“Como nasce um miliciano”, um livro esclarecedor da tragédia urbana no Rio

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Entenda a origem da violência urbana no Rio com o livro ‘Como Nasce um Miliciano’. Ex-policiais, milícias e o controle sobre comunidades

No seu recém-lançado livro “Como Nasce um Miliciano”, a jornalista e escritora Cecília Oliveira, lança um pouco de luz para nos fazer entender a violência urbana no Brasil, com foco especial no Rio de Janeiro, onde grupos armados assumiram um vasto e continuado avanço sobre as comunidades mais pobres da antiga Capital, tomando de vez o papel do Estado.

Grupos armados originários das forças de segurança oficiais tornaram os moradores cada vez mais aprisionados, reféns de um modelo criminoso e exterminador.

Partindo do fato de que os grupos milicianos têm sua formação básica dentro do próprio Estado, bancada com recursos públicos que seriam destinados ao bem-estar social, a autora dá todo o caminho, citando exemplos reais de como ex-integrantes da Polícia Militar e muitos também da Polícia Civil, após receberem toda a qualificação no manuseio de armas e táticas de inteligência, derivaram-se para a criminalidade, formando grupos milicianos que, a princípio, eram vendidos como alternativa de segurança às populações diante de crescente fragilidade e redução de poder dos organismos oficiais de proteção à cidade.

Os milicianos adotam as mesmas táticas das utilizadas pelas máfias, garantindo carimbo com sua proximidade e relação com o Estado. Por isso, o mesmo funcionário público que recebe treinamento e usa armas e munições para a defesa dos cidadãos, passa a usar essa estrutura para uso privado e cometimento de crimes. A ligação dos grupos milicianos, deste modo, tornou-se intrínseca entre a estruturação pública e as encomendas de morte.

A partir do descaminho dentro das polícias, esses elementos passaram a mudar a forma de ganhar dinheiro, submetendo comunidades pobres suscetíveis à violência ao cerco permanente em torno de segurança pessoal, com cobrança de taxas,  venda de gás, oferecimento de gatonet, ações que passaram a ser vistas por setores políticos como “mal-menor”, daí registrando-se aumento frequente desses grupos.

Daí, até ingressarem no mercado imobiliário, foi um pulo. Esse foi o último e vantajoso passo para que as milícias expandissem suas explorações financeiras. E o lucro obtido nesses negócios, quase sempre ilíticos, é investido na guerra do tráfico de drogas, o que vem tornando o Rio de Janeiro uma cidade de difícil convivência.

Basta ver o resultado da atuação das forças do Estado (algo que não tem sido comum acontecer). Entre os anos de 2021 e 2022, mais de 1.300 construções irregulares ligadas às milícias foram demolidas na cidade, causando um baque financeiro superior a R$ 650 milhões aos criminosos.

Essa estrutura empresarial das milícias, que permite controle de comunidades e imposição   de poder de violência, tornou-se quase imbatível nesse casamento entre a indústria imobiliária, na qual ingressaram para valer, e o controle sobre o mundo das drogas.

As conclusões a que Cecília Oliveira chega no seu livro não são nada alentadoras.

Ela entende que é preciso uma reforma política e das polícias, muito severa, que o Poder Judiciário deixe de ser seletivo e moroso, que o Ministério Público trabalhe seriamente no controle das polícias, hoje algo praticamente inexistente, e que os organismos governamentais de controle financeiro atuem de forma mais competente e veloz para impedir o despejo de dinheiro sujo na manutenção da criminalidade.