Foto: Daiane Mendonça –
Em São Paulo, desde 2020, foram quase 3.500 pedidos de afastamento motivados por questões de saúde mental
A enorme e crescente pressão que dirigentes de organismos de segurança pública têm exercido sobre os integrantes das forças policiais, vêm causando um dano significativo à saúde mental de policiais militares em diversos Estados brasileiros. Dados extraídos de relatórios de entidades dedicadas a observar o comportamento das Polícias Militares, Polícias Civis e Corpo de Bombeiros, e colhidos também por órgãos de imprensa através dos sistemas de Leis de Acesso à Informação revelam um quadro preocupante.
Maior gravidade acontece no mais populoso Estado da Federação, São Paulo, onde a Polícia Militar acumula, desde 2020, quase 3.500 pedidos de afastamento motivados por questões de saúde mental. Foram 653 licenças por motivos psiquiátricos só no ano passado, numa média que se aproxima de quase dois casos por dia. Registra-se com maior preocupação o fato de que os afastamentos por necessidade de tratamento psiquiátrico vêm numa onda crescente. Basta verificar que, ante os 3.500 casos agora coletados, no ano de 2020 haviam sido apenas 476 solicitações.
Os relatórios apontam que o número de afastamentos psiquiátricos nos três primeiros meses deste ano de 2025 expressam uma intensificação do fenômeno, pois se mantido o ritmo dos 206 casos registrados até 31 de março, será batido o recorde de 800 licenciamentos no ano, bem superior às 653 licenças do ano passado. Mais da metade dos policiais afastados por problemas psiquiátricos( 57%), foi diagnosticado com alto nível de depressão e ansiedade, condições incompatíveis com as funções que exercem junto à população.
Outro fenômeno decorrente da pressão desenvolvida a partir do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite- , de preparar uma PM pronta para o enfrentamento e disposta a matar, conforme a imprensa tem revelado e as entidades de acompanhamento vêm demonstrando-, está nos pedidos de exoneração, que têm se acentuado em proporções semelhantes aos afastamentos por questões psiquiátricas.
Apenas no ano de 2024, em meio a inúmeros e ruidosos casos de violência policial em São Paulo, que tomaram conta do noticiário e inundaram de críticas o governador paulista e seu secretário de segurança, nada menos do que 659 agentes policiais decidiram abandonar as fileiras da Polícia Militar. No ano passado, ocorreram as maiores baixas por desligamento voluntário de toda a história da PM, com acentuada participação, nessas baixas, de soldados de primeira classe, apontando para uma extremada insatisfação dentro da corporação.
A dramática situação determinada pela pressão externa, comandada pelo secretário Derrite, além dos adoecimentos psiquiátricos e dos desligamentos voluntários que crescem na PM paulista, há outra realidade absurda a ser encarada:
Só em 2024 foram registradas 760 mortes cometidas por policiais militares do estado , segundo dados do Ministério Público. O número foi estabelecido por um levantamento do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público (Gaesp-MPSP).
Na outra ponta, essa PM que passou a ser construída para estabelecer o enfrentamento custe o que custar, em outras palavras, pronta para matar, está vendo também crescer o número de policiais mortos em pleno exercício de suas atividades. Somente em 2024, foram assassinados 14 integrantes da Polícia Militar, ante 6 que morreram em 2022.
Os dados apresentados por pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública , encomendada pelas Nações Unidas, atestam que sob a gestão de Tarcísio de Freitas, o número de óbitos entre policiais militares cresceu 133%.