O almirante branco e o Almirante Negro

Muitos integrantes das Forças Armadas brasileiras não perdem uma oportunidade de mostrar que estão na vanguarda do que há de mais atrasado no país.

O racismo, elitismo, corporativismo, reacionarismo e a aversão ao pensamento crítico, que são marcas das classes mais abastadas desde o início da história do Brasil, encontram em boa parte dos fardados o terreno fértil para se reproduzir. Tudo sob o surrado discurso de patriotismo e honestidade, como se a turma da caserna tivesse o monopólio da retidão.

Ao menos para isso serviram os anos de Jair Bolsonaro na Presidência, provar que a autoimagem dos militares não corresponde à realidade. Vimos oficiais negociando joias que são patrimônio público e “patriotas” fardados que conspiram contra o próprio país, em tentativa de golpe.

Mesmo aqueles que não são golpistas estão longe do razoável. Aí está o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, para provar.

Dessa vez, temos o almirante branco destilando em público e sem pudor todo o seu racismo contra o Almirante Negro. Para Olsen, João Cândido, o herói da Revolta da Chibata, que, em 1910, se insurgiu contra os castigos físicos impostos por seus superiores da Marinha, seria um “exemplo reprovável de conduta”.

Ele se manifestou contra a inclusão do nome de João Cândido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Chamou os marinheiros envolvidos na revolta de abjetos, e disse que os enaltecer significa exaltar atributos que não contribuem para “o pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado democrático de Direito”.

Certamente, Olsen deve achar que heroicos seriam os subordinados negros aceitarem submissos as chibatadas de seus superiores, brancos como ele. Esse é o seu “Estado democrático” ideal.

A revolta contra os maus tratos, para o comandante da Marinha, foi episódio “vergonhoso” e “deplorável”, apesar de classificar como “inaceitáveis” os atos de violência dos oficiais sobre seus subordinados. Por esse pensamento, Olsen parece achar que os marinheiros negros deveriam aceitar o inaceitável até que seus superiores brancos chegassem à conclusão de que estavam fazendo algo reprovável.

Estariam apanhando até hoje.

O almirante branco ainda acusa os insurgentes de reivindicar “vantagens corporativistas e ilegítimas”, citando aumento de salários, regime de trabalho menos exigente e exclusão de oficiais considerados, por eles, indignos de servir a Marinha.

De vantagens corporativistas e ilegítimas, militares de alta patente como Olsen entendem. Basta olhar os salários e benefícios que recebem a cúpula das Forças Armadas e comparar com a remuneração dos civis ou mesmo de militares de baixa patente.

O almirante branco, nesse caso, utiliza com o Almirante Negro a tática vil da extrema direita contra os inimigos: acuse-os do que você faz.

Fonte: https://iclnoticias.com.br/o-almirante-branco-e-o-almirante-negro/