Igrejas centenárias enriquecem cenário histórico de Belém

Diferentes bairros possuem variadas riquezas culturais por terem patrimônios históricos muito importantes para a cidade de Belém. Entre estes patrimônios estão as igrejas católicas, como a das Mercês, na Campina, a Catedral Metropolitana, na Cidade Velha, e a Basílica, em Nazaré, obras cheias de histórias e influência sobre a religiosidade paraense, locais que são um roteiro cultural e de fé.

Igreja dos Capuchinhos (São Brás), situada na Conselheiro Furtado com Castelo Branco.- Foto: Ricardo Amanajás / Diário do Pará.

O historiador e cientista da religião Márcio Neco explica que a área onde hoje fica a Igreja das Mercês era bastante alagada, onde foram construídos o convento e a igreja. A edificação do templo data do século XVIII, quando os padres mercedários foram expulsos pela Coroa Portuguesa. Neco frisa a relação histórica desta igreja com a cidade de Belém, quando ela esteve no centro dos conflitos relacionados à Cabanagem, no século XIX.

“Quando os cabanos tentam se apossar das munições que eram guardadas ali, houve um grande conflito por parte das tropas legalistas, que estavam lá escondidas e concentradas. Nós vamos ter a morte de muitos cabanos, ou que iam se refugiar para onde o que é hoje a Doca de Souza Franco, antigo Igarapé das Almas”, descreve o professor Márcio Neco. Fechada na época, a igreja foi reaberta em 1913.

Neco comenta que em 1987 o local sofreu um incêndio, sendo a igreja profundamente abalada. Com a chegada de Dom Alberto Taveira Corrêa na Arquidiocese de Belém, a Igreja das Mercês foi transformada em um santuário de adoração perpétua. “A Igreja das Mercês tem uma paisagem urbana e que não se trata apenas de um espaço de culto ou uma igreja histórica, mas é também um tesouro artístico, arquitetônico e de fé na cidade de Belém.”

O professor de filosofia Henrique Viana, 45, frequenta o local para participar das celebrações litúrgicas e também de atividades culturais que ocorrem na igreja, como seminários temáticos. Viana destaca que a igreja é um patrimônio que representa a história de Belém na região da Campina. “A Igreja das Mercês está bem no meio do centro comercial de Belém, às margens da Baía do Guajará. Entrar aqui é como voltar no tempo. Tem uma arquitetura riquíssima, sendo um centro de oração e espiritualidade.”

Catedral Metropolitana

Conforme ressalta Márcio Neco, a Catedral Metropolitana de Belém é símbolo até hoje da ocupação portuguesa e também da presença da igreja na Amazônia. Erguida no estilo neoclássico e barroco, ficou totalmente pronta em 1782, com influência do arquiteto Antônio Landi. “Ela então é como se fosse uma igreja mãe de todas as outras da diocese. E particularmente na cidade de Belém nós temos a Catedral como um prédio imponente que vai ser referencial”, afirma.

Outro aspecto da Catedral Metropolitana, ou Igreja da Sé, é que ela se encontra no perímetro de fundação da cidade de Belém pelos portugueses, no então complexo conhecido como Feliz Lusitânia. “Ali se deu a chegada dos portugueses e junto com eles a chegada também da igreja do cristianismo, que veio com os padres para catequizar e converter os povos originários ao cristianismo. Então, a Catedral tem essa representatividade.”

Neco frisa que a Catedral fica em frente à Igreja de Santo Alexandre pelo simbolismo na época que materializava o poder da igreja católica por meio das construções dos templos. Segundo ele, os sinos das igrejas ditavam normas que faziam parte do cotidiano das pessoas. “Não era só um espaço litúrgico de orações e celebrações, mas também tinha essa finalidade de organizar o tempo e a vida social das pessoas. Com o tocar dos sinos da Catedral, as pessoas sabiam a hora de acordar, rezar, trabalhar e descansar.”

O flanelinha Elimilson Rosa, 40, trabalha há sete anos na Praça Frei Caetano Brandão, bem em frente à Igreja da Sé, na Cidade Velha. Todos os domingos pela manhã, Rosa frequenta a missa aos domingos no templo. Devoto de Nossa Senhora de Nazaré, ele comenta que a igreja é muito bonita por dentro e por fora, sendo um importante monumento para a cidade. “Eu fico admirado com o tamanho dela. É um patrimônio para os moradores de Belém. Dia de domingo a igreja fica lotada na missa, o que mostra a importância que ela tem para as pessoas.”

Basílica Santuário

Márcio Neco explica que com a chegada dos Barnabitas em 1905, a intensidade de fiéis no local fez eles perceberem a necessidade de se construir uma igreja maior e mais bem elaborada. Em 1909, é lançada a pedra fundamental da construção da igreja, que posteriormente vai se tornar Basílica. “Uma igreja recebe o título de Basílica quando ela tem grande importância histórica, arquitetônica e devocional.”

A importância histórica e arquitetônica se dá pelo predomínio do estilo neoclássico e Art Nouveau, “já a importância devocional ocorre pela maior manifestação religiosa do povo paraense e da Amazônia”. Com isso, o bairro de Nazaré ganha uma personalidade, com estabelecimentos comerciais ganhando o título de Nazaré e linhas de ônibus identificadas para passar ou não pela Basílica. “A gente percebe a importância da Basílica não só para a devoção do povo, mas também para a identidade e cultura de Belém.”

Neco explica que a elevação da Basílica à Basílica Santuário, no ano de 2006, refere-se a um título conferido a igrejas e templos os quais possuem grande peregrinação de fiéis. “Então, a igreja tem importância para a dinâmica social, econômica e para o povo belenense. Todo o bairro ganha uma identidade.”

“Trabalhar em frente à Basílica é uma honra porque ficamos pertinho da nossa mãe”, declara a autônoma Nazaré Nascimento, 50, que tem no RG o nome da padroeira dos paraenses. Devota da Santa, ela se dedica à venda de água, refrigerantes e pipocas em frente da Basílica. “Sempre visito para reforçar minha fé”, explica. Nascimento afirma que na época da quinzena do Círio, o trabalho dela dobra devido à quantidade de fiéis no espaço. “Por isso considero aqui um lugar sagrado para os devotos e também para quem trabalha aqui”, relata.

Fonte: https://diariodopara.com.br/belem/igrejas-centenarias-enriquecem-cenario-historico-de-belem/