Professores foram chamados de “vagabundos” durante a votação na última terça-feira. (Sinpeem)
Os servidores da educação municipal de São Paulo, em greve desde o dia 15, divulgaram uma “Carta aberta à população” denunciando a violência cometida por vereadores contra os professores que acompanharam a votação do PL sobre o reajuste da categoria na última quarta-feira (23).
No documento, assinado pelo Sindicato Especialistas Ensino Público São Paulo (Sinesp), o Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem) e o Sindicato dos Educadores da Infância (Sedin), as entidades manifestam indignação com declarações e o descaso do prefeito e vereadores da base, que chamaram os professores de vagabundos.
“É com profunda indignação e revolta que nos dirigimos ao povo paulistano, que também sofre com as consequências do descaso do prefeito e da maioria dos vereadores(as) que o apoiam, para denunciar o comportamento vergonhoso, imoral e completamente incompatível com a função pública que ocupam. Eleitos para fiscalizar e legislar, agem em benefício próprio e assistem passivos e submissos a tudo. Enquanto a população enfrenta as dificuldades cotidianas impostas pela desigualdade, pela precariedade nos serviços públicos e pelo abandono das políticas sociais, especialmente nas áreas de educação, saúde, moradia, assistência social, transporte e segurança, estes(as) parlamentares, apoiadores do governo, que deveriam zelar pelos interesses coletivos, optam por nos atacar, ofendendo servidores(as) públicos, nos chamando de vagabundos(as) em plena tribuna da Câmara Municipal”, afirmam na carta.
Da mesma forma, os professores criticaram os vereadores da base que aumentaram seus próprios salários em 37%, enquanto os trabalhadores do serviço público municipal recebem míseros 2,6%. “Nossas escolas sofrem com falta de infraestrutura, profissionais mal pagos e sobrecarregados, ambientes inadequados para bebês, crianças, adolescentes e jovens que têm, sim, o direito à educação pública de qualidade”, continua a carta.
“Nós, profissionais de educação, demais servidores públicos, bem como toda a população, exigimos sobriedade, respeito e atuação competente e responsável dos vereadores(as). Chega de desrespeito! Chega de privilégios! Que a população esteja atenta, vigilante e preparada para cobrar, denunciar e lembrar, na próxima eleição, quem está ao lado do povo e quem sempre esteve contra ele. Por uma São Paulo justa, democrática e com educação e serviços públicos de qualidade para todos!”, afirma a carta.
GREVE
Os profissionais da educação decretaram greve na semana passada, após rejeitarem a proposta do governo municipal de reajuste anual de 2,6%, a partir de 1º de maio de 2025, e de 2,55%, a partir de 1º de maio de 2026.
A manifestação da última terça unificou os sindicatos que representam os cerca de 70 mil profissionais, que reivindicam que o reajuste dos salários não seja inferior à inflação anual acumulada.
Além disso, os servidores municipais cobram: a incorporação aos salários dos 44% pagos como abono complementar de pisos salariais para ativos e aposentados da educação; o fim dos 14% de contribuição previdenciária, considerada desproporcional pela categoria; a redução de jornada de trabalho para profissionais de outras categorias da educação, como inspetores e merendeiras; e melhores condições de prevenção à saúde.
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ESCOLAS PRECÁRIAS
Em denúncia feita pelas redes sociais, a diretora da EMEI Patrícia Galvão, Sandra Regina da Silva Brugnoli Bouças, denunciou, além da situação precária da escola, a ocorrência de uma visita intimidadora por parte da Diretoria Regional de Ensino do Ipiranga, durante a greve, “dizendo que receberam uma denúncia de que a EMEI não estava ‘funcionando direito’ e que com a gestão e a supervisão em greve, não tinham pessoas responsáveis pela escola”.
“Solicitaram o livro ponto para que pudessem anotar a quantidade de pessoas que estavam ou não em greve. Trouxeram os nomes das pessoas contratadas para saber se estavam trabalhando. Não fizeram um termo de visita e foram embora depois de caminharem pelos espaços da escola.
Venho, por meio deste texto, expressar a mais profunda indignação diante do ocorrido, pois temos vivenciado as piores condições de trabalho no prédio em que fomos alocados, o que tem gerado atendimento muito distante do que poderia ser considerado dentro de padrões normalizados, mas é no período de greve que recebemos uma visita para a identificação de que a ‘Unidade não está funcionando direito’.
A nossa escola não está atendendo a comunidade de acordo com os direitos prescritos na legislação porque o espaço não atende às necessidades da Educação Infantil, as crianças matriculadas contam com salas apertadas, sem iluminação adequada, uma casa que impede a plena mobilidade, pois seus acessos são por grandes escadas. A cozinha da Unidade é desprovida das mínimas condições básicas para as profissionais, bem como o refeitório que só comporta uma única turma por vez que já se constitui de poucas crianças. O TEG teve início somente no dia 04/04/2025, fazendo com que quase 40 crianças ficassem por dois meses sem acesso à escola. Não temos espaço para guardar os materiais pedagógicos, estamos sem o administrativo neste espaço, pois não temos internet, o que nos obriga a rotear a internet de nossos celulares para questões gerais, sendo impossível acessar os sistemas da Rede, o que nos faz ter que administrar nossos tempos e espaços de trabalho entre dois prédios. Ela também não tem garantido direitos à salubridade das crianças e pessoas adultas trabalhadoras quando, diante de um problema estrutural, vaza esgoto pelos vasos sanitários dos banheiros já interditados toda vez que as cozinheiras lavam a louça na cozinha, gerando odores insuportáveis.
Pois bem, como podemos identificar, a EMEI Patrícia Galvão não está cumprindo com a sua função social, mas não é a greve a causadora de tal situação; pelo contrário, a greve tem tentado, como limite no jogo de negociações, apresentar ao Poder Público e aos seus representantes, as condições a que estamos submetidos/as todos/as e que não vamos nos silenciar diante delas.
Como tenho dito, esta greve não tem como pauta única a questão salarial. Ela é, antes de tudo, uma tentativa de defesa da escola pública”, relata a diretora.
Fonte: https://horadopovo.com.br/servidores-de-sp-denunciam-violencia-de-vereadores-e-descaso-da-prefeitura-durante-greve/