Mulher troca os EUA pela Alemanha e diz: “Melhor decisão que já tomei“

Melissa Vargas passou boa parte da vida “cumprindo etapas” para ser vista como uma pessoa bem-sucedida. Mas, ao se aproximar dos 30 anos, ela começou a questionar a direção que sua vida estava tomando.

Apesar de estar se destacando na carreira em marketing digital e ter seguido à risca tudo o que “as pessoas diziam que ela precisava fazer”, Melissa sentia que não estava realmente vivendo novas experiências — e tinha caído em uma zona de conforto.

Foi durante uma viagem mais longa à Europa para um casamento, em 2016, que algo mudou. Até então, ela não tinha ido muito além do México e do Caribe. Mas ao visitar Munique, na Alemanha, teve uma sensação diferente.

Uma decisão ousada

“As pessoas estavam simplesmente aproveitando a vida”, contou ela ao CNN Travel. A ideia de relaxar parecia estranha para Melissa, que vinha do ritmo frenético de Nova York, onde tudo é “sempre correria, correria, correria”.

Poucos meses após voltar aos EUA, ela conseguiu um emprego em uma agência alemã e, no fim de 2017, se mudou para Munique. Hoje, quase oito anos depois, continua lá.

“Sinceramente, foi a melhor decisão que já tomei”, diz. “Se eu não tivesse feito isso naquela época, acho que nunca teria feito.”

Melissa conta que já estava cansada da mentalidade “trabalhe muito, curta muito” de Nova York e queria uma mudança. “Acho que quando cheguei aos 28 anos, comecei a pensar que a vida tinha que ser mais do que aquilo.”

Melissa Vargas, nascida na República Dominicana, estava cansada da mentalidade de “trabalhe muito, aproveite muito” à qual tinha se acostumado e sentia que era hora de experimentar algo diferente • Arquivo pessoal/Melissa Vargas via CNN Newsource

Nascida na República Dominicana e criada desde bebê na cidade de Nova York, ela nunca sentiu que se encaixava totalmente por lá. “Acho que eu estava num momento em que precisava de algo diferente.”

Com o tempo, percebeu que vivia conforme as expectativas dos outros — e não com os próprios desejos.

“Cresci em um bairro muito difícil, consegui bolsa para o ensino médio, depois para a Universidade de Syracuse, e me formei com dois diplomas”, conta. “Fiz tudo aquilo que a família imigrante espera que você faça.”

Querendo sair da zona de conforto, Melissa decidiu se jogar na situação mais desafiadora que conseguia imaginar: mudar-se para um país onde só tinha estado uma vez e cujo idioma ela não falava.

“Senti que estava me limitando ao manter meu círculo fechado. Nova York é uma bolha. Você só percebe isso quando sai de lá.”

Começo de uma nova vida

Logo depois de voltar da viagem, ela se candidatou a uma vaga em Munique e ficou empolgada quando foi aceita.

Segundo Melissa, a empresa foi fundamental no processo de visto de trabalho — necessário para estrangeiros fora da União Europeia —, contratando até um advogado para ajudá-la na mudança.

“Tirei um mês de folga. Depois foi empacotar 28 anos de vida em três malas. Tive que deixar para trás vários sapatos lindos”, brinca.

Ela se despediu da família e dos amigos, embarcou para Munique com escala em Lisboa e chegou à nova cidade em um domingo — quando tudo estava fechado, e ela não conseguiu nem algo para comer ao chegar no apartamento.

No dia seguinte, foi atrás do registro fiscal (obrigatório na Alemanha para começar a trabalhar). Só conseguiu de fato entrar no novo escritório cerca de duas a três semanas depois.

Nos primeiros meses, ela se esforçou para mergulhar na cultura da Baviera e adorava o quanto tudo parecia novo e empolgante.

“Eu pensava: ‘Estou aqui, fazendo acontecer, igual à série ‘Emily em Paris’. Mas era antes da série! Eu era a Melissa em Munique. Pioneira!”, brinca.

Porém, até ir ao supermercado podia ser estressante. “Passei duas horas lá dentro sem fazer ideia do que estava comprando.”

Apesar de amar o clima natalino e os tradicionais mercados de Natal, quando chegou o Ano Novo, o tempo estava sempre nublado e chuvoso. Foi aí que ela começou a questionar sua decisão.

“Você se pega pensando: ‘Caramba, foi isso mesmo que eu escolhi?’” Ela reconhece que o primeiro ano em um novo país é sempre o mais difícil. “É o momento em que você pode decidir se aquilo é mesmo para você. Eu quase desisti algumas vezes.”

Mas ela estava determinada: “Pensei: se eu conseguir superar esse desconforto e, no fim, ainda quiser voltar, Nova York vai continuar lá. E era isso que eu me repetia.”

Um novo ritmo

Levar um tempo para se adaptar ao ritmo mais lento da Alemanha foi um desafio, mas também uma oportunidade de recomeço. “Levei anos para me desvincular da energia caótica de Nova York.”

Ela conta que os domingos na Alemanha são o “Ruhetag” — dia de descanso. “Não se deve fazer barulho, como furar parede ou colocar música alta. Coloco música, porque sou latina”, ri. “Mas evito fazer força.”

A famosa franqueza alemã também foi fácil de aceitar. “Esse foi um dos motivos pelos quais eu me sentia deslocada em Nova York. Sou muito direta — às vezes até demais — então foi um alívio estar entre pessoas igualmente francas. Aqui, não preciso medir as palavras.”

Apesar da fama de trabalhadores incansáveis, ela diz que os alemães valorizam muito o equilíbrio.

“Quando contei que ia para a Alemanha, meus amigos diziam: ‘Nossa, lá ninguém relaxa, só trabalham’. Mas não é bem assim. Eles trabalham duro, sim, mas há um foco grande em equilíbrio e bem-estar.”

Ela adorou descobrir que o país tem nove feriados nacionais e que suas férias aumentaram de 10 para cerca de 30 dias por ano.

Melissa também se encantou com a conexão que os alemães têm com a natureza — no verão, ela passa o dia todo ao ar livre. “Na verdade, nem tenho televisão. Decidi mergulhar de vez nesse estilo de vida. E adoro isso.”

Quanto ao custo de vida, ela acha a Alemanha muito mais acessível que os Estados Unidos. “Consigo encher a geladeira com uns 100 euros. Tudo é acessível, barato e de qualidade muito superior.”

Ela conta que, ao visitar Nova York, evita até comprar carne. “A qualidade lá caiu demais.”

“Abrace a mudança”

Melissa diz que se sente extremamente segura vivendo na Alemanha — um dos países mais seguros do mundo. Já até desaprendeu a ficar olhando para os lados antes de abrir a porta de casa.

“O pior que aconteceu foi roubarem minha bicicleta, um ano.”

Ela planejava ficar apenas alguns anos, mas acabou ficando oito — e agora tem residência permanente.

Quando se mudou, já falava francês, italiano e inglês, e achou que aprender alemão seria fácil. Mas subestimou a dificuldade.

“O alemão é muito difícil”, diz. Mas se dedicou muito e hoje consegue ir ao médico ou trocar mensagens com amigos no idioma.

“Sou do tipo que, quando aprende um idioma, quer entender todos os detalhes. E o louco do alemão é que tudo tem uma lógica — sempre há um porquê.”

Sobre as tensões políticas recentes no país, com o avanço de partidos de extrema-direita, ela diz que acompanha as notícias, mas que isso não afeta seu dia a dia.

“Nunca senti ideologias políticas que me fizessem sentir excluída ou insegura.” Pelo contrário: ela se sentia mais exposta a esse tipo de divisão quando vivia nos EUA.

Quase uma década depois da mudança, Melissa não se vê mais voltando para Nova York. “Alguns dos meus amigos estão aqui na Europa, outros se mudaram para outras cidades. Todo mundo saiu de Nova York. E para mim, que cresci lá, foi ótimo enquanto durou. Mas hoje, não sei como seria viver lá de novo.”

Durante esses anos, ela viajou bastante pela Europa — conheceu Itália, França e Espanha — e até pensou em se mudar para esta última, terra natal da avó materna. Mas, por enquanto, pretende continuar onde está.

“Sempre tive vontade de conhecer melhor o lado espanhol da minha família. Infelizmente, ainda não encontrei ninguém aqui com ligações genéticas.”

“Talvez meu objetivo final seja morar na Espanha. Mas, por enquanto, estou curtindo muito a vida na Alemanha.”

Melissa aconselha qualquer pessoa que pense em mudar de país a manter a mente e o coração abertos.

“O mais importante é estar aberto. Você vai se sentir desconfortável o tempo todo, vai estar em ambientes totalmente novos. Mas não caia na tentação de se fechar. Abrace a mudança com os braços abertos.”

“Cada nova experiência vai te ensinar algo. E você vai se tornar uma pessoa melhor.”

Ela conseguiu construir uma rede de amigos em Munique e contou com essa comunidade para enfrentar o momento mais difícil da vida: a perda da mãe.

“Ter essa rede de apoio fez toda a diferença. Meus amigos foram minha base. E acho que foi aí que tudo se firmou de vez.”

Melissa ainda sente saudades de algumas coisas de Nova York — os restaurantes, a moda, a diversidade — mas reforça que sair de tudo o que conhecia e se reinventar foi libertador.

Ela não se arrepende de nada e acredita que cresceu muito como pessoa desde que chegou à Alemanha.

“Sempre tive família e amigos por perto. Sempre havia um plano, alguém para me ajudar. Mas nessa situação, a única pessoa que podia me ajudar era eu mesma. E eu precisava disso. Precisava me dar a chance de crescer.”

 

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/viagem/mulher-troca-os-eua-pela-alemanha-e-diz-melhor-decisao-que-ja-tomei/