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O presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente (Fenatema) e do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Eduardo Annunciato, o Chicão, falou sobre as interrupções no fornecimento de energia elétrica na cidade de São Paulo e denunciou que o apagão é resultado do sucateamento da distribuição energética no estado, desde a privatização da Eletropaulo. A declaração foi feita em entrevista ao canal “Faixa Livre”, no Youtube.
De acordo com Chicão, desde a privatização não se investiu em quandro mínimo de pessoal, o que reduziu drasticamente a qualidade dos serviços. “Na época, a gente falou que deveria haver o quadro mínimo funcional, mas eles deixaram para o mercado decidir como tocaria a empresa em relação às pessoas. Esse foi um gargalo, um problema muito sério porque o capital especulativo quando entra, ele quer lucro”, completou.
Chicão lembra que quando privatizaram a Eletropaulo, a promessa foi a mesma que o governo Tarcísio usou para privatizar a Sabesp, de que a tarifa iria reduzir e que aumentaria a qualidade do serviço. “Aconteceu exatamente o oposto: a qualidade do serviço caiu ao longo do tempo e o preço da tarifa subiu acima da inflação, chegando a quase 300% acima da inflação de 1998 até aqui. Ou seja, quem paga a conta em São Paulo paga três vezes mais do que deveria estar pagando em relação ao que era antes da privatização. E a qualidade está aí. As pessoas estão sem energia e pagando conta alta. Tarcísio privatizou a Sabesp e eu estou avisando: vai ter problema daqui a cinco, seis anos, com água em São Paulo como estamos tendo com a energia”, afirmou.
O sindicalista destacou que a empresa que assume a concessão da distribuição energética tem um contrato com metas a serem cumpridas, porém as metas não são suficientes para manter o nível de qualidade de serviço, pois o capital privado está sempre em busca auferir o maior lucro possível.
“E como ela faz isso? A empresa não pode aumentar a conta de luz a custa da manutenção preventiva. Ela faz uso de subterfúgios”. “Em vez de fazer manutenção, eles põem religadores automáticos ao longo dos trechos da rede. Caros, religadores caríssimos. Gastam milhões com religadores. Isso entra como investimento e vai para a conta de luz. Por isso que a conta sobe e a qualidade não melhora. Esses equipamentos servem só para seccionar a rede. Não resolve o problema. Quando dá um problema, ele vai desligar a rede. E com isso a empresa modulou os desligamentos para atingir os índices do contrato que a Aneel determinou. Foi a lógica do sistema para ganhar mais dinheiro. Utilizam religadores e não fazem a manutenção preventiva, deixando para fazer a corretiva”, denunciou.
Com o impacto das chuvas que aconteceram na última sexta feira, com o vento forte e com a chuva, essa rede que já estava extremamente frágil veio abaixo, explica. “Agora é óbvio, vamos dividir as coisas. As árvores de grande porte que caíram atravessando de um lado da rua e atingiram a rede não é culpa da Enel. Aí tem a ver com a zeladoria da Prefeitura de São Paulo, que não foi feita. Mas as cruzetas que partiram e caíram, a cruzeta que já está podre, com a rede muito precarizada e que carece de uma manutenção preventiva que não é feita, sim”, ressaltou.
Sobre o papel da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o líder sindical foi enfático em afirmar que a fiscalização “não funciona”. Chicão destacou que a agência é orientada pelo relato das próprias empresas privadas, e não consegue dispor de recursos para fiscalização e controle. “Neste sentido, a Agência tem pouca possibilidade de regular e barrar os métodos utilizados pela concessionária para aumentar as tarifas cobradas à população à revelia da qualidade do serviço prestado. Vamos falar a verdade: é a raposa cuidando do galinheiro. A Aneel se pauta no que as empresas falam, não na realidade que o povo está passando e não fiscaliza de fato”, disse.
Ainda de acordo com o sindicalista, a diretoria do sindicato fez um processo de correr o circuito para identificar problemas. “Apresentei a proposta para o Ricardo Nunes de criar uma agência reguladora municipal em São Paulo. São Paulo tem 12,5 milhões de habitantes, é mais do que o Paraguai e o Uruguai juntos. Eu falei: justifica, prefeito, ter uma agência regulatória. Ele inclusive foi, conversou com o Lira, conversou com o ministro na tentativa de começar a organizar isso. Só que isso há um ano atrás e nada mais andou. Parece que parou a chuva e o pessoal perdeu a vontade, o ímpeto, de tentar resolver os problemas, caiu no esquecimento. E aí voltou a chover, o problema se repetiu”, concluiu.
Fonte: https://horadopovo.com.br/enel-privatizada-cortou-pessoal-e-abandonou-manutencao-preventiva-denuncia-chicao/