Leonel Brizola faleceu aos 82 anos – Foto: Reprodução
Completou nesta sexta-feira (21), 20 anos da morte do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola. Lideranças políticas e movimentos sociais brasileiros renderam homenagens ao histórico trabalhista que liderou a luta pela Legalidade, garantindo a posse do presidente João Goulart.
Berço do Trabalhismo, a histórica cidade de São Borja (RS), reuniu, nesta sexta, dezenas de lideranças e militantes para homenagear Leonel Brizola, fundador do partido e ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Na data que marcou os 20 anos da sua morte, uma série de atos foram realizados com a presença do ministro da Previdência Social e presidente nacional licenciado da sigla, Carlos Lupi.
Na alvorada, os pedetistas visitaram o cemitério municipal para reverenciar Brizola e mais dois ícones da ideologia política que transformou o Brasil no século XX: os ex-presidentes da República, Getúlio Vargas e João Goulart. Diante dos túmulos, discursos emocionados sobre o vasto legado, que geram benefícios sociais e econômicos à nação até os dias atuais.
“Vinte anos da partida de um herói da Pátria da brasileira: Leonel de Moura Brizola. Nosso líder segue nos iluminando e guiando nas trincheiras do PDT”, disse Lupi.
“É uma homenagem permanente de reconhecimento. O nosso partido está ativo para proteger o legado do Trabalhismo”, completou o líder da bancada pedetista na Câmara Federal, deputado federal Afonso Motta.
A Câmara de Vereadores promoveu, na sequência, uma sessão solene que evidenciou a inspiração gerada por Brizola para as novas gerações de lideranças trabalhistas.
“Fonte de inspiração, seguiremos preservando sua memória e fortalecendo as bandeiras do Trabalhismo, como a educação. A luta continua para proporcionar ao povo uma nação mais justa e democrática”, comentou Lupi.
O presidente estadual do partido, Romildo Bolzan, projetou a vitória na disputa pela prefeitura local como um marco simbólico para o partido, além de exaltar a importância dos ideias trabalhistas.
“Brizola, muito obrigado por tudo. Seguimos sendo liderados por você. São Borja é importante para o PDT”, comentou.
“O Brizola chamava a responsabilidade e ocupava os espaços. Seu legado está vivo aqui e por todo o Brasil. O Trabalhismo semeou avanços sociais. Após 20 anos, reverenciamos nosso líder”, acrescentou o deputado federal Pompeo de Mattos.
Entre os presentes, o líder da Bancada do PDT na Assembleia Legislativa, deputado estadual Eduardo Loureiro; o prefeito de São Sepé, João Luiz Vargas; o presidente municipal do partido, Nário Carmo, bem como vereadores, representantes de movimentos trabalhistas, lideranças e militantes.
UMA HISTÓRIA DE LUTA PELO BRASIL
Ao longo dos 82 anos de vida, o líder gaúcho participou de episódios importantes da política nacional, como a Campanha da Legalidade, em 1961, a resistência ao regime militar e corridas eleitorais como a campanha presidencial de 1989, a primeira com voto direto após a ditadura.
Leonel Brizola fez história no país. No Rio Grande do Sul, foi prefeito de Porto Alegre, deputado estadual, deputado federal e governador. No Rio de Janeiro, deputado federal e duas vezes governador.
Brizola fez parte da vida pública brasileira durante toda a segunda metade do século 20. O currículo só não foi mais extenso porque passou os primeiros 15 anos da ditadura militar no exílio. Vítima de enfarte, ele morreu em 21 de junho de 2004.
Brizola nasceu numa família pobre de Carazinho (RS) em 1922. Ele governou o estado entre 1959 e 1963. Entre os legados de seu mandato, ficaram muitas escolas públicas e um programa de reforma agrária.
Em 1961, o senador Guido Mondim (PRP-RS) citou num discurso que 2.000 escolas públicas haviam acabado ser inauguradas em seu estado num mesmo dia: “Realização do governador e engenheiro Leonel Brizola. Foram contratadas 12.370 professoras. Esperamos ver 1,3 milhão de crianças matriculadas em 1962. Portanto, nenhuma criança gaúcha sem escola”.
Nacionalista, o governador denunciava os abusos cometidos pelo “capital estrangeiro” e determinou a encampação (apropriação) de duas empresas americanas que ofereceriam serviços de eletricidade e telefonia no estado.

CAMPANHA DA LEGALIDADE
O episódio que o levou aos livros de história foi a Campanha da Legalidade, em 1961. Não fosse essa iniciativa de Brizola, é provável que João Goulart, o Jango, jamais tivesse chegado à Presidência. Logo após a renúncia do presidente Jânio Quadros, uma tentativa de golpe impediu a posse de Jango, o vice, por considerá-lo excessivamente de esquerda e aliado dos comunistas.
Governador gaúcho, Brizola deflagrou em Porto Alegre uma reação armada, a Campanha da Legalidade, que garantiu a posse do vice, impedindo o golpe de Estado.
Em 1962, foi o deputado mais votado do País, pelo Rio de Janeiro. Brizola, do PTB, de um lado, e Carlos Lacerda, do outro, pela UDN, disputavam a hegemonia por um modelo de País. Lacerda e os militares venceram, em 1964, e Brizola foi cassado. Exilado no Uruguai, foi de lá expulso em 1977, indo viver depois nos Estados Unidos e depois em Portugal.
Ele retornou ao País com os anistiados de 1979. Como a sigla PTB havia sido “tomada” dele, Brizola fundou um novo partido, o Partido Democrático Trabalhista, PDT. Pelo PDT ele governou por duas vezes o Rio, em 1982 e em 1990. Tentou duas vezes a Presidência, perdendo para Fernando Collor em 1989 e para Fernando Henrique Cardoso em 1994. Amargou uma terceira derrota em 1998, como vice de Luiz Inácio Lula da Silva.
Brizola também foi o único político a ser eleito governador de dois estados diferentes. Ele também esteve à frente do Rio de Janeiro de 1983 a 1987 e de 1991 a 1994.
No primeiro mandato, deu ênfase à educação. Sua grande vitrine foi o Centro Integrado de Educação Pública (Ciep). Projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, os Cieps foram escolas públicas que ofereciam aulas o dia inteiro. Foi essa ação que deu início ao debate público no Brasil sobre o ensino integral.
No segundo mandato no Rio de Janeiro, Brizola foi pioneiro em políticas públicas para a igualdade racial. Ele criou a Secretaria de Defesa e Promoção das Populações Negras e a confiou ao histórico militante Abdias Nascimento.
Numa audiência pública no Congresso Nacional no início dos anos 1980, o governador disse: “O Brasil não terá caminho fora de uma visão de democracia social. E, quando falamos em democracia social, falamos em socialismo, em liberdade, em busca de uma sociedade igualitária, mais justa”.
Veja o vídeo:
Fonte: https://horadopovo.com.br/homenagens-marcam-os-20-anos-da-morte-de-leonel-brizola/