Bispo emérito de Blumenau afirma que “PL do Estuprador” é “uma distorção da realidade”

O bispo emérito de Blumenau (SC) dom Angélico Sândalo Bernardino afirmou que o projeto de lei que equipara o aborto acima de 22 semanas ao crime de homicídio, inclusive para as vítimas de estupro, é “uma distorção da realidade”.

O bispo foi categórico: “Simplesmente punir a mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É uma precipitação legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e muito mais vasto”, afirma o religioso, um dos mais respeitados da Igreja Católica no Brasil.

Sândalo Bernardino aponta que o momento escolhido para que o tema fosse tratado pela Câmara dos Deputados, em regime de urgência, também é inadequado. “Uma questão complexa como o aborto não pode ser debatida às vésperas de uma eleição. Qual é a motivação desses políticos que defendem essa proposta?”, questiona dom Angélico.

O bispo ressaltou que o país precisa promover educação sexual, antes de “prender mulheres” que interrompem a gravidez.

“Nunca houve educação. Sempre foi aquela coisa de ‘é proibido isso, é proibido aquilo’”, diz. “A masturbação, por exemplo, era proibida, era um pecado. Hoje, o catecismo diz que cada caso deve ser examinado por considerar que muitas vezes a pessoa é levada a isso por questões psicológicas.”

“A gente tem que evoluir, e não ficar somente apegado à punição das pessoas”, afirmou o bispo.

O bispo, de 91 anos, foi nomeado assim na diocese de Blumenau em 2000 pelo papa João Paulo 2º. Antes disso, Sândalo Bernardino foi bispo auxiliar de dom Paulo Evaristo Arns em São Paulo e se envolveu com a Pastoral Operária nos anos 1970.

“O aborto é um crime. Está certo. Mas espera um pouco! A mulher é frequentemente a maior vítima dessa situação. O que mais há na sociedade é machismo”, reflete o bispo. 

No caso de mulheres estupradas que engravidam e fazem aborto, a situação se agrava. “A pessoa jamais poderia ser punida, porque é vítima”, ressalta o bispo.

Para dom Angélico, “chegou o momento de focarmos nesta problemática de maneira global, e não somente de criarmos leis para aumentar a punição”.

Ele diz considerar “urgente que as escolas, as famílias, as igrejas e toda a sociedade proporcionem a educação sexual e afetiva do homem e da mulher, baseada na ciência, na boa informação”.

“Não podemos prender mulheres antes de darmos a elas, e também aos homens, uma formação sexual e afetiva sólida”, segue. “É lamentável como isso ainda não seja incluído na nossa formação.”

“A educação sexual deveria ser prioridade na escola, na pastoral, na catequese, na família. Da infância à velhice”, diz. “A mulher, por exemplo, é uma coisa aos 20, e outra quando amadurece, quando passa pela menopausa.”

Dom Angélico usa o próprio exemplo: aos 91 anos, diz, “nunca recebi formação específica sobre sexualidade. Nem quando era menino, nem quando era adolescente, nem na andropausa e na velhice”.

A posição do bispo é diferente da CNBB, que defende a aprovação do projeto. “Não sou juiz da CNBB. Mas a minha posição é esta”, afirma

Fonte: https://horadopovo.com.br/bispo-emerito-de-blumenau-afirma-que-pl-do-estuprador-e-uma-distorcao-da-realidade/