Apagão da Enel já ultrapassa 120 horas e 90 mil casas ainda estão no escuro em São Paulo

Cinco dias após o forte temporal que atingiu São Paulo na última sexta-feira (11), cerca de 90 mil imóveis ainda permaneceram sem energia elétrica na capital e região metropolitana. Segundo boletim divulgado pela Enel nesta quarta-feira (16), não há previsão para o restabelecimento completo do serviço, e a situação evidencia problemas na gestão da manutenção e na manutenção preventiva da cidade.

Ventos registra e queda de árvores

O apagão foi provocado por uma tempestade com ventos de mais de 107 km/h, os mais intensos registrados desde 1995, de acordo com a Defesa Civil. As rajadas causaram destruição em diversos pontos da capital e na Grande São Paulo, afetando municípios como Carapicuíba, Taboão da Serra, Cotia, Osasco e Barueri. Um dos principais fatores que agravaram a situação foi a queda de árvores na rede elétrica.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou que 50% das ocorrências foram causadas por árvores caídas. Em uma crítica ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), Silveira afirmou que a administração municipal precisa melhorar o projeto urbano para evitar problemas semelhantes no futuro. 

“As quedas de árvores desenvolvidas para o apagão”, declarou o ministro, que deu prazo até quinta-feira (17) para que os problemas de maior volume sejam solucionados.

Desde a tempestade, a Enel tem equipes mobilizadas para resolver cerca de 5.200 ocorrências ativas. “Não é uma operação simples”, disse Darcio Dias, diretor de operações da Enel, explicando que 17 linhas de transmissão foram afetadas. Apesar do esforço para restabelecer o serviço, a operação não tem previsão de normalização completa. Para tentar acelerar o processo, foram convocados 400 técnicos de outras entregas, além de profissionais da Enel no Chile, Argentina, Itália e Espanha, que se reuniram às equipes de emergência em São Paulo.

FALHAS NA PODA DE ÁRVORES

A crise expõe uma questão sensível: a falta de manutenção adequada do aglomerado urbano, que é uma responsabilidade compartilhada entre a Enel e a Prefeitura de São Paulo. Dados obtidos pelo Bom Dia SP mostram que a entrega cumpriu menos de 1% das podas de árvores que havia se comprometido a realizar em 2024. De acordo com um acordo firmado entre a empresa e a Prefeitura em 2022, 240 mil pedidos de poda de árvores em 2022 contato com a interferência elétrica foram cadastrados, mas apenas 1.730 foram realizados, ou seja, 0,7% do total.

O diretor de operações da Enel, Darcio Dias, contestou os números, afirmando que “no ano de 2023, em toda a área de concessão, a Enel executou mais de 320 mil podas”, sendo 160 mil delas realizadas na cidade de São Paulo em 2024. No entanto, ele reconheceu que a empresa ainda não conseguiu cumprir todas as podas previstas para o ano. “Neste momento a gente fez 160 mil podas no município de São Paulo nesse universo de 230 mil árvores”, disse ele, deixando que a empresa ainda está longe de atender às demandas.

A parceria entre a Enel e a Prefeitura foi estabelecida para melhoria da manutenção das árvores em contato com a rede elétrica. Contudo, a execução é aquém do necessária. Com uma fila de 13,9 mil pedidos de poda ou remoção de árvores pendentes, a Prefeitura se vê sob pressão para garantir que os serviços sejam realizados, uma tarefa que foi entregue para a gestão da Enel.

Prefeitura sob pressão e críticas à concessão

O apagão e a demora na restauração do serviço trouxeram à tona questões sobre a eficácia da concessão do serviço de manutenção de árvores e contribuições elétricas à Enel. O prefeito Ricardo Nunes, que está em campanha para reeleição, acusou a empresa de não responder rapidamente aos chamados e de deixar milhares de paulistanos sem luz. Por outro lado, a Enel e o ministro Alexandre Silveira indicaram que parte dos problemas decorrem de uma falta de planejamento urbano e manutenção regular das árvores, responsabilidade que cabe à gestão municipal, inclusive de fiscalizar a parte que tange a companhia.

Os dados mais recentes do serviço 156 da Prefeitura de São Paulo revelam que a Zona Leste é uma região com maior número de pedidos de poda ou remoção de árvores pendentes, totalizando 4.254 propostas, o equivalente a 30,8% do total. Entre os bairros mais afetados estão Itaquera, com 572 pedidos, seguidos de Pirituba (476), Cidade Líder (416), Perdizes (400), Lapa (394), Vila Curuçá (379), São Domingos (347), Jardim São Luís (342), Jaraguá (337) e Itaim Paulista (331). Esses números destacam que a demanda por manutenção é alta em diversas regiões da capital, especialmente na periferia.

A Zona Leste é a área com maior número de pedidos de poda pendente, com 4.254 propostas, correspondendo a 30,8% do total. Distritos periféricos como Itaquera, Pirituba e Cidade Líder estão entre os mais afetados, mostrando que o impacto é mais severo justamente em áreas que mais dependem de serviços essenciais.

Um problema de gestão compartilhada

O cenário atual evidencia um problema maior de gestão. A entrega da administração das podas de árvores para a Enel visava aliviar a responsabilidade direta da Prefeitura e criar uma solução mais eficiente, mas os resultados não correspondiam às expectativas. A promessa de uma cidade mais segura e preparada para eventos climáticos extremos esbarra na falta de execução das medidas preventivas acordadas, deixando a população à mercê de apagões prolongados e riscos de segurança.

A população, que sofre com a falta de energia e de respostas rápidas, assiste à troca de acusações entre a Prefeitura e a Enel, enquanto espera que medidas efetivas sejam tomadas. O episódio evidencia que a simples concessão de serviços essenciais não é garantia de eficiência, ainda mais se a gestão e a fiscalização não forem robustas, e reforça a necessidade de um planejamento urbano que priorize a segurança e o bem-estar dos cidadãos, especialmente em tempos de eventos climáticos cada vez mais severos.

Fonte: https://horadopovo.com.br/apagao-da-enel-ja-ultrapassa-120-horas-e-90-mil-casas-ainda-estao-no-escuro-em-sao-paulo/