Apagão em São Paulo expõe descaso da Enel e aumenta pressão pelo fim da concessão

Protesto organizado pelo MTST na sede da Enel – Foto: Divulgação

Após temporal na noite de sexta-feira (11), cerca de 900 mil clientes da capital paulista e cidades da Grande São Paulo ainda continuavam sem energia elétrica até as 8h deste domingo (13), de acordo com a Enel. Além da capital, com aproximadamente 552 mil clientes impactados, os municípios mais afetados são: São Bernardo do Campo, Cotia e Taboão da Serra. 

Diante da demora e do descaso da concessionária em reestabelecer o serviço e pôr fim aos transtornos enfrentados pela população, autoridades pressionam e defendem a suspensão do contrato de concessão com a Enel. O Ministério de Minas e Energia (MME) determinou que a Aneel, Agência Nacional de Energia Elétrica, cobre providências à companhia de eletricidade. Segundo o MME, uma sala de situação foi criada para monitorar a situação e “garantir o rápido restabelecimento de energia elétrica”. Em todo o estado, sete pessoas morreram durante às fortes chuvas e rajadas de ventos com mais de 100 km/h. 

A Pasta argumenta que não há justificativa para a inação da Aneel e afirma que a reguladora mostra “novamente falta de compromisso com a população” e tem apresentado falhas na fiscalização dos serviços da distribuidora. Isso porque, segundo o Ministério, a Enel tem histórico de problemas com o fornecimento de energia em São Paulo e outras localidades. 

APURAÇÃO URGENTE

“Nosso pedido foi acatado! Ministério de Minas e Energia cobra ANEEL sobre atuação da ENEL em São Paulo. Ministro pediu, com urgência, informações sobre as providências tomadas contra as falhas recorrentes”, informou o deputado federal e candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos [PSOL]. Como deputado federal, Boulos acionou o Ministério Público do Estado de São Paulo para que se apure com urgência a conduta da Prefeitura e da empresa de energia Enel na gestão de crise que se instaurou na cidade.

Boulos apontou ainda a inércia do prefeito Ricardo Nunes no enfrentamento da crise. “Será que o Ricardo Nunes vai cobrar do seu aliado atender o pedido e romper o contrato com a Enel ou vai continuar fugindo da responsabilidade?”, questionou. “Árvores caídas por falta de poda adequada. Não tem um prefeito em São Paulo que faça o básico. A cidade mais rica do Brasil não consegue podar árvore? É uma vergonha”, disse o candidato do PSOL em um vídeo na noite de sexta. “Um prefeito fraco, que não se impõe”, reiterou.

NUNES CRITICA ENEL

Por sua vez, Nunes disse que ligou para o presidente da Aneel, Sandoval Feitosa Neto, pedindo medidas contra a distribuidora Enel. Segundo o prefeito, o ministro informou que abrirá um termo de caducidade junto à Enel, uma vez que já foram aplicadas várias multas à empresa desde o apagão de novembro do ano passado. “Mais uma vez a Enel dando problema para a nossa cidade”, disse o prefeito, que é candidato à reeleição neste ano. 

“Da outra vez que teve problema eu fui para Brasília, entramos com ação judicial contra a Enel, que é concessão, regulação e fiscalização do governo federal. Estive no Tribunal de Contas da União reclamando, fui no ministro, apresentei as nossas queixas, levei representação e mais uma vez a Enel deixa a cidade nessa situação”, completou. Sobre as 386 árvores que caíram na cidade durante o temporal, Nunes alegou que eram ‘árvores sadias” e que vieram abaixo em razão dos fortes ventos que atingiram a capital, e não por falta de manutenção. 

ENEL DEIXOU SÃO PAULO NA MÃO 

O governador Tarcísio de Freitas também criticou a atuação da Enel e defendeu a quebra do contrato com a empresa.  “Mais uma vez, a Enel deixou os consumidores de São Paulo na mão. Se o Ministério de Minas e Energia e, sobretudo, a Aneel, tiverem respeito com o cidadão paulista, o processo de caducidade será aberto imediatamente”, escreveu Tarcísio. “O que não pode seguir acontecendo é o que estamos vendo mais uma vez em nosso estado. Não podemos ficar à mercê de tanta irresponsabilidade”, disse.

PROCON COBRA ESCLARECIMENTOS

O Procon-SP anunciou que notificará à Enel para que explique os motivos da demora para restabelecer o fornecimento. O questionamento do órgão repetirá pedidos anteriores, quando o Procon cobrou esclarecimentos sobre as medidas adotadas para a retomada da distribuição em prazo regulamentar. 

No documento, a entidade também solicita informações sobre as equipes de atendimento de emergência disponíveis. Também serão cobradas as medidas estruturantes adotadas desde os últimos apagões. O órgão informou que monitora ainda relatos de problemas em cidades do interior, atendidas por outras concessionárias, para igualmente notificá-las.

Em coletiva de imprensa no final desta manhã [13], a Enel-SP que ainda estava contabilizando os danos à rede. Segundo a concessionária, a equipe que atua para resolver os problemas foi reforçada e técnicos do Ceará e do Rio de Janeiro São Paulo estaria se deslocando para SP no dia de hoje para atuar nos atendimentos. No entanto, a Enel se esquivou de estimar um prazo para uma retomada total do fornecimento de energia na capital e na região metropolitana de São Paulo. 

“Não quero passar uma previsão para vocês sobre a qual eu não tenho evidência real que vamos conseguir atender. Não quero colocar uma expectativa que seja frustrada”, disse Fernando Lancastre, presidente da Enel-SP, que trata mais um apagão na maior cidade do país como um “problema climático”.

Em novembro do ano passado, um apagão da Enel após intensas chuvas, deixou mais de 2,1 milhões de residenciais e endereços comerciais sem energia na capital e Grande SP. Em alguns locais, o fornecimento levou até mais de uma semana para ser reestabelecido. Pelas redes sociais, os consumidores têm satirizado os serviços privados com esta frase: “Privatiza que melhora!”. 

Fonte: https://horadopovo.com.br/apagao-em-sao-paulo-expoe-descaso-da-enel-e-aumenta-pressao-pelo-fim-da-concessao/