Tatuagem no corpo de uma das vítimas resgatadas em condição análoga à escravidão, em Minas Gerais, com as iniciais de dois dos empregadores – Foto: Auditoria-Fiscal do Trabalho/Divulgação
Uma operação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em parceria com Ministério Público do Trabalho (MPT), da Polícia Federal (PF) resgatou duas pessoas submetidas a condições análogas à escravidão na cidade de PLanura, na região do Triângulo Mineiro (MG). A operação realizada entre 8 e 15 de abril foi desencadeada a partir do Disque Denúncia (Disque 100), com relatos de violações de direitos humanos.
Os relatos indicavam sinais de trabalho forçado, cárcere privado, exploração sexual e violência física e psicológica. As vítimas resgatadas eram um homem homossexual e uma mulher transgênero. As vítimas foram traficadas para a região e submetidas a jornadas exaustivas, sem remuneração e mantidas em condições precárias de moradia.
Os aliciadores usaram as redes sociais para contactar pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e afetiva, prometendo falsos postos de trabalho e acolhimento. As abordagens exploravam principalmente membros de comunidades LGBTQIAPN+, com o objetivo de estabelecer vínculos de confiança e, posteriormente, submetê-los a condições abusivas e degradantes.
O homem, de 32 anos, foi mantido por aproximadamente nove anos como empregado doméstico, sem registro em carteira, sofrendo violência física, sexual e psicológica. A equipe constatou que o homem foi obrigado a fazer uma tatuagem com as iniciais dos aliciadores, como símbolo de posse.
De acordo com o Auditor Fiscal do Trabalho, Humberto Monteiro Camasmie, o homem foi submetido a violências sexuais registradas em vídeo e utilizadas para chantageá-lo e não permitir a fuga ou denúncia. “O próprio resgatado contou que antes de vir do nordeste um outro empregado, que havia sido traficado, fugiu depois de um tempo”, contou o Auditor.
A mulher trans, 29 anos, foi levada ao local por meio de falsas promessas e submetida a um vínculo de trabalho doméstico informal sem salário adequado e sob constante ameaça e intimidação.
Durante o período em que esteve na casa dos empregadores, chegou a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), possivelmente causado pelo estresse e pelas violências presenciadas. A mulher trabalhava em troca de alimentação e alojamento.
A Polícia Federal efetuou a prisão em flagrante de três homens identificados como empregadores. Eles foram autuados pelo crime de tráfico de pessoas para fim de exploração de trabalho em condição análoga a escravidão.
As vítimas estão sendo acolhidas pela Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pela UNIPAC, que oferecem assistência médica, psicológica e jurídica.
Fonte: https://horadopovo.com.br/pf-prende-tres-por-trafico-de-pessoas-e-trabalho-analogo-a-escravidao-vitima-foi-marcada-com-tatuagem/