Esses dias participei de uma reunião entre religiosos; é sempre bastante educativo e interessante. A marca constante é que todos falam bem da sua religião, que é boa, pela paz, vida e progresso de tudo e de todos, e que amam o planeta.
É um momento interessante, porque a gente conta um do outro e conhecer é importante, porque quanto mais a gente conhece o outro mais força tem contra quaisquer preconceitos.
Entretanto, apesar de todas as religiões serem boas, e de todo mundo ser pela paz e pela vida, nós estamos em guerra.
Guerra militar, econômica, social, religiosa. E os operadores desta guerra são todos religiosos, de um jeito ou de outro. Qualquer colocação sobre Deus é religiosa: dizer Deus existe é religioso, dizer Deus não existe também é.
Tudo exige a construção de ética. Contudo, isso não tem sido suficiente: as guerras estão aí, os genocídios estão aí.
No Brasil estamos assistindo ao genocídio dos povos da floresta e a um genocídio pela destruição dos biomas.
Estamos assistindo a uma guerra econômica, onde os trabalhadores perderam seus direitos, sua aposentadoria, sua seguridade. Os salários foram reduzidos, o trabalho foi precarizado, muito próximo do análogo à escravização.
Estão todos sendo empobrecidos, expulsos da suas casas e indo morar na rua, e o Estado é absolutamente inoperante porque a guerra também é política, e a maioria dos estados brasileiros está na mão do capital, de uma maneira ou de outra, mesmo aqueles que dizem que não. Sem contar a ascensão do neonazismo.
E continuamos religiosos. Tem sido assim na história do mundo, tem sido assim história brasileira, nós vivemos quatro séculos de escravização sob o manto da religião.
A pergunta é: por que, se é verdade que as religiões são todas pela paz, pela vida, pela convivência pacífica e respeitosa, pelo direito de culto e de expressão, não concretizamos, na história, o que cremos, a despeito de todas as mudanças que fomentamos?
No Brasil, as três festas sagradas, das três grandes religiões monoteístas coincidiram em termos de calendário: os cristãos celebraram a Páscoa; o judeus, a Passagem; e os muçulmanos, o Ramadã.
Essa coincidência nos desafia a repensar o diálogo religioso, o que fizemos nessa reunião de que participei.
Mas, parece que algo falta: nossas religiões têm o conteúdo necessário para priorizar a paz e a igualdade, contudo, parece que a fé proclamada não é praticada, talvez, porque os senhores do capital também se impõem às lideranças religiosas, e acabam transformando todo discurso religioso numa retórica que os preserva.
Necessitamos de um movimento à altura da relevância da fé e da religião.
Insisto que, juntos, deveríamos trabalhar para que a Constituição brasileira acolhesse o , transformando os nossos biomas em sujeitos de direito, determinando defensores desses sujeitos de direito frente ao Judiciário, de modo que, em nome dos biomas, ações pudessem ser levadas ao Judiciário, o que faria com que a luta pela preservação do meio ambiente e contra o genocídio dos povos tradicionais não contasse apenas com a “boa vontade” do executivo ou com anuência do legislativo, mas, também, com ação do Judiciário.
Alguém dirá que existem leis… Sim, só que essas leis precisam ser cumpridas pelo Executivo e não o são.
E não se tem como entrar no judiciário em nome da criação, da natureza.
Há nações indo por esse caminho. Acabei de saber que o Chile, na sua Constituinte, está admitindo o direito da natureza, assim como a Colômbia, que transformou o , que corre na Cordilheira dos Andes, em sujeito de direito para evitar a sua a poluição e destruição.
E se fosse militância comum às religiões instar o legislativo a consagrar tal direito?
Daríamos um exemplo extremamente positivo acerca da importância da religião como consciência da sociedade.