Com referências nordestinas e memórias afetivas do Rio Grande do Norte, José Roberto conquistou o prêmio da 11ª edição do maior programa de culinária do mundo: o MasterChef. Natural de Natal, a marca de José Roberto se tornou caju e sal, dois ingredientes em abundância em terras potiguares – já que o estado é o maior produtor de sal marinho do país e abriga o maior cajueiro do mundo. Em entrevista à Cultue, José Roberto compartilhou os desafios, inspirações e motivações que o fizeram ser o primeiro nordestino a ganhar o MasterChef Brasil.
Desde muito novo, José Roberto gosta de caju e decidiu levar a fruta para a rotina na cozinha. Foi com ela que conseguiu ganhar sua primeira prova no reality show, servindo uma sobremesa francesa com compota de caju. “Eu tenho lembrança afetiva muito importante do caju na minha vida, ele sempre teve um lugar de alimentação, trabalho e até diversão na minha infância. Era no sítio do meu avô que na infância que eu colhia castanha para vender, comia a fruta, fazia ‘bala’ do meu estilingue e até fazia de bolinha de gude”.
A infância em Ceará-Mirim, cidade da Grande Natal, também foi inspiração para criação do prato de cuscuz nordestino com calda de café e rapadura, que homenageia os sabores e ingredientes tradicionais do Nordeste. José Roberto explicou como suas lembranças do RN o ajudaram a pensar na receita perfeita que o representasse e ganhasse os jurados.
“Minha casa ficava ao lado de uma plantação de cana e próximo da usina de açúcar, a imagem dos canaviais queimados e famílias trabalhando ali na produção daquele produto, foi a inspiração quando recebi a rapadura […] Nesse dia especificamente, minhas lembranças impulsionaram minha receita, daí surgiu o cuscuz nordestino, com queijo coalho na calda de café, chocolate e rapadura, que acompanhei com um belo ovo frito”, relatou.
Para José Roberto, era importante transpassar suas origens no programa, e foi exatamente isso que ele fez. Embora resida atualmente no Maranhão, o potiguar não esconde a importância que o RN teve e tem em sua vida. “Eu tinha o compromisso de contar minha história, me orgulhar das minhas raízes, não fugir de quem eu sou e o que me fez ser a pessoa que sou hoje, era impossível que os produtos, e os cenários da minha infância não estivessem no meu discurso, trazer minha família, nossa ancestralidade e nossa superação quando povo nordestino”, disse.
No entanto, a trajetória do potiguar no programa teve seus altos e baixos. Ao longo da competição, José Roberto enfrentou desafios emocionais e psicológicos. A pressão, os rótulos e os julgamentos quase o fizeram desistir. “Principalmente os dias que a cabeça não estava tão boa, e que estava com saudades da família, além da pressão, me sentia subestimado e rotulado em alguns momentos da competição. Colocar sua cara e mostrar vulnerabilidade, com julgamentos, ignorância e seletividade das pessoas, nos leva a pensar se realmente faz sentido tudo aquilo”, assumiu.
Com o prêmio em mãos, José Roberto afirma que seguirá estudando e ganhando mais experiência para, no futuro, abrir seu próprio restaurante. “Estudar, aproveitar o curso que ganhei no prêmio do programa. Acredito que assim estarei mais preparado para trabalhar na gastronomia, também quero conhecer e atuar em uma cozinha de restaurante, e trabalhar com a culinária em todas as oportunidades que eu puder. Quem sabe um dia ter um restaurante intimista ou um gastrobar na praia”, disse.
Confira mais da entrevista de José Roberto, vencedor do MasterChef Brasil, à Cultue
Revista Cultue – Como a sua origem nordestina te ajudou no programa?
José Roberto – Quando eu percebi que estava avançando nas seletivas do programa, eu canalizei a energia e os pensamentos positivos, alimentando o desejo de ser o primeiro nordestino a vencer no programa, e sim isso era um mantra para mim. Pensar assim sempre me empolgava muito. Tinha o compromisso de contar minha história, me orgulhar das minhas raízes, não fugir de quem eu sou e o que me fez ser a pessoa que sou hoje, era impossível que os produtos e os cenários da minha infância não estivessem no meu discurso, trazer minha família, nossa ancestralidade e nossa superação quando povo nordestino, seria tópico falado sim, e não se trata de “mimimi” e, sim, orgulho. Doa a quem doer, o Nordeste é um hino e pronto. Além disso, todos foram lá contar suas trajetórias de vida e de suas cozinhas, isso é um fato. Eu sabia, mas não tinha noção do peso e olhares negativos que isso teria na competição e no resultado. Impressionante inclusive, não é?
Cultue – Como você conseguiu equilibrar a culinária regional com as exigências do programa?
José Roberto – Eu acompanho o programa ao longo desses 10 anos na Band, sem dúvidas foi onde descobri e me aceitei como cozinheiro. Desde então, venho de forma autônoma estudando e aprendendo as técnicas e receitas de outras cozinhas, principalmente a francesa. Portanto minha digital era sempre trazer os produtos das minhas referências para um lugar novo, que trouxesse criatividade e mostrasse a potência da nossa identidade regional. Temos muitas oportunidades veladas, presas a rótulos que limitam e inferiorizam nossa gastronomia, e eu também queria “quebrar” isso. A visão do chique e rebuscado tenta reduzir as técnicas ancestrais de gastronomia, que ao contrário das abordagens contemporâneas sistematizadas e catalogadas, possuem um caráter orgânico e espontâneo, profundamente ligado à natureza e à sabedoria popular. Resgatar essas práticas não é um retrocesso, mas uma forma de resistência e reinvenção, oferecendo uma gastronomia mais diversificada e consciente, alinhada com a sustentabilidade e a autenticidade.
Cultue – Já tinha passado pela sua cabeça ser o primeiro vencedor nordestino do MasterChef?
José Roberto – Como eu disse, à medida que as seletivas foram avançando eu fui colocando pequenas metas: 1- Entrar, 2 – Não ser o primeiro a sair, 3 – Ser top 10 e depois 4 – ser top 5, mas sempre com foco em ganhar, é claro. E sempre sem esquecer o mantra preciso levar esse prêmio para o Nordeste. Mas confesso que precisei olhar para mim com mais positividade, confiança e respeito, porque minha cabeça quis me sabotar muitas vezes, e pensar na vitória em alguns momentos era conflitante, já que estava aprendendo a confiar em mim. Minha esposa e alguns colegas me ajudaram muito nessas situações. Sou verdadeiramente grato.
Cultue – Como surgiu a ideia de se inscrever no MasterChef 2024?
José Roberto – Sou telespectador e gosto de cozinhar e aprender sobre os sabores, produtos e suas histórias, isso são coisas que mexem muito comigo. Logo pensei que participando do programa eu poderia fazer algo para mim, e percebi que era um sonho difícil mas que se eu quisesse de verdade precisaria encarar com determinação. Por isso tentei várias vezes, e na jornada vi que também estava incentivando meus filhos e outras pessoas realizarem seus sonhos. Assim surgiu a ideia. Entendi que sonhar move o mundo.
Fonte: https://agorarn.com.br/ultimas/nordestino-vence-masterchef-brasil-honra-rn/