Um astronauta paquistanês se tornará o primeiro estrangeiro a bordo da estação espacial chinesa Tiangong, enquanto Pequim intensifica a diplomacia espacial em meio a uma crescente batalha com os Estados Unidos pela supremacia em órbita. A missão do astronauta paquistanês – que ainda não foi selecionado – estreita os laços espaciais já estreitos entre os dois países.
No ano passado, o Paquistão enviou um satélite à Lua a bordo do explorador lunar chinês, juntamente com cargas úteis da Agência Espacial Europeia, França e Itália, de acordo com a mídia estatal chinesa.
Tiangong é uma das duas estações espaciais atualmente em operação, ao lado da Estação Espacial Internacional, lançada em 1998. Desde que começou a operar em 2021, recebeu apenas astronautas chineses. A missão é “um passo significativo na internacionalização da estação espacial chinesa”, disse Quentin Parker, astrofísico e professor da Universidade de Hong Kong.
“Quando você internacionaliza as coisas corretamente, constrói algo maior do que a soma das partes, e isso é verdade na internacionalização da estação espacial”, disse.
Durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira (23), a Agência Espacial Tripulada da China anunciou que o astronauta selecionado será um especialista em carga útil, lidando com tarefas diárias durante a missão, bem como experimentos científicos para o Paquistão.
Amjad Ali, vice-diretor da agência espacial paquistanesa Suparco, elogiou a notícia como um marco para a nação sul-asiática, cujo governo está renovando o interesse em seu programa espacial de mais de 60 anos.
“É muito importante para o Paquistão, sendo o primeiro país estrangeiro cujos astronautas são entretidos pela China e levados pela missão chinesa”, disse ele à agência de notícias Reuters na quarta-feira.
Ali disse que os chefes espaciais do Paquistão compilarão uma lista de cinco a 10 candidatos para a missão no próximo mês, para a China então reduzir para dois. A dupla passará então por treinamento por seis meses a um ano, com um eventualmente sendo enviado ao espaço já em outubro do próximo ano, enquanto o outro atua como reserva, disse Ali.
Parceria estratégica
Os crescentes laços espaciais dos dois países coincidem com a crescente colaboração econômica e comércio na Terra. No âmbito do Corredor Econômico China-Paquistão de Pequim, um importante projeto dentro da Iniciativa Cinturão e Rota, a China investiu em infraestrutura no norte e no sul do Paquistão, incluindo um porto de águas profundas na cidade de Gwadar, no sudoeste do país, bem como em múltiplos projetos tecnológicos entre os dois países.
Um acordo assinado em fevereiro entre os dois países sobre cooperação espacial foi um precursor, anunciado pela missão. Na terça-feira (22), uma delegação da empresa chinesa de tecnologia espacial Galaxy Space se reuniu com o primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif, de acordo com um comunicado do gabinete de Sharif.
A delegação expressou um “grande interesse em investir na indústria de tecnologia espacial do Paquistão e em joint ventures com instituições de tecnologia espacial paquistanesas e empresas privadas de telecomunicações”, acrescentou o comunicado. Sharif, chamando a China de “amiga e parceira estratégica mais confiável” de seu país, disse que o Paquistão estava “buscando aumentar a cooperação com a China nas áreas de tecnologia espacial, satélites espaciais e internet via satélite”.
Amer Gilani, que supervisiona a cooperação em voos espaciais tripulados na Suparco, disse à CNN que os experimentos a serem conduzidos durante a missão planejada ainda estavam sendo selecionados, mas terão “alto impacto científico, industrial e social”.
A China avançou rapidamente em seu poder espacial nas últimas décadas por meio de ambiciosos programas de exploração lunar e do espaço profundo, bem como da expansão de sua estação espacial.
Nesta quinta-feira (24), outra missão tripulada será lançada do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no noroeste da China, levando três astronautas para Tiangong.
A tripulação da Shenzhou-20 estava programa para decolar às 6h17 (horário da de Brasília), informou a mídia estatal. Será a nona missão tripulada a caminho da estação espacial chinesa desde que ela foi totalmente montada em 2022.
O principal objetivo da missão é completar a rotação em órbita com a tripulação da Shenzhou-19, que está programada para retornar à Terra em 29 de abril, disseram autoridades da Agência Espacial Tripulada da China em uma coletiva de imprensa.
Enquanto estiverem no espaço, os astronautas conduzirão experimentos científicos e de aplicação, instalarão um dispositivo de proteção contra detritos espaciais, bem como carga útil e equipamentos extraveiculares, e realizarão tarefas de recuperação, de acordo com a agência. A missão também transportará pequenos animais e organismos para experimentos de ciências da vida na estação espacial. Entre eles, estarão peixes-zebra, planárias e bactérias streptomyces.
A China assinou quase 200 acordos intergovernamentais de cooperação espacial com países estrangeiros e organizações internacionais, abrangendo áreas que vão do desenvolvimento de satélites e exploração lunar a voos espaciais tripulados, informou a mídia estatal em dezembro.
A administração espacial da China anunciou que também aprovou o empréstimo de amostras lunares coletadas pela missão chinesa de exploração lunar anterior para sete instituições em seis países, incluindo o Paquistão.
Parker, da Universidade de Hong Kong, enfatizou a importância da cooperação espacial internacional: “A situação atual no mundo é cada vez mais complexa – mas é importante que esse espírito de alcance e colaboração seja mantido”.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/astronauta-paquistanes-vai-ser-o-1o-estrangeiro-na-estacao-espacial-chinesa/