio Grande do Norte registrou sete ataques de cães em 2025. Segundo dados do PPE (Sistema de Procedimentos Policiais Eletrônicos) da Polícia Civil do RN, os casos aconteceram entre janeiro e abril deste ano. No mesmo período de 2024, o total chegou a 13 ocorrências. No mês passado, uma criança de 1 ano foi atacada por um cachorro da raça pitbull em Mossoró e precisou ser levada ao hospital.

Em fevereiro deste ano, outro caso chamou a atenção. Um homem de 60 anos foi atacado por dois cães da raça pitbull em Extremoz, na Grande Natal. A vítima sofreu ferimentos graves, com os braços praticamente dilacerados pelos animais, que fugiram após o ataque. Ele teve os membros amputados.
Ao AGORA RN, especialistas alertaram para a importância da posse responsável e da educação dos tutores de cães de grande porte como forma de prevenção. Entre as raças comumente associadas aos ataques, está o pitbull. A médica-veterinária Ariane Beatriz, responsável técnica do Centro Médico Veterinário da Universidade Potiguar (UnP), explica que o histórico da raça está ligado a práticas antigas e cruéis, mas isso não define, por si só, o comportamento do animal.

“Apesar de a origem do pitbull estar ligada à força física, o comportamento de um cão está muito mais relacionado ao ambiente em que vive e à forma como é criado e educado do que à sua raça propriamente dita”, afirmou. A raça pitbull surgiu a partir do cruzamento de duas raças específicas: os bulldogs e os terriers. O objetivo era desenvolver um animal mais atlético, resistente e com alta tolerância à dor, características desejadas para sua utilização em práticas cruéis, como as brigas de cães.

A veterinária lembra que raças de menor porte, como o Shih Tzu, e até cães sem raça definida, como o popular “vira-lata caramelo”, também podem apresentar comportamento agressivo, especialmente se forem vítimas de maus-tratos, negligência ou socialização inadequada. “Na maioria das vezes, os casos estão ligados à forma como o animal é tratado, criado e educado”, destaca.

Diversos fatores podem levar a esse tipo de comportamento, como medo, frustração, falta de socialização com outros animais e com seres humanos, territorialismo e histórico de maus-tratos. “Se não educarmos esses animais corretamente, não estabelecermos limites claros — que eles são, sim, capazes de entender, ou se os estimularmos de forma inadequada, há grandes chances de que desenvolvam um comportamento mais agressivo e menos sociável. Portanto, a maneira como o tutor lida com o cão, desde filhote, influencia diretamente no seu desenvolvimento comportamental”, pontuou a médica-veterinária.

Para ela, adestramento e acompanhamento especializado são caminhos eficazes para reverter comportamentos agressivos, mesmo em cães adultos. “O sucesso do adestramento depende muito da constância e do empenho do tutor. É fundamental que ele seja cauteloso, persistente e não desista do processo”, recomenda Ariane.

A especialista defende ainda que o poder público invista mais em educação sobre posse responsável, em vez de proibir a criação de determinadas raças. “É fundamental trabalhar com campanhas que incentivem a castração, promovam o acesso ao adestramento e fiscalizem canis ilegais. Demonizar determinadas raças, como pitbull, não resolve o problema.”

Para cães de grande porte, o ideal é que estejam sempre na guia. Em alguns locais públicos e estabelecimentos, o uso de focinheira é recomendável. Um projeto de lei apresentado pelo deputado estadual Gustavo Carvalho (PL) dispõe sobre a obrigatoriedade do uso de focinheira em vias públicas ou locais de acesso coletivo. Na capital potiguar, o vereador Eriko Jácome (PP) apresentou um projeto semelhante.

Para o adestrador João Maria Marreiro da Silva, com mais de uma década de atuação, o comportamento agressivo de um cão é resultado direto da combinação entre genética e manejo do tutor. Segundo ele, o tutor tem papel determinante no desenvolvimento comportamental do animal, principalmente nos primeiros estágios de vida. “Você tem que ter um manual de como trabalhar com esse animal, saber atender suas necessidades básicas”, disse.

Marreiro destaca fases fundamentais da formação do cão — como a primeira fase do medo, a fase juvenil e a segunda fase do medo — que ocorrem até cerca de um ano e meio de idade. Raças como pitbull exigem um manejo diferenciado, mas os princípios são os mesmos para qualquer porte: socialização, ambientação, obediência e rotina de estímulos físicos e mentais. “O pitbull tem necessidade de mastigar, por exemplo. Hoje existem produtos para isso, como orelha de porco e traqueia desidratada”, explicou.

Segundo o adestrador, o treinamento não só previne ataques, como contribui para uma convivência mais segura. O ideal, conforme Marreiro, é iniciar o processo a partir dos 60 dias de vida do filhote, mesmo que seja por vídeos ou orientações básicas. “A maioria dos cães agressivos que atendo são de pequeno porte: chow-chow, husky, pinscher. Os grandes são os mais visados, mas não os únicos com potencial de ataque”.

Leia mais notícias do Rio Grande do Norte no Agora RN: https://agorarn.com.br | Siga-nos: Facebook.com/agorarn

Fonte: https://agorarn.com.br/rn/rn-registra-7-ataques-com-caes-em-2025-causa-esta-na-forma-de-criacao/