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As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) têm assumido funções que não lhes cabem e estão, na prática, operando como hospitais. A denúncia é de Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN). Segundo ele, a superlotação, a permanência prolongada de pacientes e a ausência de leitos na rede hospitalar transformaram as UPAs em unidades de internação improvisadas.
“As UPAs estão virando hospitais. As últimas matérias que nós temos feito, nós estamos chamando as UPAs de mini-hospitais. De mini-Walfredo”, disse, em referência ao Hospital Walfredo Gurgel, principal unidade de urgência do Estado. Ferreira contou que, em visita recente à UPA Potengi, em Natal, encontrou um setor que deveria ser destinado apenas à nebulização sendo usado como sala de internação. “Este setor estava com 11 pacientes internados por falta de leitos nos hospitais”, declarou.
Em participação na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa nesta terça-feira 17, Geraldo Ferreira disse que a situação é reflexo do fechamento das portas de hospitais (restringir atendimento a pacientes regulados) e da escassez de leitos hospitalares, tanto clínicos quanto de UTI. “O fechamento da porta dos hospitais e a inexistência de leitos hospitalares é muito grave no Rio Grande do Norte. Nós temos nessas UPAs, por exemplo, de Natal, uma média de 20 pacientes em cada uma, esperando leitos hospitalares. Inclusive de UTI.”
Ferreira explicou que o atendimento de urgência foi, ao longo dos últimos anos, transferido para as UPAs, especialmente após mudanças na legislação e na organização da rede. “O atendimento de urgência, em grande parte, ele foi transferido para as UPAs. A não ser as cidades que não tenham. Mas a UPA está virando hospitais.”
Ele também denunciou a situação dos pacientes psiquiátricos, que vêm sendo acolhidos nas UPAs por falta de unidades especializadas em funcionamento adequado. “Hoje a porta de entrada é a UPA também. Aí você tem lá, em cada UPA dessas, quatro, seis, oito, às vezes até dez pacientes nos corredores. Às vezes agredindo acompanhantes ou outros pacientes.”
O dirigente apontou que a falta de leitos psiquiátricos reflete o desmonte de estruturas especializadas, como o hospital João Machado, e a ausência de centros de atenção psicossocial (Caps) com funcionamento integral. “Foi uma coisa da legislação que disse que esses pacientes iriam para as UPAs e seriam encaminhados para CAPS. Mas qual CAPS? Onde é que tem leito no sistema desses CAPS? […] Nós não temos esses CAPS com plantão 24 horas aqui em Natal. Seria o nível 3.”
“Faltam 70% dos itens”: hospitais operam no limite e improvisam atendimentos
A crise de abastecimento nas unidades hospitalares também foi tema de preocupação. Ferreira afirmou que o Sindicato dos Médicos tem monitorado sistematicamente a situação dos hospitais e vem encontrando cenários alarmantes. “Às vezes a gente desce ao fundo do poço. Nós estamos num momento bem grave onde se acumulam muitos atrasos e há uma questão de abastecimento documentada pelo Conselho Regional de Medicina, que detectou, principalmente no Walfredo e no Tarcísio Maia, em torno de 70% dos itens faltando.”
Segundo ele, a falta de insumos tem forçado improvisações perigosas nos atendimentos, como a substituição de equipamentos essenciais por materiais inadequados. “Nós conseguimos detectar muitas vezes improvisações daquelas que às vezes vão para a televisão, por exemplo, não ter uma máscara para uma criança e improvisar um soro cortado para fazer oxigênio. Dreno de tórax que está faltando. Então, pega-se um material inadequado, às vezes muito mais, o calibre muito maior.”
Ele relatou ainda que há hospitais utilizando instrumentos cirúrgicos com décadas de uso. “Em Mossoró, nós conseguimos detectar material do tempo da Fundação Walfredo Gurgel. Eu acho que ela foi extinta no governo de Garibaldi. Eu acho que tem mais de 40 anos.”
Apesar das críticas, Ferreira fez questão de destacar a importância do serviço público de saúde e afirmou que as denúncias têm o objetivo de contribuir para sua melhoria. “O hospital é a tábua de salvação. E, ai do nosso Estado, ai do povo brasileiro, se não fosse o serviço público. […] A crítica, quando é feita, é no intuito de colaborar e de contribuir. Nunca de personalizar.”
Ao final de sua exposição, o presidente do Sinmed defendeu a realização de uma audiência pública específica para discutir a crise no atendimento psiquiátrico e reiterou que o objetivo do sindicato é proteger tanto os profissionais quanto os pacientes. “A saúde a gente faz para a população, e qualquer importância que a categoria médica possa ter, ela se resume à prestação do serviço que a população precisa.”
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Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/upas-viraram-mini-hospitais-rn-sinmed/