Bancos aceleram seus processos de inovação por meio de fintechs

Mexer com o dinheiro de milhares de pessoas é algo sério, e não é à toa que o setor financeiro é um dos mais regulados do mundo. No Brasil, os atores desse sistema vivem um dilema constante: estar na vanguarda da inovação, com iniciativas como o Pix e o Open Finance, e, ao mesmo tempo, enfrentar uma das realidades mais fiscalizadas.

O cenário, à primeira vista, não parece favorável para novidades e experimentações tecnológicas, mas foi justamente esse contexto que tornou o ambiente brasileiro ideal para a proliferação das fintechs. Um levantamento realizado pela A&S Partners revelou que, desde 2020 – mesmo ano de lançamento do Pix – até os dias atuais, o País registrou um aumento de 77% no número de startups voltadas ao setor financeiro, passando de 1.158 para 2.048. A projeção é que o Brasil alcance a marca de 3.000 dessas organizações até 2027.

Atualmente, esse tipo de empresa é fundamental para o ecossistema financeiro, não apenas na criação de novos bancos ou soluções integradas para companhias de outros segmentos, mas também como parte dos sistemas de inovação das instituições financeiras, altamente reguladas.

É o caso da 4Axon, fintech especializada em soluções antifraude, que hoje participa com POCs no ambiente de diversos dos chamados “bancões”. “Nós criamos uma empresa digital e flexível, características que os bancos não conseguem ter, especialmente os mais tradicionais, por conta da complexidade de suas estruturas”, contou Renato Peres, cofundador e sócio da startup.

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A possibilidade de ter um ambiente mais adaptável a testes foi, inclusive, uma das motivações do executivo para fundar a empresa. Com 25 anos de experiência no mercado financeiro e passagens por instituições como o antigo Banespa, Santander, Itaú e Safra, Peres se viu, mais de uma vez, em situações nas quais não conseguia inovar porque teria que mexer em uma cadeia inteira de fornecedores. “As soluções funcionam como pecinhas de um Lego dentro dessas organizações, mas, se eu quisesse alterar uma, precisava desmontar vários pedaços da estrutura, o que um banco dificilmente fará.”

Pensando nisso, além das POCs em ecossistemas de bancos de grande porte, o CEO também oferece uma solução para customizar e facilitar a construção e reconstrução dessas peças de Lego dentro de bancos médios e menores. Sendo uma das 32 fintechs presentes na edição deste ano da Febraban Tech, realizada na semana passada, Renato afirmou ter recebido convites de ambos os perfis de parceiros.

Segundo dados do Banco Central, atualmente o Brasil conta com mais de 1,8 mil instituições financeiras, sendo apenas 114 delas associadas à Febraban. Se a feira da federação já trouxe oportunidades de negócios para essas empresas, os números sugerem que ainda existe um vasto mercado a ser explorado no país.

“O que temos observado aqui é que essas instituições maiores nos procuram para que sejamos o parceiro de inovação delas e, para os bancos menores, consigo customizar soluções do meu lado e intermediar toda a esteira produtiva de validação deles.”

Fintechs para os pequenos e médios

Já a Lina Open X identificou outra lacuna no sistema de inovação dos bancos: a falta de recursos dos pequenos para investir em novas tecnologias. Criada por Alan Mareines, Guilherme Lauria, Márcio Castro, Marcos Guirro e Murilo Rabusky, atual CMO da companhia, a startup surgiu inicialmente como uma solução pronta de infraestrutura de conectividade e gestão de consentimentos, dentro do Open Finance.

“No caso do Open Finance, o desafio está muito relacionado ao desenvolvimento dessas integrações por meio das APIs com layouts padronizados e com escopo de dados e informações igualmente uniformizado, além dos processos de certificação de segurança dessas APIs e da rotina de testes que as instituições precisam realizar”, explica Rabusky.

A proposta era garantir que as organizações com menor capacidade de investimento pudessem aproveitar as oportunidades desse ecossistema e cumprir os prazos regulatórios com tranquilidade. Para superar a barreira de entrada dos novos participantes no mercado, os sócios adotaram uma estratégia de parcerias com marcas de grande porte como a B3, a RTM e a TecBan.

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Agora, após quatro anos de operações e com mais de 50 clientes, a empresa deu mais um passo durante a Febraban Tech e anunciou sua mais nova parceira: a Mastercard. A companhia chega para integrar as soluções de dados e pagamentos no Open Finance da Lina, após mais de dois anos de negociação. O anúncio foi feito junto com o lançamento da nova função de iniciador de transação de pagamentos homologado da startup.

“A nossa ideia sempre foi ser um acelerador e mostrar para o mercado tudo o que é possível a partir dos dados do Open Finance. Com o serviço de pagamentos, vamos impulsionar ainda mais essa agenda.”

Quem também seguiu o caminho de facilitar a inovação nos meios de pagamento para bancos pequenos e médios foi a Swap. Há mais de seis anos no mercado, a startup surgiu com a proposta de atuar como um Banking as a Service, fornecendo APIs para qualquer cliente que deseje operar em nuvem e realizar uma transformação digital de forma mais leve.

“A gente sabe que a transformação de um banco pequeno ou médio é extremamente difícil, principalmente quando há um processamento todo interno e é necessário descartar tudo, convencer os stakeholders e assim por diante”, afirma Rodrigo Melgar, CTO e sócio da companhia.

O executivo entende bem do que está falando. Com mais de 20 anos de experiência trabalhando do outro lado do balcão, Melgar já presenciou diversas situações em que a inovação dos bancos ficou travada devido às antigas soluções on-premise. Justamente por isso, desde que chegou à Swap, ele se dedicou a desenvolver sistemas flexíveis e agnósticos, com a segurança como principal parâmetro. “Hoje eu tenho a confiança de pegar o código da minha processadora e rodar dentro da infraestrutura de qualquer cliente. Isso demonstra o nível de maturidade que alcançamos.”

Inovações para além do BC

Ainda de acordo com o mapeamento realizado pela A&S Partners, o Brasil concentra quase 60% das startups financeiras da América Latina. Isso significa que, além das POCs desenvolvidas dentro dos bancos ou para auxiliar na integração dos projetos do Banco Central, existem também fintechs voltadas à criação de novas tecnologias para atuar nos ecossistemas já estabelecidos.

É o caso da HeronPay, fundada por Luanna Vargas Shirozono, com o objetivo de oferecer aos bancos uma nova maneira de prevenir fraudes. O desenvolvimento foi complexo, mas a solução é simples: uma API integrada ao sistema da instituição financeira e a diferentes bandeiras, capaz de pré-estruturar dados antes de qualquer transação ocorrer.

A partir de um clique ou da própria inteligência artificial incorporada, o consumidor pode bloquear transações e estabelecer limites de gastos para diferentes finalidades. A ideia foi criada para alcançar o consumidor final (B2C), em casos como bloquear o cartão antes de sair de casa ou impedir compras realizadas por adolescentes ou cuidadores. No entanto, segundo Luanna, o produto pode ser utilizado em diversas outras situações.

“Podemos usar até em outras fintechs disruptivas, que possuem um cartão corporativo diferenciado. Ou para empresas, na gestão de programas sociais ou, até mesmo, se você quiser capacitar os funcionários a gastar com responsabilidade, deixando um cartão destinado apenas para uso em postos de gasolina, por exemplo.”

O novo controle, além de evitar a chamada “fraude amiga”, também proporciona uma visão mais holística e em tempo real do cliente para os bancos, permitindo o desenvolvimento de novos produtos. Durante a Febraban Tech, Shirozono declarou ao IT Forum que o programa já está em fase de POC em duas instituições e que a própria feira resultou em cinco novas reuniões.

Para ela, a mudança é fruto de um novo olhar do consumidor sobre a cibersegurança. “Antigamente, você via a solução de segurança como um obstáculo. Agora, você recebe um aviso e pensa: ‘Cara, o banco está cuidando de mim’”.

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Fonte: https://itforum.com.br/noticias/bancos-inovacao-fintechs/