No último domingo (7), ocorreu a abertura da maior evento científico da América Latina, a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Até o próximo sábado (13), Belém, capital paraense, recebe o evento.
A solenidade de abertura ocorreu no Theatro da Paz, com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; do presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro; do prefeito da cidade anfitriã, Edmilson Rodrigues; e do reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Emmanuel Zagury Tourinho.
Com o tema “Ciência para um futuro sustentável e inclusivo: por um novo contrato social com a natureza”, a Reunião Anual da SBPC tem como objetivos difundir os avanços da ciência nas diversas áreas do conhecimento para toda a população e debater políticas públicas nas áreas de CT&I e educação.
Na abertura, a ministra Luciana Santos defendeu a unidade para encontrar soluções para os principais desafios globais e destacou a importância de se investir na Amazônia.
“Queremos investir no Norte, na Amazônia, porque entendemos o papel dessa região para o desenvolvimento sustentável e sabemos que o desenvolvimento tem que ser para todos”, falou a ministra Luciana Santos na cerimônia. “Acreditamos que o estabelecimento de fontes estáveis para o financiamento de políticas de ciência, tecnologia e inovação é um dos fatores que mais pode contribuir para a diminuição de assimetrias regionais”, completou a titular da pasta.
Durante os próximos cinco dias, juntamente com cientistas e povos da região amazônica e de todas as outras regiões do Brasil, a SBPC vai debater temas como biodiversidade, bioeconomia, florestas, rios, oceanos e mudanças climáticas, tendo como centro a sustentabilidade e a inclusão, na busca da construção desse novo pacto social com a natureza.
O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, destacou a escolha de Belém como sede desta edição da Reunião Anual, celebrando a cidade com o poema “Belém do Pará”, de Manuel Bandeira, que exalta sua beleza e cultura. Segundo ele, a realização da COP 30, em 2025, na capital paraense, foi uma feliz coincidência, mas o que pesou na escolha foi o fato de a cidade ser uma importante porta de entrada para a Amazônia, e que abriga uma das principais universidades da região Norte. Tudo isso, tem um caráter simbólico muito forte diante de emergências ambientais e sociais, observou: “Caráter simbólico da Amazônia, caráter simbólico da gente vir aqui, a imagem de um mundo que consiga superar o aquecimento climático.”
Em alusão ao tema central do evento, Janine Ribeiro enfatizou a necessidade de um novo contrato social entre a humanidade e a natureza, ressaltando a interdependência entre desenvolvimento sustentável e inclusão social. Ele também defendeu o reconhecimento e a valorização do trabalho humano na preservação da Amazônia e a busca por um progresso inclusivo e sustentável.
“Democracia inclui os direitos humanos, desde a Declaração Universal de 1948, e inclui os direitos sociais e os ambientais também. Então, por conta disso, pensamos a relação entre o ser humano e a natureza. Não é uma relação de um indivíduo com a natureza, é uma relação desse coletivo, que se faz coletivo na medida em que se liga com a natureza. O pacto com a natureza não é do indivíduo, ele é da sociedade. Isso tudo tem muito a ver com a ciência. Eu gosto de fazer uma troca na ordem das palavras que compõem o nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, dizendo que almejamos que a ciência sirva para o progresso da sociedade brasileira. Quer dizer, o nosso papel aqui é garantir um progresso da sociedade”, declarou o presidente da SBPC.
Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da UFPA, destacou a importância das Reuniões Anuais da SBPC, mencionando que muitos dos que hoje fazem ciência na universidade e em outras instituições amazônicas foram inspirados pelo ambiente de diálogo rico proporcionado por reuniões anteriores. Ele ressaltou a importância de realizar o evento na região Norte, destacando suas particularidades.
“Esse território, quando visto de cima, é composto por florestas verdejantes e rios caudalosos. Mas no solo, ele é feito de pessoas – inteligentes, criativas e sábias. Pessoas frequentemente expostas à violência e violações de direitos. Pessoas raramente ouvidas nos gabinetes onde se decidem os projetos para a Amazônia”, afirmou Tourinho.
Ele destacou ainda que a região gera riquezas incalculáveis para diversos grupos nacionais e internacionais, mas a um custo alto para as condições de vida das populações locais e ao meio ambiente. “O que a Amazônia tem a oferecer não se limita às suas riquezas naturais ou ao seu potencial energético, mas inclui, de forma importante, a experiência de convivência e interação com a natureza de modos não predatórios”, alertou.
Finalizando, o reitor apontou que a ciência brasileira é feita nas universidades públicas, responsáveis por mais de 90% das publicações científicas do país – razão pela qual é vital defendê-las. “Nossas universidades públicas são fundamentais para nossa resistência”, afirmou. “A ciência na Amazônia é de alta qualidade e relevância, bem-sucedida e resiliente, mas é inconformada com a naturalidade com que as autoridades públicas brasileiras, governo após governo, promovem, toleram ou são indiferentes às assimetrias na distribuição de recursos para ciência e tecnologia no país.”
Dessa mesma forma, Denise Pires de Carvalho, presidente da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), chamou a atenção para as frequentes tentativas de desvalorização da educação, a partir de ataques aos professores e às instituições públicas de ensino superior. E também saudou o trabalho do governo federal na área: “É uma honra para mim fazer parte desse governo de união e reconstrução. Não é fácil construir, mas muito mais difícil reconstruir, que ninguém se esqueça do negacionismo”, disse.
O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, buscou também sair em defesa do governo, no mesmo dia em que um grande jornal de circulação nacional divulgou um suposto plano para cobrar mensalidades dos estudantes das universidades públicas federais. “Tenho certeza de que ele (o presidente Lula) e o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad jamais vão admitir a cobrança de mensalidade da rede de ensino universitário nesse país”. E concluiu: “O que queremos é construir um governo para o povo brasileiro, para aqueles que mais precisam”.
Veja na íntegra: https://www.youtube.com/live/MaP7q70guOw?si=kR2prFgEG3rHbRJ2
Fonte: https://horadopovo.com.br/76a-reuniao-anual-da-sbpc-inicia-em-belem-com-foco-no-desenvolvimento-sustentavel-e-inclusao/