Lançamento do documentário no Teatro Sérgio Cardoso – Foto: César Ogata
Nascido da vontade de saber mais sobre a vida das pessoas negras que vivem no bairro, desde os tempos do Quilombo do Saracura até os dias atuais o projeto “Negros do Bixiga” atingiu um importante marco neste mês de junho com o lançamento do primeiro documentário registrando as falas daqueles que construíram e constroem um dos bairros mais tradicionais da capital paulista.
O lançamento do documentário “Negros do Bixiga” lotou um dos maiores teatros de São Paulo, o Teatro Sérgio Cardoso, com mais de 800 moradores do bairro sentindo-se representados numa tela de cinema, vendo as suas histórias sendo compartilhadas com o público.
Idealizador do projeto, Wellinton Souza, explica que “Negros do Bixiga” representa a “importância de preservar a história de homens e mulheres negros enquanto ainda estão vivos, permitindo que suas histórias sejam contadas por eles mesmos. Além disso, o projeto visa combater o apagamento sistemático das histórias e memórias do povo negro”.
A luta pela preservação da memória dos moradores do bairro sempre se fez necessária. Enquanto há a tentativa de apagar o papel da população negra na construção do bairro, a presença dos imigrantes italianos é valorizada. Assim como ocorre nas demais regiões de São Paulo, o registro histórico dos negros tornou-se secundário.
“O projeto surgiu da vontade de contar histórias. Mas não qualquer história, e sim, a história de pessoas negras, que sofrem sistematicamente com o apagamento de suas origens, crenças, costumes e, é claro, sua história. A importância de narrar as histórias de pessoas negras está na valorização de suas contribuições culturais e na resistência contra a narrativa dominante que frequentemente marginaliza suas origens e tradições. Baseadas em suas histórias de vidas”, ressaltou Wellington.
“A ideia surgiu em novembro de 2018, quando pensamos em realizar uma atividade para falar sobre o Mês da Consciência Negra. Decidimos focar no Bixiga bairro histórico que já foi um quilombo. Nosso primeiro convidado foi Fernando Penteado, uma figura importante por suas raízes no Quilombo Saracura, uma comunidade que desempenhou um papel crucial na história da resistência negra. Ele também pertence a uma das famílias fundadoras da escola de samba Vai-Vai”, completou.

Segundo Wellington, o lançamento do filme no Teatro Sérgio Cardoso foi especial. “O lançamento no Teatro Sérgio Cardoso, um símbolo cultural no Bixiga e um dos teatros mais importantes de São Paulo, foi incrível”.
“Ver o teatro lotado em uma segunda-feira foi indescritível. A energia do público era palpável; eles saíram do evento eufóricos e felizes, o que nos deixou profundamente emocionados e gratos. Este momento marcou um grande passo para o nosso projeto, consolidando a importância das histórias que estamos contando”, celebrou.
Wellington destaca ainda que o objetivo do grupo é dar continuidade ao projeto, registrando as falas da população e exibindo o filme “em todos os lugares possíveis, incluindo escolas, universidades, centros culturais e festivais de cinema”.
“Queremos que o filme seja acessível a diversas audiências e que inspire outras comunidades a contar suas próprias histórias. Acreditamos que, ao ver nosso projeto, outras comunidades se sentirão encorajadas a documentar e compartilhar suas próprias narrativas”, afirmou.
“O próximo passo é captar recursos para a edição das entrevistas com os primeiros convidados de 2018 e 2019. Planejamos realizar campanhas de financiamento coletivo, buscar patrocinadores e estabelecer parcerias com instituições culturais. Essas ações são essenciais para garantir a continuidade e expansão do nosso projeto, permitindo-nos dar voz a mais histórias e fortalecer nossa missão de preservação e valorização da cultura negra”, finalizou o bixiguento.
Fonte: https://horadopovo.com.br/negros-do-bixiga-documentario-da-voz-aos-moradores-do-bairro-no-centro-da-cidade-de-sao-paulo/