Pastores criticam “PL do Estuprador” e “ala político-religiosa que age sorrateiramente”

Ministro Silvio de Almeida participou do encontro “Conversas Pastorais” com pastores e líderes evangélicos – Foto: Reprodução/IBAB

Durante encontro com o ministro Silvio de Almeida, religiosos saudaram diálogo com o governo e repudiaram PL bolsonarista que persegue vítimas de estupro

Durante evento da Igreja Batista da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, na sexta-feira (21), ao discursar, lideranças religiosas criticaram a manipulação, por parte de um segmento evangélico com “ambições escusas” que “age sorrateiramente”. 

“Esse povo foi descoberto por uma ala político-religiosa com ambições escusas. Eles aprenderam nossas linguagens e enredaram sorrateiramente as mentes das massas”, disse Zé Marcos Silva, pastor de Coqueiral (PE), em uma alusão a pretensos religiosos como Silas Malafia, ferrenho apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

O evento “Conversas Pastorais” reuniu pastores e líderes evangélicos e contou com a presença do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Sílvio Almeida, cuja participação atraiu fiéis de outras igrejas e o público em geral ao encontro.  Entre os pontos citados no ato religioso, estavam: o direito à educação, o combate ao racismo e à violência contra a mulher e direitos para população carcerária e de rua.

Continuando, Zé Marcos disse ao ministro que os evangélicos esperam “um sinal como este há no mínimo 20 anos”. “O povo evangélico desse país espera um sinal como este há no mínimo 20 anos, ministro. Nós fomos abandonados no recanto mais sombrio do mundo da política (….)”.  “Os direitos humanos são um ponto em comum entre a política e a religião” quando “ambas são sérias, e Deus posicionou o senhor exatamente nesta bifurcação”, afirmou. 

Em sua fala, com menções a passagens bíblicas, Almeida destacou a ligação do cristianismo com os direitos humanos. “Um verdadeiro cristão pode odiar os oprimidos? Pode um verdadeiro cristão odiar os que vivem ameaçados, os que vivem com fome, odiar os que vivem com medo de serem espancados?”. “[…] Pode a religião que cultua um homem que morreu torturado defender aqueles que andam com camisetas com o nome de um torturador?”, questionou, conquistando aplausos do público. 

O ministro criticou também a tramitação na Câmara dos Deputados do Projeto de Lei 1904, conhecido como PL do Aborto ou PL do Estupro. “Quem defende uma polícia violenta não é amigo dos policiais, é inimigos dos policiais, porque está em engano. Está envenenado pela ideologia do ódio quem quer que uma mulher que foi estuprada seja presa”, afirmou. 

COAM MOSQUITO E ENGOLEM CAMELO

Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista, responsável pelo convite para o ministro discursar no encontro, também criticou o PL. “Vocês têm uma ética seletiva. Coam mosquito e engolem camelo. Querem colocar na prisão meninas de 13 anos que praticaram aborto depois da 22ª semana, mas diante da realidade do Brasil isso é um mosquito”, disse. 

Kivtz foi uma das poucas lideranças evangélicas a se pronunciar publicamente contra à reeleição de Bolsonaro. Sua igreja é conhecida no meio evangélico por ser mais progressista. “Jesus está dizendo ‘vocês estão coando mosquito e engolindo camelo. As ruas de vocês estão ensanguentadas. A infância de vocês está abandonada. Os pobres de vocês estão à míngua, e vocês fazendo jogo político e disputa de poder brincando com vidas humanas’.”

O líder batista também citou os fiéis que encampam o radicalismo presente no discurso da extrema-direita. “A religião fundamentalista não se sustenta. A religião legalista, hipócrita, mentirosa, desumana não se sustenta”, afirmou. 

Em vídeos postados nas redes, o pastor chamou a bancada evangélica do Congresso de “cambada evangélica”, numa crítica aos representantes de evangélicos e protestantes na principal Casa Legislativa do país.

Kitz, que vem ampliando sua audiência na Internet, desperta a ira de líderes evangélicos conservadores e alas bolsonaristas por sua visão progressista do mundo. Ele condena, por exemplo, “a violência que o bolsonarismo trouxe ao Brasil” e defende tratamento inclusivo à comunidade LGBT+.

Por sua vez, a pastora Regina Célia Barbosa defendeu a necessidade ações para enfrentar a “violência institucional”, situações em que a vítima é submetida a episódios de agressão moral por parte de agentes públicos. Um exemplo disso é o caso Mari Ferrer, em 2020. 

Durante audiência no Tribunal de Justiça de SC (TJ-SC), a jovem foi humilhada pelo advogado do empresário que a estuprou. O juiz Marcos Hudson, que conduzia a sessão, nada fez para repreender o agressor. O episódio levou à edição da lei Mari Ferrer, em novembro de 2021. A norma pune ‘atos contra a dignidade de vítimas de violência sexual e das testemunhas do processo durante julgamentos’. 

“É necessário também investir em formação de combate à violência institucional. É assíduo, ministro, é algo que vai em todas as redes de comunicação, porque está havendo muita homofobia, transfobia, racismo, violência contra a mulher. E nós, que somos uma igreja viva, que serve a Jesus de Nazaré, fazemos o acolhimento, e o mundo desacolhe, a gente faz o acolhimento, e o Estado desacolhe”, defendeu a religiosa. 

Fonte: https://horadopovo.com.br/pastores-criticam-pl-do-estuprador-e-ala-politico-religiosa-que-age-sorrateiramente/