Alguns lugares no mundo reservam a magia de deixar visitantes boquiabertos diante de um cenário único. Com uma vastidão que parece não ter fim e um solo branquíssimo formado pelo acúmulo de sal que chega a doer os olhos, o Salar de Uyuni, na Bolívia, é desses atrativos que fazem qualquer um se arrebatar com a grandiosidade da natureza.
Maior deserto de sal do mundo, o salar soma quase 12 mil quilômetros quadrados e fica a 3.600 metros de altitude. Aqui, o encontro do céu com a terra é mais do que uma figura de linguagem, sobretudo na temporada úmida, entre final de dezembro e meados de abril, quando a chuva forma espelhos d’água que criam ilusões de ótica.
Tamanho esplendor é contemplado com um leque de atividades que deixam tudo mais divertido. No coração do salar há esculturas de sal, labirinto, possibilidade de andar de bike e experiências gastronômicas que vão desde almoços típicos em tendas “no meio do nada” até brindes de espumantes com a explosão de cores no pôr do sol. Também entra neste combo uma hospedagem à beira do salar construída inteiramente de…sal.
A boa notícia é que essa caixinha de surpresas chamada Bolívia é vizinha ao Brasil, com voos a partir de São Paulo com conexões para La Paz. Com mais de quatro mil metros, a capital boliviana é parada ideal para se acostumar com a altitude antes de partir para Uyuni.
O Salar de Uyuni
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Salar de Uyuni é o maior deserto de sal do mundo e se estende por quase 12 mil km quadrados • Saulo Tafarelo
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Vastidão branca do Salar de Uyuni surpreende qualquer visitante e pode ser apreciada desde manhã até o cair da noite • Saulo Tafarelo
Em resumo, o deserto foi, na verdade, inundado pelo mar há centenas de milhões de anos, quando o mundo era um só com a Pangeia. A fragmentação do supercontinente levou à formação de cordilheiras, como a majestosa Cordilheira dos Andes.
No local do salar, houve a formação de um lago pré-histórico que, ao longo de milhões de anos, foi evaporando. Assim, os minerais e sais se depositaram com o tempo e deixaram de presente a crosta atual.
Hoje, o salar é o atrativo mais visitado da Bolívia. Foi eleito um dos 25 lugares para se visitar em 2025 pela CNN e destacou-se entre os destinos mais incríveis na lista do New York Times no ano passado. Mesmo com a fama, o local não possui caráter de superlotação, fato que se estende até na alta temporada.
A base para as descobertas em torno desta maravilha geológica é a cidade de Uyuni, no departamento de Potosí, a cerca de uma hora de voo de La Paz. Aqui fica o aeroporto Joya Andina, porta de entrada para grande parte dos turistas que querem desbravar o Sul da Bolívia.
Com cerca de 40 mil habitantes, a localidade é extremamente simples, com várias ruas de terra no entorno. Logo na chegada, a impressão é que a viagem tem uma pegada mais roots.
Grande parte da população depende do salar para a sobrevivência, como pode ser visto no pequeno povoado de Colchani. A paradinha, que costuma estar nos roteiros das agências antes da primeira ida ao salar, possibilita que os turistas comprem souvenirs e vejam o processamento do sal, que é bastante artesanal e serve para o abastecimento local.
Como o salar é um deserto, a entrada é gratuita, mas os passeios devem ser feitos impreterivelmente com guias e em carros especiais, como 4×4 e vans. Também faz toda a diferença um motorista que conheça o terreno como a palma da mão, com “ruas” invisíveis que só eles sabem navegar. Para tanto, surgem os serviços da Hidalgo Tours, uma das mais renomadas operadoras de turismo do país e que ajudou a dar o pontapé turístico em Uyuni.
Experiências no Salar
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Labirinto de sal é uma das atrações mais populares no meio do salar • Saulo Tafarelo
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Carros param em pontos estratégicos do deserto para contemplação; destino tem caráter de expedição e é imprescindível uso de botas de borracha (na época chuvosa), óculos de sol, jaquetas e protetor solar • Saulo Tafarelo
Além do arrebatamento da vastidão do deserto, uma série de atrativos surgiram para deixá-lo mais turístico. No meio do salar há um parque de esculturas de sal, como uma pirâmide, um condor e uma lhama. Um labirinto com paredes de sal fica no meio da atração, que tem uma taxa de entrada – a qual pode estar inclusa no passeio.
Há ainda o monumento das bandeiras, com países de todos os cantos do mundo; a escultura “Escada para o Céu”, que simula degraus para o infinito; e até passeios de bike oferecidos pelas agências. No fim, tudo vira um grande playground para fotos, com guias que fazem um verdadeiro ensaio fotográfico com uso de brinquedos e diferentes técnicas. Uma vez aqui, é divertido entrar na brincadeira.
Para tanto, é imprescindível estar munido de jaquetas corta-vento, óculos de sol, protetor solar e uma garrafinha d’água. Na estação chuvosa, a melhor época para se visitar o salar, é necessário calçar botas de borracha por conta da fina camada de água que se acumula no chão. As botas são regularmente fornecidas pelas próprias agências.
O salar também esbanja fenômenos naturais, como a ilha de cactos, bem afastada dos atrativos populares e formada por espécies nativas de cactos, alguns com centenas de anos. Eles criam uma paisagem que contrasta com o deserto branco.
Por fim, os “ojos de agua” também atraem curiosos. Basicamente, a água se infiltra no salar e libera bolhas de minerais por meio de pequenas poças. É comum que pessoas que acreditam em propriedades de “cura” se molhem por ali.
Experiências especiais
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Almoço “no meio do nada” é uma das experiências fora da curva possíveis de realizar no salar • Saulo Tafarelo
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Deserto de sal também reserva lindos pores do sol, que são melhor apreciados em uma experência com música e comidinhas • Saulo Tafarelo
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Entardecer reserva paisagens espetaculares e momentos de conexão • Saulo Tafarelo
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Carros 4×4 e vans adaptadas são veículos permitidos no Salar, e um bom motorista faz toda a diferença durante o passeio • Saulo Tafarelo
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O cair da noite revela um céu estrelado, com chance de observar planetas e constelações a olho nu • Saulo Tafarelo
No entanto, a dinâmica de visitar o Salar de Uyuni pode ganhar contornos mais personalizados e, por vezes, luxuosos. Entram em cena pacotes sob medida, desenhados de acordo com vontades, número de pessoas e o período do dia.
Ao invés de apenas oferecer veículos 4×4, a Hidalgo, por exemplo, é a primeira operadora de turismo a oferecer um “pacote VIP”, feito a bordo de uma van com bancos de couro que fazem até massagem nos passageiros. Bebidas alcoólicas são servidas à vontade e, para maior comodidade, o veículo conta com banheiro. Ao todo, o carro comporta um grupo de seis pessoas.
A primeira visita de um turista no deserto ganha uma camada a mais: antes de chegar na crosta de sal, o guia coloca uma venda no visitante para que ele se surpreenda ao abrir os olhos neste local de tamanha imensidão.
Nestes primeiros momentos, a dica é sair andando no meio do deserto para se deparar com silêncio e paisagem descomunais. Não se preocupe: depois de alguns minutos, sem te perder de vista, o motorista e o guia vão ao seu encontro.
Destacam-se ainda atividades que oferecem refeições, como almoços em tendas e comidinhas no entardecer. O serviço de almoço tem opções típicas, como charque de lhama, quinoa e batatas-doces, acompanhados de vinhos e refrigerantes. Além do esforço da equipe, a refeição fica mais memorável por conta do espetáculo do recinto.
Outra atividade disputada é o pôr do sol. Embalado pela trilha sonora de sua preferência, o show fica por conta das cores que o céu vai assumindo. Enquanto isso, espumantes e empanadas deixam tudo mais saboroso.
Por fim, na calada da noite, é possível sair à caça de estrelas e constelações, em que o deserto fica ainda mais misterioso e oferece nada mais do que um silêncio sepulcral. A depender do guia, o momento vira outra sessão de fotos, em que a ferramenta de longa exposição dos celulares rende ótimos cliques. No fim, o brinde é feito com canecas de chocolate quente.
O Palácio de Sal
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Palacio de Sal disponibiliza 42 acomodações de diferentes categorias • Divulgação
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Hotel fica à beira do Salar de Uyuni, a cerca de 500 metros da crosta de sal • Divulgação
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Área externa é ideal para ver o pôr do sol na companhia de uma lareira • Saulo Tafarelo
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Renovada, área externa também ganhou pula-pula, roda-gigante e carrossel, além de um bar com comidinhas e bebidas típicas • Saulo Tafarelo
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Spa do Palacio de Sal possui piscina de água doce tratada, saunas e salas de massagem para rituais que levam sal • Saulo Tafarelo
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Interior do hotel exibe esculturas e colunas feitas de blocos de sal • Divulgação
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Para potencializar a jornada, o Hotel Palacio de Sal surge como hospedagem curiosa, mas não menos aconchegante. Situado à beira do salar, o hotel de 42 acomodações é concorrido entre estrangeiros e, além de garantir o merecido descanso após um dia intenso, cativa o visitante pela ambientação.
A construção leva cerca de 1 milhão de blocos de sal, todos extraídos do deserto. Chão, paredes e até as bases das camas são feitos a partir do mineral – os blocos são impermeabilizados, freando a umidade, mas passam por manutenção constante. Basta arrancar um pedacinho e comprovar na língua que o sal é, de fato, sal.
Atualmente, restaurante de comidas típicas, bar, spa, fogueiras e até roda-gigante completam o leque de comodidades. Esta, porém, não é a formação original do hotel: o conceito surgiu há três décadas, quando o “palácio” ficava no meio do salar. Há alguns anos, ele foi trasladado até a posição de hoje, a cerca de 500 metros do deserto.
É o único hotel das redondezas com caráter que esbarra no luxo, levando em conta o contexto local. No spa, uma piscina de água doce tratada tem vistas diretas para a branquidão e, se optar por um tratamento, o mais completo é o “Chaska”, (919 bolivianos, cerca de R$ 740).
A experiência dura duas horas e passa pela piscina e saunas, terminando com ritual de sal e uma massagem. O diferencial é o “enterramento de sal”, em que o hóspede fica mais de meia hora literalmente com o corpo enterrado em camadas do mineral.
Depois dos passeios no salar, o espetáculo continua na área externa do hotel. No cair da noite, fogueiras são acesas e ajudam tanto no friozinho quanto na reunião de amigos e famílias.
É como um camarote para o deserto, momento melhor acompanhado de drinques e salteñas. Aos poucos, o céu revela estrelas e planetas, como Vênus, Júpiter, Saturno e até Marte a olho nu. Se a sorte estiver ao seu favor, o deserto pode te presentear com a passagem de um cometa. O desejo mais adequado seria pedir uma viagem de volta ao salar.
- Quando ir para o Salar de Uyuni? A época mais recomendada é o verão, que também é época chuvosa, com alta temporada entre janeiro e março por conta dos reflexos no chão causados pela chuva e dias mais longos. O inverno (maio a agosto) é a época seca, com temperaturas mais geladas e dias curtos, com mais incidência de americanos e europeus;
- Como chegar no Salar de Uyuni? De São Paulo há voos para La Paz com conexão em Santa Cruz de la Sierra. De La Paz, há voos pela manhã com destino a Uyuni.
- Como fechar os passeios? É preciso fechar os passeios com agências locais. A Hidalgo, por exemplo, oferece pacotes tradicionais de um ou mais dias, assim como experiências personalizadas que são negociáveis.
*O jornalista foi convidado para viajar ao Sul da Bolívia pela Hidalgo Tours
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/viagem/salar-de-uyuni-tem-cenarios-unicos-no-mundo-e-encontro-entre-ceu-e-terra/