MP-SP investigará morte de Lourivaldo, esmagado em linha privatizada do Metrô

Protesto em frente a estação Campo Limpo, da linha 5-Lilás – Foto: Reprodução/TV Globo

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) abriu investigação para verificar a segurança da Linha 5-Lilás do metrô na estação Campo Limpo, na zona Sul de São Paulo, gerida pela empresa privada ViaMobilidade, após a morte de um passageiro que foi esmagado entre as portas do metrô e da plataforma,  na última terça (06).

Na última quarta-feira (7), a estação de metrô Campo Limpo foi palco de um protesto convocado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O ato foi realizado um dia depois da morte de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, de 35 anos.

A promotoria fez questionamentos para a ViaMobilidade, que administra a linha, sobre as condições do transporte e eventuais falhas no embarque e desembarque. A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) e o governo estadual também foram notificados.

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP) havia notificado a concessionária e deu cinco dias para esclarecimentos. Além da ação do Tribunal de Contas, a Assembleia Legislativa de São Paulo também tomou medidas para investigar o incidente.

A Comissão de Transportes e Comunicações aprovou uma diligência na estação onde o acidente ocorreu, uma iniciativa liderada pelo deputado Donato, do Partido dos Trabalhadores. O objetivo desta diligência é verificar a situação no local e obter respostas sobre o ocorrido. 

FALTA DE SENSORES

Diferentemente do Metrô do estado, as estações que estão sob o comando da concessionária não possuem sensores de presença, que evitam esmagamento no espaço onde a vítima ficou presa.

As portas automáticas das plataformas de trem e as dos vagões de metrô são automatizadas. Elas abrem e fecham em sincronia com as portas do trem, oferecendo segurança e organização no embarque e desembarque dos passageiros. Elas protegem e bloqueiam, por exemplo, o acesso ao trilho e impedem a queda de pessoas e objetos.

Antes do fechamento das portas, há um aviso sonoro. A porta da plataforma e a do trem deveriam ter sensores de segurança que detectam se foram fechadas corretamente ou se há algum objeto ou pessoa obstruindo o fechamento ou entre ambas, como o que causou a morte Lourivaldo.

Quando elas não fecham por completo, o sensor — quando existente — acusa, e as portas se abrem de novo, como se fosse uma porta de elevador. No caso do incidente de terça-feira (6), porém, de acordo com testemunhas, isso não aconteceu, e o trem seguiu viagem.

PROTESTO

“A manifestação de hoje foi mesmo, para além de mostrar solidariedade à família do companheiro que perdeu sua vida, foi para mostrar também a indignação e o que a população passa no metrô de São Paulo”, diz Cleik Simone, conhecida como Moni do MTST, que classifica o acontecido como uma “tragédia anunciada”.

“Quando tudo for privatizado, seremos privados de tudo, até da nossa própria vida”. Com esse mote, os manifestantes se reuniram na porta da estação, segurando velas e cartazes, que foram colados nas paredes. Com a foto de Lourivaldo, um dos cartazes denuncia: “não foi acidente, foi negligência”.

“O que aconteceu é algo que já estava anunciado. Vêm as privatizações (…), e os serviços só vão piorando”, diz Moni.

Além do MTST, participaram do ato integrantes do Sindicato dos Metroviários, do Movimento Passe Livre (MPL), do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e do Movimento Luta de Classes. Com tinta vermelha, a frase “Tarcísio, a culpa é sua” foi pintada no chão.

A linha 5-lilás, que liga o Capão Redondo à Chácara Klabin, foi transferida para a iniciativa privada em 2018, durante o governo de Geraldo Alckmin, então no PSDB. Formada pelo Grupo CCR e Ruas Invest Participações, a concessionária ViaMobilidade venceu o processo e assumiu a concessão por 20 anos.

RESPONSABILIDADE É DA VIAMOBILIDADE

Em nota, o sindicato dos metroviários de São Paulo se solidarizou com os familiares de Lourivaldo e repudiou as ações da ViaMobilidade, que visa a lógica no lucro e contra a segurança da população.

“Manifestamos toda solidariedade aos familiares de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, vítima fatal do trágico acidente ocorrido na estação Campo Limpo da Linha 5 – Lilás. Estendemos a solidariedade aos trabalhadores metroviários que atuaram nesta triste ocorrência e também aos usuários que presenciaram a tragédia”, disse.

“Exigimos investigação rigorosa e independente sobre o ocorrido. Trata-se de caso grave e que, se não for devidamente apurado, corre-se o risco de novos acontecimentos semelhantes. A Linha 5 não foi construída originalmente com portas de plataforma. A instalação dessas portas é um elemento de segurança importante para a população usuária. Porém, se for um trabalho focado em custo reduzido, isso pode ter impacto negativo sobre a segurança da população. A sociedade deve cobrar a ViaMobilidade sobre o funcionamento dos sensores das portas de plataforma da Linha 5. Esses sensores podem impedir o fechamento das portas com presença de pessoas e, por consequência, impedir o deslocamento de trens, evitando situações trágicas como a de hoje”, continuou o sindicato.

“A Linha 5 foi privatizada em 2018 e, de lá para cá, a lógica do lucro imperou na sua operação. Com isso, cresceram as falhas e diminuiu a segurança dos passageiros. Logo após o acidente e antes de qualquer perícia, houve lavagem do local. Muitos passageiros comentaram sobre a insensibilidade da ocorrência ter sido tratada como algo corriqueiro e cotidiano. Repudiamos a nota da ViaMobilidade que responsabiliza a vítima pela sua própria morte, alegando que o passageiro ignorou os avisos sonoros de fechamento das portas. A responsabilidade é da ViaMobilidade que, sob a lógica do lucro e da redução de custos, não investe na segurança do sistema. A responsabilidade é também do governo Tarcísio, que aprofunda a política de privatização”, afirmou o sindicato.

Fonte: https://horadopovo.com.br/nao-foi-acidente-mp-sp-investigara-morte-de-lourivaldo-esmagado-em-linha-privatizada-do-metro/