Candidato bolsonarista na “capital do desmatamento” acumula R$ 11,7 milhões em multas do Ibama

O candidato pelo PL de Jair Bolsonaro à prefeitura de Pacajá (PA), o fazendeiro Dalton Gomes Scherr Junior acumula R$ 11,7 milhões em seis multas aplicadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) desde 2022, principalmente por desmatamento irregular de mata nativa e criação de bois em áreas “embargadas” (interditadas) pelo órgão federal. Localizado no bioma amazônico, o município é um dos que mais vem sendo devastado no país nos últimos anos.

Scherr Junior também é alvo de duas ações na Justiça, movidas inicialmente pelo Ministério Público Federal (MPF), que cobram a reparação dos danos ambientais, além de indenização em dinheiro. O candidato nega culpa pelas infrações. “Nunca desmatei”, afirmou à Repórter Brasil.   

As propriedades citadas nos processos abertos pelo MPF estão localizadas em Pacajá e Portel, numa região marcada pelos conflitos por terra e pela intensa degradação ambiental. 

De acordo com dados revelados pelo MapBiomas, sistema de monitoramento de florestas por satélite, Pacajá ocupa a 14ª posição entre os municípios mais desmatados do Brasil entre 2021 e julho de 2024. Já Portel fica em 12ª lugar.

Com o apoio de Jair Bolsonaro, Scherr Junior disputa as eleições contra o atual prefeito, André Rezende (MDB), e o comerciante Chico Tozetti (PRD). 

Em vídeo postado no dia 15 de setembro nas redes sociais, Bolsonaro aparece ao lado do deputado federal Delegado Caveira (PL) pedindo votos ao fazendeiro. O parlamentar afirma que o pecuarista é o único que representa a “direita de verdade” em Pacajá.

Em entrevista à Repórter Brasil, o candidato à Prefeitura de Pacajá negou responsabilidade pelas infrações ambientais. Segundo ele, o Ibama teria aplicado a multa de forma equivocada em um dos casos. “Puxei um mapa no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade), provando que a mata é intacta. Agora, eu tenho que provar que eles erraram na multa”, argumenta. 

Em outro, um laudo comprovaria que o incêndio teria sido provocado por um vizinho. Ele afirma ainda ter sido multado por criar gado em uma área arrendada de outro fazendeiro, sem saber que o local já havia sido embargado (interditado). “Não tinha [essa informação] no sistema [do Ibama]”, justificou. 

Durante a entrevista, Scherr Junior disse à reportagem que enviaria documentos comprovando os erros das autoridades ambientais. Porém, até o fechamento desta matéria, não havia mandado as informações. Questionado no dia seguinte, respondeu por Whatsapp: 

“Tem vários produtores querendo que o sr fizesse uma matéria aqui na região com todos eles de propriedade em propriedade mostrando a verdadeira realidade”, escreveu.

Candidato responde a duas ações na Justiça

A multa mais recente é de agosto de 2023, no valor de R$ 2,46 milhões. O Ibama responsabilizou o fazendeiro pela queimada ilegal de 328,60 hectares (o equivalente a 460 campos de futebol) de floresta amazônica na Fazenda Boa Esperança, em Pacajá. 

Em janeiro de 2022, Scherr Junior já havia sido multado em R$ 3,2 milhões por desmatamento na mesma propriedade. Segundo o órgão ambiental federal, 657 hectares haviam sido destruídos, incluindo vegetação nas margens de cursos hídricos. O objetivo, segundo o Ibama, era utilizar a área para a criação de gado.

Em junho, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com um processo contra Scherr Junior. A ação solicitava o pagamento de R$ 3,2 milhões como reparação pelos danos causados.

Em fevereiro deste ano, o processo foi transferido para a Justiça estadual, pelo fato de a área destruída não pertencer à União, nem ser terra indígena ou área protegida federal.

MULTAS ARBITRÁRIAS

Em seu plano de governo, Scherr Junior propõe a regularização e criação de Termos de Ajuste e Conduta de Reflorestamento para produtores rurais que “por erro ou omissão acabaram destruindo parte da mata que deveria estar preservada”.

De acordo com o documento, a medida tem por objetivo proteger fazendeiros de uma “possível intervenção do Ibama e de aplicação de multas arbitrárias e altíssimas, apenas com intuito de prejudicar o colono”.

Scherr Junior declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 13,8 milhões, dentre fazendas, automóveis, aplicações financeiras e quase 3.000 cabeças de gado. Ele é o décimo candidato a prefeito mais rico do Pará nas eleições deste ano.

Fonte: https://horadopovo.com.br/candidato-bolsonarista-na-capital-do-desmatamento-acumula-r-117-milhoes-em-multas-do-ibama/