o desafio de tornar a cultura acessível em Manaus

Manaus (AM) – “Nunca entrei em um museu de Manaus. Já ouvi falar, já vi fotos, mas nunca consegui ir. É longe, não tenho condições, e parece que não é um lugar feito para a gente. As pessoas nem falam disso aqui no meu bairro”. O relato é de Maria*, moradora do bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste de Manaus.

Aos 37 anos, ela nunca teve a oportunidade de visitar um dos museus da capital amazonense. Segundo a manicure, questões financeiras, distância e a sensação de que espaços culturais não são para pessoas como ela tornaram o acesso impossível até agora.

Ainda assim, ela guarda a expectativa de, um dia, poder conhecer de perto o que até hoje só viu pelas redes sociais ou em reportagens na televisão. “Talvez um dia eu leve os meninos para ver um desses”, completa.

A realidade de Maria não é única. Em uma cidade marcada por desigualdades e acesso limitado a bens culturais para a maioria da população, a Semana Nacional de Museus surge como uma oportunidade de (re)aproximação entre os museus e a população. Mas, afinal, em quais condições esses espaços se encontram hoje?

Manutenção

No Amazonas, sete museus são administrados diretamente pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC): Museu de Numismática Bernardo Ramos; Museu Tiradentes, da Polícia Militar; Museu da Imagem e do Som do Amazonas; Pinacoteca do Amazonas (os quatro situados no Palacete Provincial, no Centro de Manaus); Museu do Homem do Norte (no Centro Cultural dos Povos da Amazônia); Museu do Seringal Vila Paraíso (na zona rural), e Museu Casa Eduardo Ribeiro (no Centro da cidade).

De acordo com a SEC, três desses museus estão fechados atualmente devido a manutenções internas. São eles:

  • Museu Casa Eduardo Ribeiro: em manutenção, sem previsão de reabertura.
  • Museu de Numismática Bernardo Ramos: fechado desde outubro de 2024 para reformulação de curadoria e museografia.
  • Pinacoteca do Amazonas: com 80% da nova curadoria finalizada e reinauguração prevista para julho deste ano.

Os demais seguem abertos à visitação e devem receber público ao longo da semana comemorativa.

E quanto ao acesso para pessoas com deficiência?

Segundo a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, os museus estaduais contam com recursos de acessibilidade, ainda que com limitações em alguns casos.

No Palacete Provincial, onde funcionam quatro dos museus estaduais, há uma plataforma elevatória e um elevador, facilitando o deslocamento de pessoas com mobilidade reduzida. Já o Museu do Seringal Vila Paraíso, por ser um espaço a céu aberto, dispõe de rampas adaptadas para cadeirantes e visitantes com outras deficiências.

O Museu Casa Eduardo Ribeiro também possui elevador, mas o equipamento está temporariamente fora de uso devido à manutenção do prédio. Situação semelhante ocorre no Museu do Homem do Norte, localizado no Centro Cultural dos Povos da Amazônia, que conta com elevador, atualmente em manutenção.

Programação especial

Para marcar a 23ª edição da Semana Nacional de Museus, os espaços sob responsabilidade do governo estadual terão uma programação especial, com atividades educativas, visitas guiadas e exposições temporárias. A ação busca atrair um público mais diverso e estimular o interesse pela história e cultura amazônica.

Enquanto isso, pessoas como Maria seguem esperando pela chance de cruzar a porta de um museu. Que esta Semana Nacional de Museus sirva, também, para lembrar que a cultura deve ser direito de todos — e não privilégio de alguns.

(*) Nome fictício de uma entrevistada que preferiu não se identificar ao Em Tempo

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LS

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Fonte: https://emtempo.com.br/396508/amazonas/museus-de-portas-fechadas-o-desafio-de-tornar-a-cultura-acessivel-em-manaus/