Startups lideradas por mulheres: potiguares são exemplo de protagonismo feminino e inovação

Entre empresas seniores e um mercado competitivo, as startups norte-rio-grandenses prometem um crescimento cercado de inovação e representatividade potiguar. E é apesar de um cenário onde a direção dessas empresas é predominantemente masculina, que as idealizadoras e fundadoras das startups do RN conquistam destaque como exemplo de empreendedorismo e liderança feminina no ecossistema. 

Segundo um estudo realizado pelo Startups Report Brasil 2023, divulgado pelo Observatório Sebrae Startups, a quantidade de mulheres que estão à frente das diretorias dos negócios inovadores enquanto sócias ainda é reduzida. Os dados mostram que entre os sócios de startups, 91,35% são homens, enquanto somente 8,65% são mulheres. 

Foi diante dessa realidade que nasceu a BlinDog, uma startup criada em 2018 com o objetivo de dar assistência aos pets que têm visão debilitada por meio de uma ferramenta que proporciona mobilidade, segurança e autonomia para eles. Hoje, a empresa conta com uma equipe de sete pessoas liderada pela CEO Luana Wandecy e a diretora de marketing Amanda Holanda.  

Luana é fundadora da empresa incubada no Metrópole Parque, ligado ao Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN), e eleita como um dos nomes mais geniais da tecnologia pelo MIT Innovators Under 35 em 2023, contou ao AGORA RN que toda a trajetória de empreender começou a partir da sua própria experiência como tutora de um cãozinho com deficiência visual.

Pets utilizam a BlinDog como uma coleira. Foto: Cedidas

“Eu tinha uma cachorrinha, a Princesa, e quando ela ficou cega, batia muito na parede e nos móveis, ela dava muitas cabeçadas fortes e chegou até a rasgar o focinho uma vez. A gente tinha que levar ela o tempo inteiro para o veterinário porque começou a dar traumas neurológicos. Ela começou a ter vários problemas mentais que começaram a dificultar até o momento dela andar”, relatou Luana. Na época, ela buscou uma solução para melhorar a mobilidade de Princesa, mas nenhuma das opções foi suficiente para a segurança do animal que já tinha uma idade avançada. Foi daí que surgiu a ideia da BlinDog, desenvolvida por ela e a sócia, Natália Dantas.

O aparelho serve como uma coleira para o cão e emite pulsos vibratórios toda vez que o animal se aproxima de qualquer tipo de obstáculo. “Ele começa a associar que, se vibrou e ele continuar naquele percurso, ele vai bater [no objeto], então ele começa a desviar para um ambiente em que o aparelho não está vibrando e percebe que não bate em nenhum obstáculo, nisso ele faz essa associação que, às vezes, acontece em questão de 20 minutos”, contou. O equipamento também é capaz de detectar que o animal está bebendo água, se alimentando e até mesmo deitado no colo do tutor. Nessas ocasiões, a coleira não sinaliza para a proximidade. 

Ao idealizar um produto que mudou a vida tanto dos pets quanto dos tutores, Luana conseguiu atingir um destaque que levou a startup para fora das terras potiguares, mas o Brasil logo pareceu pequeno para ela, que fez o nome da BlinDog ser reconhecido até mesmo fora do país. “A gente já tem a BlinDog em 12 países, são mais de seis mil unidades vendidas”, diz.

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Luana e Amanda estão na diretoria da BlinDog enquanto líderes de uma equipe de 7 pessoas. Foto: José Aldenir/Agora RN

Entre as conquistas como empreendedora e líder de uma startup, Luana comemora os prêmios que recebeu durante o caminho de sucesso, como o terceiro lugar entre 300 iniciativas inscritas na premiação Startup Nordeste, o título de Revelação do Ano no Startup Awards, conhecido como o Oscars dentro do ecossistema, o reconhecimento com o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios e a chegada na final do programa para mulheres empreendedoras Academy For Women Entrepreneurs (AWE) 3.0, da Embaixada dos Estados Unidos.

Para ela, ter destaque enquanto diretora de uma startup em um ambiente que ainda é tão masculino significa superar desafios, principalmente com os olhares de desconfiança e dúvida que enfrentou durante muito tempo antes de ser reconhecida. “A gente não abaixa a cabeça. O primeiro momento é sempre esse, todo mundo olha torto. O nosso pensamento sempre foi: vamos fazer o nosso, vamos pegar nosso dinheiro e vamos investir. E a gente foi fazendo, foi vendendo até que chegou um ponto que as pessoas começaram a dizer ‘essas meninas estão em todo canto’”, completou. 

Já para a fundadora da plataforma de estudos Planejativo, Tainara Celi, assumir a liderança da startup que também é incubada no Metrópole Digital foi resultado de um incentivo que recebeu durante muitos anos pelas mulheres da família. “Fui criada por mulheres que exerceram papéis de liderança e sempre fui incentivada a ser uma mulher proativa, resolutiva e independente. É inspirador ver mais mulheres assumindo papéis de liderança, trazendo novas perspectivas e ideias inovadoras que são essenciais para o crescimento e sucesso no mundo dos negócios”, ressalta.

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Tainara Celi é idealizadora e fundadora da plataforma Planejativo, que tem usuários em todo o país. Foto: Cedida

Ela destaca a energia e a inovação que as mulheres têm levado para o universo do empreendedorismo e acredita que essa diversidade na liderança das empresas “não apenas enriquece o ecossistema das startups, mas também serve como um poderoso exemplo para as futuras gerações de empreendedoras”, diz Tainara.

A idealizadora do Planejativo foi também desenvolvedora do método que a plataforma oferece. Ela contou, em conversa com o AGORA RN, que o aplicativo foi criado a partir de uma necessidade observada na vida diária de estudante. “Decidi começar a estudar para concursos públicos e percebi que, para estudar com o método de estudo que escolhi, precisava planejar meus estudos de forma mais eficiente e que se adaptasse ao meu ritmo e rotina de aprendizado”, explicou.

Com isso, Tainara procurou sistemas que pudessem auxiliar no planejamento dos estudos, mas não encontrou aquele que atendesse às necessidades que tinha. Após continuar estudando por meio de planilhas com o método próprio, decidiu que era hora de mostrá-lo para o mundo, de forma que outros estudantes conseguissem ter um planejamento adaptativo como ela. “De início, pensei em desenvolver a plataforma para concursos públicos, porém, como meu sócio, que é meu marido e desenvolvedor da plataforma, também utilizou meu método e passou em Medicina na UFRN em seu primeiro ENEM, achei melhor levar a metodologia para o ENEM”, narrou.

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O Planejativo sempre teve uma equipe majoritariamente feminina, conta Tainara. Foto: Cedida

Hoje, o Planejativo promete mudar os estudos de mais de 2 milhões de usuários com metodologias e ferramentas que buscam um aprendizado eficaz. “Ver o Planejativo alcançar tamanha popularidade, com mais de 600 mil downloads é incrivelmente gratificante. Isso significa que estamos fazendo a diferença na vida de milhões de estudantes por todo o Brasil, ajudando-os a alcançar a aprovação com uma ferramenta que foi criada a partir de uma necessidade real. Para mim, é uma prova de que quando colocamos paixão e dedicação em algo que acreditamos, o impacto pode ser imenso. É também um lembrete poderoso do potencial do empreendedorismo feminino em criar soluções inovadoras e transformadoras”, ressaltou.

Mas nem sempre a estrada é tranquila, pois as dificuldades surgem e os desafios precisam ser superados. Para Tainara, a maior dificuldade foi conseguir conciliar a direção da startup e as outras atividades essenciais, considerando que estar envolvida na iniciativa do Planejativo exigia muita dedicação desde o início. “Encontrar um equilíbrio entre essas demandas e outras responsabilidades pessoais e profissionais pode ser bastante desafiador. Gerenciar meu tempo de forma eficaz foi essencial, além da importância de uma equipe forte e colaborativa. A maior parte da equipe do Planejativo, desde seu início, foi formada por mulheres e contar com essas mulheres comprometidas e talentosas foi fundamental para garantir o crescimento da startup”.

Apoio de startups é decisivo para crescimento de mulheres no empreendedorismo

Luana Wandecy também enfrentou dificuldades, mas afirma que ao lado da incubadora da UFRN e com o apoio de entidades como o Sebrae, ela conseguiu ter o suporte que precisava para divulgar a empresa e conseguir parcerias estratégicas. “Eles têm muitos programas para ajudar empresas, programas para apresentar [startups] ao investidor, e de início a gente já entrou na comunidade Jerimum Valley, que é muito próxima do Sebrae e a partir disso a gente começou a conhecer o núcleo das startups. Eles me levaram para uma missão no Vale do Silício, onde tive a oportunidade de ir na PayPal, no Google e vários lugares que ajudaram a gente a pensar no que queríamos colocar na BlinDog”, explica. 

A analista de inovação do Sebrae-RN e coordenadora do programa Startup Nordeste, Jéssica Sena, conta que as missões empresariais são realizadas a partir do mapeamento de principais eventos de inovação a nível nacional e internacional. “Eles participam, às vezes, como startups expositoras nesses eventos e às vezes participam das rodadas de investimento. A gente apoia a ida do representante da startup para esses eventos e normalmente, além da organização dessa oportunidade, a gente dá apoio também financeiramente”, relata.

Jéssica Sena também menciona que, entre os destaques para as oportunidades as quais as startups têm com o suporte do Sebrae-RN, estão as ações e programas que visam o fomento da geração e do fortalecimento de novos negócios inovadores. “Essas ações vão desde eventos que são com temas relevantes para esse público, visando a passagem de conteúdo, com esse objetivo de fomentar esse público e trazer também esses atores para promover um bom networking para eles, até editais que a gente tem, que podem ser editais de pré-aceleração e de aceleração, que são focados nesse público”, contou.

Ela menciona, ainda, que a diversidade dos representantes de uma startup conta muito dentro do ecossistema e destaca que o protagonismo feminino dentro desse universo é um dado interessante a ser visualizado. Com base no Startups Report Brasil, o Sebrae realizou o estudo em Startups de Impacto Report Brasil 2024, considerando apenas as startups de impacto social, onde revelou que na liderança das startups da categoria, 41% são coordenadas por mulheres na condição de sócias fundadoras, enquanto que quase 59% são dirigidas por homens. Nas startups convencionais, somente 9% das fundadoras são mulheres.

“A gente vê que a representatividade das mulheres fundadoras nas startups, quando se olha à nível nacional e olha todas as startups, ela é pequena ainda, se a gente considerar que somente 9% das fundadoras são mulheres. Mas quando a gente faz um recorte apenas para as startups de impacto, esse valor aumenta consideravelmente, onde 41% das respondentes indicaram que têm mulheres no quadro de fundadores. Essa representatividade, pelo menos no que diz respeito às mulheres no quadro de fundadoras, elas são mais fortes nas startups dentro do segmento de impacto social”, relata Jéssica.

Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/startups-lideradas-mulheres-potiguares/