Com salários defasados, servidores da Fiocruz rejeitam proposta e realizam paralisação de 24 horas

Assembleia de servidores da Fiocruz realizada na segunda-feira – Foto: Divulgação

“Nossa expectativa é um reconhecimento pelo governo a toda a contribuição da Fiocruz ao povo brasileiro”, destaca o presidente do sindicato

Os servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) decidiram, em assembleia na segunda-feira (29), rejeitar a proposta apresentada pelo governo federal e realizar uma paralisação de 24 horas nesta quinta-feira (1º).

A categoria também decidiu convocar uma nova assembleia na sexta-feira (2) para definir os rumos do movimento, além de aprovar o “estado de assembleia permanente” e o “estado de greve”.

Um estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que as perdas salariais acumuladas pela categoria entre 2009 e 1º de junho de 2023 variam de 70,32% a 69,97% entre os trabalhadores de ensino médio e de 64,80% a 51,77% entre os de ensino superior. Enquanto isso, a proposta do Ministério é de 0% de reajuste em 2024, 9% em 2025 e 4% em 2026.

A contraproposta apresentada pela categoria reivindica um reajuste de 20% para 2024, 20% para 2025 e 20% para 2026. Os trabalhadores também exigem um posicionamento público da Presidência e do Conselho Deliberativo da instituição sobre a política de extinção do nível intermediário, com a perspectiva de data para Assistente de Gestão e Técnico em Saúde Pública no próximo concurso; a aplicação de índices que considerem as maiores perdas do nível intermediário e rendimentos recebidos por aprendizagem (RRA) com implementação a partir de janeiro de 2025.

O presidente do sindicato e professor da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Paulo Henrique Garrido, explica a expectativa do movimento grevista. “Nossa expectativa é um reconhecimento pelo governo a toda a contribuição da Fiocruz ao povo brasileiro, com a valorização concreta de seus trabalhadores e trabalhadoras. Somos a instituição de saúde pública mais antiga das Américas”, disse.

Paulo Henrique também reivindica tratamento igualitário com todas as categorias. “Chegam pelos jornais todos os dias notícias de diferenças de tratamento com algumas categorias que estão mais valorizadas. Somos uma instituição estratégica a serviço da saúde e da ciência do país e sempre estivemos presentes em momentos mais difíceis, como na pandemia”.

REPOSIÇÃO DAS PERDAS SALARIAIS

Para Francisco Pedra, médico sanitarista, Doutor em Saúde Pública e Meio Ambiente, Mestre em Saúde Pública e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), a centralidade do movimento neste momento deve ser a reposição das perdas salariais, igualdade entre aposentados e ativos e o pagamento de adicionais de titulação para servidores de nível médio. “Isso para evitar distrações com discussões sobre a reestruturação de carreira, que necessitam de debate com cautela e tempo para serem desenvolvidas, o que seria irrelevante no contexto atual sem a garantia de reposição”, avaliou.

Francisco Pedra durante assembleia dos servidores da Fiocruz – Foto: Divulgação

Francisco destaca a necessidade de os servidores pressionarem o governo, mobilizando as bases, para garantir que sejam cumpridas as promessas de campanha do presidente Lula, que visavam reconstruir o Brasil destruído pelo bolsonarismo. “Ao invés de dar dinheiro para a indústria, para o emprego, para o salário, para modernizar a economia e devolver o país, estão dando dinheiro para os bancos e cortando o orçamento”, disse, em referência ao anúncio feito por Haddad de cortar R$ 15 bilhões do orçamento federal.

“Isso vai gerar uma insatisfação popular cada vez maior, que vai servir de caldo de cultura para o fascismo se criar e derrubar o governo novamente. A Argentina seguiu esse caminho, da conciliação com o capital financeiro radical, com o povo prejudicado, e o fascismo derrubou”, alertou.

O pesquisador ressalta ainda que a indústria de biofármacos é uma das importantes áreas de atuação da Fiocruz, que “está chegando à cesta mais rentável do mundo”.

De acordo com informações da Associação dos Servidores da Fiocruz (Asfoc), os trabalhadores também devem se manifestar na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que começou nesta terça-feira (30) em Brasília, e no Dia Nacional da Saúde, no próximo dia 5 de agosto.

Fonte: https://horadopovo.com.br/com-salarios-defasados-servidores-da-fiocruz-rejeitam-proposta-e-realizam-paralisacao-de-24-horas/