Surpresa pode levar um poeta ao lugar do papa Francisco no Vaticano

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A sucessão do Papa Francisco gera disputas acirradas no Vaticano. Cardeal José Tolentino de Mendonça, o “Poeta do Papa”, surge como um candidato surpresa, com sua visão progressista e humanista

A escolha do novo comandante da Igreja Católica, nessa árdua tarefa de substituir o Papa Francisco, morto na última segunda-feira, torna-se uma disputa acirrada e incerta, ante as tendências existentes dentro do próprio cardinalato, movido por questões temporais que terminam influenciando as decisões de cada um, muitas vezes gerando posições antagônicas sobre o que pensam e o que desejam para o futuro dessa centenária instituição.

Há os que guardam na memória e no coração a passagem de Francisco nesses 12 anos de Papado, determinante para marcar conquistas avançadas sobre o mundo e suas terríveis diferenças e desigualdades, adotando, com seu espírito conciliador,   mas notavelmente corajoso, uma atitude severa na cobrança de soluções para   fome, a miséria, as crescentes desigualdades, o enriquecimento desproporcional e injusto de alguns, as tragédias ambientais causadas pelo próprio homem, e a existência de um número nunca presenciado de conflitos armados mortais.

Há, por outro lado, os que gostariam de ver uma Igreja mais conservadora- o oposto do que Francisco conduziu nessa sua trajetória agora encerrada-, voltada mais para orações, a espiritualidade, afastada das crescentes angústias que dominam o mundo, mais controladora das questões de costume, como aborto, divórcio, homossexualidade, do papel da mulher.

O que parece não caber muita dúvida é que será quase impossível esse conjunto de cardeais que começa a se reunir em Roma, venha  tomar a decisão de escolher um novo Papa com visão oposta ao papel profundamente elevado de humanismo que Francisco imprimiu em sua passagem.

Sempre coberto pela humildade, mas tendo sem esmorecer a coragem de enfrentar os desafios do mundo com altivez, Francisco foi de uma sensibilidade raramente vista em chefes da Igreja para voltar-se às questões mais dolorosas dos nossos tempos, olhando para países historicamente esquecidos da Ásia, da África e das Américas, regiões desinteressantes para governantes das grandes potências políticas e econômicas ao longo da história.

Ele teve coragem, vontade, e instrumentalizou seu trabalho para aproximar a Igreja cada vez mais dos pobres e das periferias do mundo. Daí, a explicação de ter sido o único papa a dar atenção à áfrica, visitando 10 países em duas longas e proveitosas viagens.

Quando o Cardeal Jorge Mario Bergolglio, então Arcebispo de Buenos Aires, juntou-se aos 150 outros cardeais, em 2013, para a escolha do papa que substituiria Bento XVI, seu nome passava longe dos favoritos, não figurando nas listas de apostas. Mas o seu perfil de elevada humanidade, sensibilidade, visão de mundo, desapego material e cobiça por poder, tudo mantido sob um manto de humildade pouco visto, foi aos poucos chamando a atenção e já no terceiro escrutínio ele já espontava como o preferido do cardinalato.

O que ocorrerá agora?

Ninguém ao certo pode cravar.

Pode acontecer que um entre os cinco mais cotados do momento seja o escolhido. E aí vão nomes como dos italianos Pietro Parolin, que exercia papel de estreita confiança de Francisco, sendo secretário de  Estado do papa desde 2013; Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha, com a vantagem de ter menos de 70 anos; o francês Jean-Marc Aveline, arcebispo de  Marselha, com apenas 66 anos e com ideais próximas de Francisco em relação à imigração e às relações muçulmanas, ou até mesmo o filipino cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, conhecido como “Francisco Asiático”, por suas ideais semelhantes ao seu líder, Francisco.

Mas podem surgir também surpresas, algo que não está fora do contexto histórico do Vaticano.

Sob esse raciocínio, começa a ser olhado o cardeal José Tolentino de Mendonça, que exerce o cargo de prefeito do Dicastério para Cultura e a Educação do Vaticano, nomeado pelo Papa Francisco em 2022. Desempenha uma profícua missão numa área de extremo agrado do Papa, com enorme contribuição na aproximação de Francisco com os atores do mundo das artes.

Foi o próprio Francisco que o nomeou Cardeal, em setembro de 2019.

José Tolentino é português, nascido na Ilha da  Madeira em 15 de dezembro de 1965, portando carregando apenas 59 anos, o que indica bastante vantagem. Viveu importante período em território africano, mais precisamente em Angola.

Além de ser um progressista dentro da Igreja, possui uma característica relevante. É um intelectual, escritor, como obras notáveis lançadas ao longo dos anos, mais notabilizado pela Poesia.

É conhecido como o “Poeta do Papa”, tamanha a admiração que Francisco nutria por essa figura que pode, de repetente, tornar-se o segundo papa português de toda a vida da Igreja Católica. O único até hoje foi Pedro Hispano, morto em 1277 quando o edifício em que se encontrava sozinho desabou, deixando-o sob seus escombros.

Vamos, assim, ficar de olho em José Tolentino de Mendonça.