Ricardo Nunes usou do passado do candidato psolista à frente do movimento dos sem-teto para atacá-lo
O último debate entre os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) antes do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo teve o clima tenso entre os candidatos e o atual prefeito da capital paulista defendendo a privatização dos cemitérios.
O confronto começou com Nunes questionando a atuação de Boulos em pautas de segurança pública. Ele mencionou um projeto de aumento de penas para criminosos que não recebeu o apoio do psolista, além de criticar a postura do adversário em relação à liberação de drogas. Boulos, por sua vez, rebateu as acusações, negando ser a favor da liberação e questionando a privatização de serviços públicos, como o serviço funerário, durante a gestão de Nunes.
Ainda no primeiro bloco, Boulos questionou Nunes se ele sabia o quanto custava para uma família fazer uma oração em uma capela pública, depois da concessão dos cemitérios na capital paulista. “Teve um caso em São Miguel de uma família que teve que fazer a oração de corpo presente na calçada do cemitério porque não tinha dinheiro para pagar a capela”, denunciou.
Nunes respondeu que a privatização dos cemitérios foi necessária e que a tabela de preços dos serviços é antiga. Ele enfatizou que todos registrados no CadÚnico têm acesso a atendimento gratuito e que a concessão ajuda a melhorar a qualidade dos serviços.
Nunes afirmou, então, que psolista não tinha respondido sua pergunta anterior e retomou programas para melhoria da segurança pública em seu governo, como a ampliação de agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Ao fundo, Boulos aproveitou o regulamento do debate e passava atrás do adversário, reagindo à fala do atual prefeito da capital paulista.
Boulos seguiu com uma postura firme, combativa, e por diversas vezes chegou perto do candidato nos embates. Com os dois ariscos, rondando um ao outro, Nunes provocou: “Fica invadindo o meu espaço”. Boulos criticou a “piadinha”, que faz referências a fake news de que o psolista invade a casa de moradores na cidade.
“Eu sei que você fica meio apavorado, um pouco com medo, assustado, de discutir questões olho no olho. Você tem medo de debate, fugiu de vários. Eu debato olho no olho, com as pessoas, com o povo na rua e não tenho esse problema”, disse Boulos, em referência aos encontros que Nunes não foi – incluindo o da manhã desta sexta, que foi promovido pelo ex-candidato Pablo Marçal (PRTB) e que apenas Boulos compareceu. Nunes pediu licença. Eles tiveram um impasse e, depois, se espalharam no palco.
Nunes, a princípio, não respondeu e voltou a questionar sobre o projeto de aumento de pena. Depois, explicou que o serviço funerário era um dos piores serviços de avaliação de São Paulo. “As agências terríveis, os cemitérios terríveis. Nós fizemos as concessões, que é assim um governo liberal.” Segundo ele, a tabela de preço é a de 2019, inscritos no CadÚnico não pagam pelo serviço de enterro e velório e há 25% de desconto no enterro social.
E a resposta sobre o valor do uso da capela veio de Boulos: R$ 580. Depois, além de citar que a privatização da Sabesp, apoiada por Nunes, pode se tornar a “Enel da água”, Boulos retomou a história das crianças brincando na Praça da Sé, no centro da capital.
O candidato do PSOL cobrou a abertura do sigilo bancário do atual prefeito, que respondeu com acusações sobre o histórico de Boulos, mencionando um processo de 2017 em que Boulos foi acusado de atacar a polícia militar. Em resposta, candidato o PSOL levantou suspeitas sobre o envolvimento do crime organizado na prefeitura, citando a presença de um cunhado de Marcola, líder do PCC, na Secretaria de Obras.
CIDADE DE MENTIRA
Boulos citou uma declaração do atual prefeito sobre ter visto crianças brincando na Praça da Sé, no centro da cidade e um dos lugares com mais registros de assaltos na capital paulista, durante a noite.
Segundo Boulos, Nunes mostra uma São Paulo que não existe em sua propaganda eleitoral. E criticou o que classificou como “falta de pulso” e disse que há um abandono da população por parte do emedebista.
“Quer falar de segurança? Você deixa as pessoas abandonadas no seu pior momento. Você falou que no debate passado viu crianças brincando na Praça da Sé às 11 da noite. Você deixaria seus filhos brincando na Praça da Sé?”.
Nunes respondeu que aumentou a segurança no local e reiterou que viu a cena na saída de um debate: “Eu saí do debate e fui até a Praça da Sé, fiz um vídeo com segurança, haviam 4 viaturas da PM e 2 da GCM. Lógico, a gente tem que continuar trabalhando”.
O prefeito aproveitou para atacar Boulos: “Agora a gente faz segurança com policial e quando é para aumentar a pena, você não vota a favor. As pessoas precisam saber. O projeto de lei para aumentar a pena de criminosos, o deputado não votou. Como que vai melhorar a segurança? Eu e Tarcísio estamos trabalhando para aumentar a segurança de São Paulo”, completou.
Boulos disse que não estava na sessão em que o projeto foi votado porque estava em uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto.
O prefeito, por sua vez, voltou a questionar o deputado sobre suas posições relacionadas à segurança: “Por que você defendia a liberação das drogas?” Boulos respondeu afirmando que defende que usuários e traficantes recebam tratamentos diferentes.
No segundo bloco, Boulos foi o primeiro a perguntar e escolheu o tema Saúde. O psolista levantou números, e perguntou o porquê dos bilhões que estão no caixa da cidade não serem direcionados “de verdade para cuidar da saúde das pessoas”.
Nunes dessa vez não fugiu do assunto e falou que, em 466 anos da cidade, ou seja, até 2020, São Paulo contava com 20 hospitais. Depois disso, segundo ele, o número subiu para 30 – com ele e o ex-prefeito Bruno Covas tendo criado mais 10 hospitais. Sobre as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), disse que até 2017 tinham 3 e, agora, são 30. Sua promessa é de que sejam abertas mais 15 UPAS em seu próximo mandato, caso seja reeleito.
Boulos, que chegou aproveitou o assunto para falar sobre o seu projeto Poupatempo da Saúde, questionou os progressos de Nunes, citando que ele fechou unidades de saúde para abrir outras. “Cobrir um pé, descobrindo o outro…”, disse.
A vacinação contra a Covid-19 também foi um tema central no debate. Boulos confrontou Nunes com uma citação em que o prefeito supostamente elogiou Jair Bolsonaro por sua gestão da pandemia. Boulos tentou mostrar que Nunes não se importava com a saúde pública.
O prefeito, por sua vez, defendeu-se, afirmando que a cidade se tornou a “capital mundial da vacinação”. Ele destacou que, apesar de desafios, como a falta de vacina contra a dengue, sua gestão foi eficaz em imunizar a população.
Os dois debateram propostas, falando diretamente e sendo irônicos um com o outro. Ainda sobre saúde, Nunes disse que criará um Centro TEA e perguntou o que Boulos achava disso. Boulos rebateu dizendo que pretende abrir cinco.
Depois, o tema foi trabalho – mas o assunto acabou caindo para a questão dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Boulos questionou o porquê de Nunes não ter entregado nenhum CEU novo em sua gestão. Nunes disse que a cidade tem 58 CEUs, tendo sido 12 entregues por Bruno Covas, e que ele fez a reforma de todos durante sua gestão. Além disso, disse que abriu a licitação para mais seis equipamentos do tipo.
Esse foi o terceiro encontro entre Nunes e Boulos no 2º turno. O debate contou com plateia, com convidados da TV Globo e dos dois candidatos. Os eleitores paulistanos decidirão quem seguirá à frente da cidade mais rica e populosa do Brasil no próximo domingo, 27.
O debate, mediado pelo jornalista César Tralli, teve quatro blocos. No primeiro e no terceiro, eles debateram temas livres por 20 minutos. No segundo e no quarto bloco, foram 20 minutos para discutirem temas determinados. E, antes de encerrar, no final do quarto bloco, cada um teve dois minutos para as considerações finais.
Fonte: https://horadopovo.com.br/boulos-critica-privatizacoes-e-denuncia-ligacao-da-gestao-nunes-com-pcc-no-ultimo-debate-em-sao-paulo/