“Nossos corações estão lá, vendo crianças e mulheres sendo mortas”, lamentou o presidente da colônia Palestina em Manaus, Mamoun Imwas, sobre o genocídio na Faixa de Gaza. Desde outubro de 2023, a região sofre constantes ataques de bombardeios do estado de Israel que limitou, desde março, a entrada de alimentos e deixou milhares de famílias sofrendo com uma das piores dores do mundo: a fome.
Em 19 de abril, Israel cedeu às pressões de autoridades internacionais e liberou de forma precária e limitada o acesso de caminhões com alimentos e outros itens de necessidade básica. Conforme o estado de Israel, o bloqueio teria como objetivo limitar movimentos do grupo Hamas.
No entanto, milhares de palestinos reunidos no centro de ajuda humanitária, em Rafah no Sul de Gaza, foram surpreendidos, no domingo (1°), com um ataque surpresa de Israel que deixou 31 mortos e 150 feridos.
Ao Portal Em Tempo, a vice-presidente da Sociedade Árabe Palestina do Amazonas, Muna Hajoj, definiu Gaza como “prisão a céu aberto”.
“Nada entra e nada sai. Tanto é que nem ajuda humanitária que vinha do mundo podia entrar, por isso as pessoas estão morrendo de fome. Hoje em dia, não existe nenhuma forma de ajuda que possa entrar em Gaza. A gente se sente de braços atados. Não tem muito o que a gente possa fazer”, conta Muna.
Os ataques de tanques, drones e bombas israelenses na cidade de Gaza atingem constantemente as famílias palestinas que moram no local. Além dos ataques de armas, pais e mães veem seus filhos morrerem também de fome. Imagens de crianças cadavéricas são compartilhadas nas redes sociais e refletem o estado de terror e crise humanitária na região.
Com dupla nacionalidade, Palestina e brasileira, Muna expressou que não possui apenas a perspectiva de amazonense e que sente a angústia do povo palestino.
“Existe um lado palestino que pulsa da mesma forma que o lado amazonense. Vou sempre enxergar pela ótica de uma Palestina. É muito sofrimento e muita dor. Como ser humano, independente da nacionalidade, não tem como não se compadecer com o sofrimento do próximo, principalmente porque eles vivem em uma situação de genocídio”, afirma.
Amazonas e Palestina
Mamoun mora há 37 anos no Amazonas, mas em abril de 2025 decidiu viajar, juntamente com a mãe, para a Cisjordânia, que integra o território palestino. Ele afirmou ao Portal Em Tempo que pretende voltar ao Amazonas ainda este ano, mas a mãe deve continuar na Cisjordânia.
Isso porque, conforme Mamoun, ela tem o desejo de estar perto e dar apoio à família que vive na região próxima à Faixa de Gaza, local que é alvo dos ataques de Israel.
“Os palestinos que estão no Amazonas praticamente não têm parentes na Faixa de Gaza, a maioria vive em Hebrom, cidade da Cisjordânia e estão sofrendo. Mesmo não tendo parentes lá [faixa de Gaza], nossos corações estão partidos. Você vê a destruição. Uma cidade linda foi praticamente destruída e acabada. Não tem expectativa de vida futuramente. A gente espera essa guerra terminar”, afirma Mamoun.
Ele descreve a situação na Faixa de Gaza como uma “tragédia” e lamenta que o mundo televisione o massacre de um povo e que, no entanto, nada é feito. Também pede que o governo brasileiro corte qualquer relação comercial com o estado de Israel, o qual Mamoun considera um “estado genocida”.
“No final, o povo palestino só quer viver como o resto do mundo e quer ser um país independente. No século XXI, o único país ocupado é a Palestina. Queremos apenas o nosso estado e que o conselho de segurança seja cumprido”, diz Mamoun.
Mamoun também acredita que Israel possui interesses comerciais dentro da faixa de Gaza: “tem uma riqueza fora do normal, tanto de gás, quanto o canal que pode ligar o comércio com a Europa e o restante do mundo”.

Início da invasão na Palestina
Conforme o professor e doutor em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio do Nascimento, a região chamada hoje de Palestina foi ocupada historicamente pelo povo árabe há mais de 2 mil anos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, houve um grande genocídio do povo judeu praticado pelo exército alemão sob o comando de Adolf Hitler. Naquela época, segundo professor, o ocidente dava pouca importância para a questão, e que foi resolvida com a vitória do exército vermelho russo e que pôs fim à guerra.
Ao final da segunda guerra, diversos problemas precisaram ser resolvidos, entre os quais, a questão do povo judeu, que reivindicou, a partir da perspectiva de terem sofrido um genocídio, um estado nacional, o qual foi aceito pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“Foi acordado dividir um pedaço de terra, onde hoje está o conflito, entre os palestinos e os israelenses. Os palestinos concordaram em dividir o território em dois estados autônomos e com fronteiras determinadas”, afirma professor.
No entanto, em 1949, Israel com apoio dos Estados Unidos impõe um novo padrão que faz os árabes recuarem.
“Com apoio estadunidense, Israel passa a ter uma prática autoritária, violenta e de dominação imperial sob o povo palestino”, conta Luiz Antônio.
Genocídio em Gaza
De acordo com o professor, nos últimos quatro anos que antecedem outubro de 2023, quando Hamas atacou Israel e levou a morte de milhares de pessoas, entre 8 mil a 12 mil palestinos foram presos por Israel sem serem denunciados e julgados, sendo algumas delas mortas.
“Quando o Hamas ataca, ele ataca em resposta a essas ações. Nos últimos anos, Israel tem promovido um genocídio. A legislação universal define o que é genocídio. É quando você tem a intenção específica de matar um grupo etnicamente definido”, diz Luiz Antônio.
Em quase 18 meses, mais de 50 mil palestinos, entre a maioria das vítimas estão mulheres e crianças, conforme a ONU.
“Por exemplo, na guerra entre Ucrânia e Rússia, há um equilíbrio de forças. No caso da Palestina, não há um exército palestino. O que tem havido é um bombardeio de aeronaves sob áreas civis. Jogam bombas em hospitais e em escolas, como um campo de concentração. É mais bárbaro do que aconteceu com os judeus na Segunda Guerra Mundial”.
Conforme o professor, não existe uma guerra ou um conflito na Palestina, mas uma invasão de Israel no território palestino que expulsa as pessoas para fazerem colônias israelenses.
“Ou seja, eu entro na tua casa, expulso você e sua família e boto outras pessoas no lugar. Isso não é conflito, isso é genocídio. Uma tentativa de eliminar o povo palestino”.
Autoridades internacionais condenam Israel por genocídio em Gaza
De acordo com o sociólogo Israel Pinheiro, duas entidades internacionais que reconhecem a situação de genocídio em Gaza: a Anistia Internacional e a Human Rights Watch.
“Além das mais de 50 mil mortes de palestinos, houve a destruição generalizada. Cerca de 80% das casas e edifícios de Gaja já foram danificadas ou destruídas. Há também o bloqueio de alimentos e remédios, que já vinha acontecendo há vários anos em Gaza quando Israel inicia algum conflito”, alerta Israel.
Ele aponta que autoridades israelenses já têm sinalizado que querem ocupar o local. Entre todas as características de genocídio em gaza, a principal para ele é: a morte de civis, principalmente de crianças e mulheres.
“É importante ressaltar que o tipo de ideologia perpetuado no estado de Israel é o sionismo, que é uma ideologia nacionalista, de superioridade da população israelense em relação às populações da faixa de gaza”, explica o sociólogo.
Para ficar por dentro de outras notícias e receber conteúdo exclusivo do portal EM TEMPO, acesse nosso canal no WhatsApp. Clique aqui e junte-se a nós! 🚀📱
Fonte: https://emtempo.com.br/405892/amazonas/genocidio-em-gaza-palestinos-do-amazonas-relatam-angustia/