Milhares de fiéis devem seguir para Roma nos próximos dias para prestar homenagens ao papa Francisco, morto na segunda (21), aos 88 anos. O funeral está marcado para sábado (26), às 10h.
Conhecido por suas posturas mais progressistas e pelo hábito incomum de ligar para fiéis do mundo todo, Francisco conquistou simpatizantes além do universo católico. Por isso, é esperado que não somente os quase 1,4 bilhão de católicos compareçam, mas também muitos não católicos interessados em prestar respeito.
Roma, a capital italiana, já está mais cheia do que o habitual, impulsionada pelo Jubileu do Vaticano, que deve atrair mais de 32 milhões de peregrinos. Isso, somado aos 37,3 milhões de turistas que visitaram a cidade no ano passado, significa que o acesso à cerimônia pode ser complicado.
“Veremos uma cobertura midiática gigantesca, ainda maior que no funeral de Bento XVI, já que Francisco era o papa em exercício”, disse Mountain Butorac, guia especializado em peregrinações e tours no Vaticano, ao CNN Travel antes da morte do pontífice.
Mesmo assim, ele acredita que o número de presentes será semelhante ao de Bento XVI e bem menor que o do Papa João Paulo II, cujo funeral, em 2005, atraiu cerca de 4 milhões de pessoas.
Conclave e funeral
O conclave, reunião de cardeais que escolhe o novo papa, deve ocorrer entre duas e três semanas após a morte de Francisco e promete ser outro grande atrativo para visitantes. Ao contrário do que ocorreu com Bento XVI, desta vez muitos terão que optar entre ir ao funeral ou ao conclave, por falta de tempo.
O funeral será neste sábado (26), às 10h, na Praça São Pedro, em frente à basílica. Não é necessário ingresso, mas as filas devem ser longas. O corpo de Francisco foi transferido de sua residência oficial, a Casa Santa Marta, para a Basílica de São Pedro na manhã desta quarta-feira (23).
Após uma cerimônia interna, o público poderá se despedir. A basílica ficará aberta até a meia-noite de quarta, das 7h à meia-noite na quinta, e das 7h às 19h na sexta. Às 20h, haverá a cerimônia de encerramento do velório.
Após o funeral, o caixão será levado para a Basílica de Santa Maria Maggiore, a pouco mais de três quilômetros de São Pedro, onde Francisco será sepultado. O trajeto ainda não foi divulgado.
Embora os ritos fúnebres de um papa estejam descritos no Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, o próprio Francisco aprovou atualizações no ritual em 2024 e chegou a comentar, em sua autobiografia “Esperança” (2025), que os planos iniciais eram “exagerados”, pedindo mudanças para torná-los mais simples.
Ele também escolheu ser enterrado fora do Vaticano — algo inédito em mais de cem anos. Frequentador assíduo da Santa Maria Maggiore, Francisco fez uma última visita surpresa ao local em 12 de abril.
Período de luto e rituais
Conforme as normas do Vaticano, o papa deve ser enterrado entre o quarto e o sexto dia após sua morte. Após o sepultamento, tem início o período de nove dias de luto oficial, chamado Novendiales, com missas diárias até 4 de maio.
Durante esse período, cardeais do mundo todo chegarão a Roma para o conclave. “Cada cardeal tem uma igreja titular na cidade, onde geralmente celebram missa dois dias antes do início do conclave”, explica Butorac.
No dia anterior à eleição, uma missa pública é celebrada na Basílica de São Pedro, com todos os cardeais presentes. Após isso, eles se reúnem na Capela Sistina e não são mais vistos até a escolha do novo papa.
O conclave pode começar a partir de 15 dias após a morte do papa, ou seja, a partir de 6 de maio. A data exata será definida pelos cardeais.
Durante o conclave, multidões se reúnem na Praça São Pedro, na expectativa de ver a fumaça branca que anuncia a eleição de um novo pontífice. No primeiro dia, há somente uma votação, no período da noite. Nos dias seguintes, são realizadas quatro votações diárias — duas pela manhã e duas à tarde. A fumaça preta indica que nenhum nome foi escolhido; a branca, que o novo papa foi eleito.
As votações continuam até que haja consenso, com pausas a cada cinco dias. Os horários costumam ser divulgados publicamente, permitindo que os fiéis se organizem para estar presentes — mas não há assentos, então é preciso estar disposto a ficar de pé por horas.
Como chegar a Roma
A cidade é atendida por dois aeroportos internacionais. O Fiumicino, a cerca de 27 quilômetros do centro, é o principal, com voos de fora da Europa. Já o Ciampino, mais próximo, recebe voos de baixo custo da Europa e alguns do Marrocos.
De Fiumicino, o trem Leonardo Express parte a cada 15 minutos para a estação Termini, no centro. Táxis custam 55 euros (cerca de R$ 354). Ônibus até Termini levam 50 minutos e custam 9,90 euros (R$ 63) ida e volta. Do Ciampino, táxis custam 40 euros (R$ 258) e ônibus levam 40 minutos ao mesmo custo.
Também é possível chegar por outros aeroportos italianos e seguir de trem até Roma, já que a estação Termini é um hub ferroviário: Milão está a pouco mais de 3 horas e Nápoles, a cerca de 1 hora.
Onde se hospedar
Com a cidade lotada devido ao Jubileu católico, faz sentido procurar acomodações próximas ao Vaticano. O bairro de Prati, ao norte da Santa Sé, é uma das melhores opções. Do outro lado do rio, o centro histórico oferece alternativas como Campo Marzio, Campo de’ Fiori e Piazza Navona, todos a uma curta caminhada.
Não achou nada? Tente a região da estação Ottaviano ou áreas como Piazza di Spagna, Piazza della Repubblica e Termini — todas bem conectadas ao Vaticano por metrô.
Apesar da disparada nos preços, ainda há opções com valores razoáveis. Em uma busca na terça-feira após o anúncio do funeral, foi possível encontrar hotéis duas ou três estrelas perto de Termini por cerca de 500 euros (R$ 3.227) por três noites. Já o luxuoso Bvlgari Hotel, a poucos minutos do Vaticano, cobrava 8.310 euros (R$ 53.633) pelo mesmo período.
Alguns hotéis exigem estadias mínimas de três noites, como o Hotel Lancelot, perto do Coliseu. Mesmo assim, manteve preços acessíveis — 420 euros (R$ 2.710) por três noites para um quarto individual.
O que fazer
A Cidade do Vaticano costuma ser um dos destinos mais procurados por quem visita Roma, mas em momentos como este, o turismo dá lugar à sua função original. A Capela Sistina, por exemplo, será o local do conclave, enquanto a Basílica de São Pedro abrigará o corpo do papa em velório.
Os museus também estarão fechados no sábado (26), sendo que todos os passeios pelos Jardins do Vaticano e pela Necrópole da Via Triumphalis estão suspensos, segundo nota publicada no site dos Museus Vaticanos.
Se quiser aproveitar o tempo para conhecer os arredores, será preciso sair do Vaticano — mas Roma tem muitos outros locais ligados à história papal.
A apenas 10 minutos a pé da Praça de São Pedro, fica o imponente Castel Sant’Angelo. Construído inicialmente como mausoléu para o imperador Adriano, o castelo foi transformado em fortaleza papal. Foi lá, inclusive, que o Papa Clemente VII se refugiou durante o Saque de Roma em 1527, conseguindo escapar da cidade.
Se a sua visita visa prestar homenagens ao Papa Francisco, talvez você queira passar um tempo em igrejas. Felizmente, muitas das basílicas de Roma são verdadeiras obras de arte — ou seja, você estará fazendo turismo mesmo enquanto reza.
Destaque para outras três “basílicas papais”, que só ficam atrás da de São Pedro em importância para a Igreja Católica: São João de Latrão, Santa Maria Maggiore e São Paulo Extramuros. Cada uma possui uma “porta santa” e um altar papal. Esta última, no final da agora badalada Via Ostiense, abriga — segundo a tradição — os restos mortais do apóstolo Paulo.
Vale lembrar que, sendo local de repouso do papa, a Basílica de Santa Maria Maggiore provavelmente terá restrições de visitação nos dias próximos ao funeral. Até o momento, nenhum detalhe oficial foi divulgado.
Para quem quer apreciar obras de Michelangelo, há boas alternativas além da Basílica de São Pedro. A poderosa estátua de Moisés, na igreja de San Pietro in Vincoli (no bairro Monti), rivaliza com a Pietà, e foi concebida para o túmulo do Papa Júlio II — projeto que Michelangelo só finalizou após a morte do pontífice.
Outro exemplo é a igreja de Santa Maria degli Angeli, que surgiu das ruínas de antigas termas romanas redesenhadas por Michelangelo. Já a escultura do Cristo Ressuscitado pode ser vista em Santa Maria sopra Minerva, a igreja logo atrás do Panteão.
Fora de Roma
Duas das mais impressionantes propriedades papais ficam fora da capital. Castel Gandolfo foi a residência de verão dos papas entre 1596 e o papado de Francisco, que preferiu um estilo de vida mais simples.
Desde 2016, o público pode visitar o Palácio Apostólico (ou Palácio Papal), além dos belíssimos jardins com vista para o Lago Albano. O local funciona diariamente (é bom consultar o site para horários atualizados), mas estará fechado no sábado, 26 de abril, em sinal de luto.
Já em Viterbo, a cerca de uma hora e 40 minutos de trem ao norte de Roma, fica o Palazzo dei Papi, ou Palácio dos Papas. Entre 1257 e 1281, a Cúria se mudou de Roma para lá, e um palácio à altura foi construído — hoje aberto à visitação.
Mesmo após o retorno da sede papal a Roma, Viterbo continuou sendo um refúgio querido pelos pontífices. Um deles, no século XV, chegou a construir uma casa de banhos para aproveitar as famosas águas termais da cidade.
Quem são os cardeais brasileiros que votam no conclave e podem ser papa
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/viagem/funeral-do-papa-francisco-onde-ficar-e-o-que-evitar-em-roma-e-no-vaticano/