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Desmatamento cai no Brasil em 2024, mas Matopiba se destaca negativamente. Amazônia melhora, mas região concentra 75% do desmate no Cerrado
O Brasil bem que poderia estar festejando que o desmatamento de florestas e outros importantes biomas, com ênfase especial para a região amazônica, sofreu uma significativa queda nesse último ano de 2024, conforme dados revelados pelo Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD). O documento aponta que a diminuição das áreas desmatadas nos seis biomas observados foi de 32,4%, indicando que 2024 é o segundo ano consecutivo de queda nos desmatamentos, pois em 2023 a diminuição já havia sido de 11% comparada a 2022.
Mas alguma coisa veio atrapalhar o entusiasmo do Governo Lula, de dirigentes e técnicos do IBAMA- esse órgão essencial na preservação dos nossos ambientes naturais, que voltou a funcionar sob respeito dos governantes, com liberdade de atuação, ante o sucateamento e desqualificação imposto a esse órgão, por ações promovidas pelo governo anterior.
Mas para tristeza do Nordeste, a má notícia vem exatamente da nossa região, mais precisamente da última e mais importante fronteira agrícola do país, o Matopiba, concentrada nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Segundo o estudo, enquanto na Amazônia a queda dos desmatamentos alcançou o importante nível de 54%, a Matopiba passou em 2024 a concentrar 75% de todo o desmatamento do Cerrado e essa destruição da natureza já representa 42% da perda total da vegetação do país.
Somando Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia ao Pará, esses cinco Estados, que constituem um misto de Nordeste, Norte e Centro-Oeste, são responsáveis por 65% da área desmatada no Brasil em 2024. Para se ter uma ideia do tamanho da perda de vegetação, mesmo o Maranhão reduzindo 34,3% o seu próprio desmatamento em comparação com 2023, ainda assim foi o que mais desmatou no ano passado, com 218.298,4 hectares devastados.
Classificado como um território especial e apontado como a última fronteira agrícola do Brasil, Matopiba é uma imensa área que tem se caracterizado pela expansão da agricultura nos últimos anos, em especial de soja e milho. É a região que mais cresce em área plantada no país: a previsão é que chegue a 8,9 milhões de hectares até o final de 2030, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária.
Por se tratar da última, e, portanto, da mais nova fronteira agrícola do país- que surge numa etapa em que o mundo e o Brasil aproveitam-se de novas e avançadas tecnologias de atuação no campo-, era de se esperar que os empreendedores das produções agrícolas dessa região chegassem também revestidos da disposição de adotar práticas de uso da terra menos predatórias, mais adequadas à cruel realidade de desequilíbrio ambiental e de riscos climáticos que têm assustado todas as partes do universo e feito estragos irremediáveis.
Mas não é isso que se vê acontecer.
Embora haja motivos suficientes para celebrar a queda dos desmatamentos nos seis biomas verificados, nesses anos de 2023 e 20224, com destaque para a Amazônia, é impossível não lembrar o horror que significa o fato de que o país, em seis anos apenas, destruiu vegetação equivalente a todo o território da Coreia do Sul, o equivalente a 9.880.551 hectares. E conforme os dados da rede MapBiomas, somente na Matopiba a destruição alcançou, entre 2023 e 2024, 1,38 milhão de hectares de terras (ou 13.820 km²) desmatados.
Nas regiões Norte e Centro-Oeste, sobretudo, mais de 97% de toda a perda vegetal nativa brasileira, nos últimos seis anos, ocorreu por conta da agropecuária, segundo consta do relatório do Desmatamento.
Na Amazônia, 99% dos atuais desmatamentos são praticados pelo garimpo ilegal que está tomando conta da região de modo brutal, assaltando terras em áreas de reservas, especialmente de territórios indígenas, tocando o terror na região, com mortes, expulsões e perseguições diárias aos povos originários do país.
Vê-se, pelo Relatório do Desmatamento que, nessa questão, o Brasil conta hoje com dois graves problemas: o avanço das organizações criminosas sobre a Amazônia, e a falta de regras dos exploradores do Matopiba, que estão assumindo a liderança dos desmatamentos para plantio de importantes produtos agrícolas, como soja e milho. Mas sem controle, deixando tudo ao gosto apenas do explorador, as consequências são essas que estamos vendo. E isso precisa mudar.