Natal será, mais uma vez, palco de um dos momentos mais aguardados por fãs de todas as idades: o show de aniversário de Roberto Carlos. Intitulada “Eu Ofereço Flores”, a apresentação celebra os 84 anos do artista e reforça sua conexão com o público potiguar — uma relação que atravessa décadas e resiste ao tempo.
Há décadas, Roberto canta e encanta os potiguares. Seus shows em Natal sempre foram eventos que pararam a cidade, mexeram com calendários, lotaram ginásios, abriram teatros e viraram até lenda urbana. Em cada retorno, ele não apenas revisita o próprio repertório, como também reacende memórias que moram no coração de milhares de fãs.
O guarda muito vivo, de longe, me acenava
Um dos episódios mais marcantes da passagem do cantor por Natal foi registrado pela imprensa local como o “anti-show” do Rei: em 3 de março de 1972, Roberto se apresentou gratuitamente para 217 detentos do Complexo Penal João Chaves.
Sem divulgação prévia, com um violão emprestado do presídio, sem banda e com poucos recursos técnicos, o cantor emocionou a todos com clássicos como ‘Amada Amante’, ‘Vista a Roupa, Meu Bem’ e ‘Jesus Cristo’. Ao final, permaneceu no local, conversando com os detentos e recebendo até presentes
Não adianta tentar me esquecer
A presença de Roberto Carlos em Natal era tão marcante que impactava até a agenda universitária da cidade. Em agosto de 1974, o programa Xeque-Mate, da TV Universitária, seria exibido com o jurista Ney Lopes de Souza como convidado. Foi adiado a pedido dos próprios estudantes: ninguém queria perder o show do ídolo.
Entre os palcos mais simbólicos que receberam Roberto no Rio Grande do Norte, o Palácio dos Esportes se destaca. Em 7 de setembro de 1971, as arquibancadas estavam tomadas. Enquanto isso, fãs lotavam o entorno do Hotel Reis Magos, onde o cantor se hospedava. Às 17h30, no apartamento 220, jornalistas conseguiram uma entrevista rara. Sereno, Roberto falou da carreira, da inspiração artística e do carinho pelos potiguares.
“Ainda não atingi o melhor na música. A gente tem sempre que aprender mais”, disse o cantor, com apenas 30 anos de idade. Ele falou de influências que iam de Elvis Presley e Beatles a Tom Jobim e Ivan Lins, exaltou o parceiro Erasmo Carlos e defendeu a importância de manter os pés no chão.
Outra vez
Décadas depois, o encantamento se repetia. Em 2006, no Ginásio Machadinho completamente lotado, Roberto entregou ao público o que todos esperavam: um passeio emocionante por todas as fases de sua carreira, da Jovem Guarda ao romantismo maduro.
Descontraído, brincou, relembrou histórias e emocionou. Em momentos mais íntimos, empunhou o violão para dedilhar Detalhes, arrancando suspiros com a mesma intensidade de anos atrás. Duas fãs invadiram o palco durante a apresentação da banda. A noite também teve Cadillac inflável e acróstico projetado no telão em homenagem à falecida Maria Rita. Ao final, as tradicionais rosas vermelhas e brancas lançadas à plateia selaram mais uma noite de devoção coletiva.
Essa luz só pode ser Jesus
Mais do que lotar arenas, Roberto ocupa um espaço afetivo no imaginário popular. Uma lenda urbana nascida em Mossoró garante que o cantor vai todos os anos à cidade, secretamente, para participar da Procissão de Santa Luzia, no dia 13 de dezembro.
A história teria origem em um show no Estádio Nogueirão, quando o artista se hospedou em um hotel próximo à catedral mossoroense. Encantado com a igreja, teria feito uma promessa à santa após o nascimento de um de seus filhos com glaucoma.
Quando sua esposa engravidou novamente, temia-se que o bebê também nascesse com a condição. Roberto pediu a intercessão da padroeira dos olhos. A criança nasceu saudável, e ele passou a cultivar uma devoção silenciosa à santa — evitando compromissos profissionais em 13 de dezembro, como revelou ao Programa do Jô, em 2016.
A devoção virou boato, o boato virou crônica popular. Dizem que ele vai à procissão disfarçado — ou que sobrevoa a multidão de helicóptero para não ser reconhecido. A história virou meme nas redes, mas continua sendo contada com fé e humor.
Pelas esquinas da nossa casa
Em dezembro de 2010, Natal ganhou um novo templo para a música: o Teatro Riachuelo. E coube a Roberto Carlos abrir as cortinas da casa. A escolha foi simbólica — ele representava o elo entre o sofisticado e o popular, entre a saudade e a esperança. Cerca de 1.600 convidados ocuparam todos os assentos do novo teatro para assisti-lo.
Eu voltei
Neste sábado 19, o artista retorna a Natal para celebrar seu aniversário com um show especial na Casa de Apostas Arena das Dunas, às 21h (portões abertos a partir das 18h). Ingressos ainda estão disponíveis para compra.
Em solo potiguar, Roberto Carlos mantém um reinado raro — não o da ostentação, mas o da presença. É o artista que canta e consola, que emociona e movimenta mesmo quando não está presente. Em Natal, em Mossoró ou em qualquer lugar onde se ouça ‘Emoções’ ou ‘Outra Vez’, ele é mais do que música: é símbolo cultural, memória afetiva, parte da vida de milhões.
Na simplicidade de um gesto, no silêncio de uma promessa ou no grito de um fã atravessando o palco para um abraço, o Rei permanece. Como toda lenda que se preze, ele sempre volta — nos discos, nas histórias, nas canções de amor e no coração de quem ainda acredita no poder da emoção.
Porque, no fim das contas, ser Roberto Carlos é isso: tocar vidas como essa força estranha que paira no ar. E, aqui, sem trocadilhos — ele é a trilha sonora de um país que ainda canta, sente e se reconhece em suas canções
Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/show-em-presidio-e-mais-a-relacao-de-rc-com-o-rn/