Na foto, mobilização dos servidores federais de 2017, último ano que a categoria conquistou reajuste – Foto: SINTSEF
Com salários congelados desde 2017, perdas acumuladas da maior parte do funcionalismo público federal, chegam a 27,2%, denunciam servidores
As categorias que representam 80% do funcionalismo federal, o chamado “carreirão”, que recebem os menores salários, decidiram se unir a outras carreiras dos servidores públicos na mobilização para a greve geral marcada para o início de 2022.
A mobilização repudia a decisão do governo Bolsonaro de conceder reajuste salarial apenas a categorias específicas, como os policiais federais, ignorando mais de 90% dos servidores que fazem funcionar a máquina pública do país, e pressionar por aumento salarial.
O Orçamento para 2022, já aprovado no Congresso, destina R$ 1,74 bilhão para o reajuste de policiais federais. As demais categorias do funcionalismo, no entanto, não foram contempladas.
Na última semana de 2021, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que representa o “carreirão”, realizou uma reunião de emergência para debater a mobilização.
“A ação que estamos tentando desenvolver é transformar isso em uma mobilização geral, como fizemos com a PEC 32”, disse o secretário-geral da Condsef, Sérgio Ronaldo da Silva, referindo-se à proposta de emenda à Constituição da reforma administrativa, que está parada no Congresso Nacional.
“Não é possível que 97% do funcionalismo seja jogado ao relento e acharem isso normal. A possibilidade de a gente extrair alguma coisa para 2022 é um processo de mobilização”, ressaltou.
Ele informou que na próxima semana haverá uma assembleia para definir os rumos do movimento e iniciar uma grande mobilização, envolvendo o conjunto das categorias, no dia 14 de janeiro.
Segundo o sindicalista, além de o governo não querer dar reajuste, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda culpa os servidores por fracassos da sua gestão. “Desde janeiro de 2019, a gente tenta negociar com o governo, mas só recebe silêncio e hostilidade. Paulo Guedes usa adjetivos pejorativos contra nós. O servidor não é inimigo do Estado ou do povo, mas, sim, a solução para o país”, disse.
As categorias do funcionalismo já estão em plena mobilização. Na última quinta-feira (30), 951 auditores fiscais da Receita entregaram cargos de chefia. Na semana anterior, 600 auditores já haviam deixado seus cargos.
Para o Sindifisco, entidade que representa os auditores fiscais, Bolsonaro promete reajuste aos policiais com a expectativa de fortalecer sua base eleitoral, enquanto demonstra um “absoluto desrespeito à administração tributária, que, como nunca, tem se empenhado para prover a sustentação financeira do Estado brasileiro”. A proposta do governo federal é cortar recursos da própria Receita Federal para tentar garantir os reajustes acordados com as carreiras policiais.
Segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, “se o governo não oferecer resposta até dia 14 de janeiro, nós teremos, na semana subsequente, dois dias de paralisação. Isso pode caminhar para uma greve, que será discutida a partir da primeira semana de fevereiro. O calendário está todo definido”.
“É possível que haja convergência de força nesse calendário de mobilização, mas, a princípio, cada categoria está fazendo sua parte separada, para depois tentarmos unir em um grande movimento”, disse.
O Fonacate reúne associações e sindicatos que representam mais de 200 mil servidores públicos.
Conforme Rudinei Marques, as perdas acumuladas da maior parte do funcionalismo público federal, desde 2017, chegam a 27,2%, considerando o IPCA (índice oficial de inflação).
“Se pensarmos somente no governo Bolsonaro, considerando o IPCA e o boletim Focus do Banco Central, estas perdas vão chegar a 26,3%. E o governo Bolsonaro seria o único a não conceder reajuste geral ao funcionalismo nos últimos 20 anos”, disse Marques.
No dia 18 de janeiro, será realizado o Dia Nacional de Mobilização, que ocorrerá em todo o país, em especial em Brasília.