120 mil turistas, voos extras, famosos em camarotes: a estrutura que move Parintins

Todos os anos, o município de Parintins, no interior do Amazonas, que conta com cerca de 112 mil habitantes, se prepara para “dobrar” de tamanho na última semana de junho, quando acontece o Festival Folclórico de Parintins. Em 2024, a expectativa é de cerca de 120 mil turistas na cidade para acompanhar a disputa entre os bois Caprichoso e Garantido.

É essa a dimensão do evento, um dos principais da cultura do Brasil, que movimenta todos os anos milhões de reais, centenas de voos, equipamentos tecnológicos para transmissão em Full HD, inúmeras celebridades e milhares de visitantes… todos com destino à “ilha da magia”, no meio da Floresta Amazônica.

Segundo Ian Ribeiro, presidente da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), por trás do festival existe uma grande estrutura montada que sai de Manaus, capital do estado, semanas antes para a organização do festival.

Isso envolve equipamentos, veículos e trabalhadores de diversas áreas. “O governo leva um quantitativo de pessoas muito alto. Você aumenta policiamento, viaturas, Corpo de Bombeiros, funcionários de saúde. É uma mobilização muito grande para realização do festival. É uma ilha, então vai tudo por balsa, né? Toda a estrutura do festival sai de Manaus. A estrutura de som, iluminação de câmera, leds, toda a estrutura do receptivo de turistas, todas as tendas montadas, todos os pavilhões, tudo vai de balsa de Manaus para Parintins.”

Ian Ribeiro, presidente da Amazonastur / Lucas Silva/Amazonastur

Recorde de turistas

A expectativa para o Festival de Parintins em 2024 é de recorde de turistas na ilha tupinambarana. A Amazonastur, responsável pela recepção dos visitantes, espera receber cerca de 120 mil pessoas na cidade. Isso significa mais do que dobrar a população comum de Parintins, que é de 112 mil habitantes.

Naturalmente, a cidade não conta com espaço hoteleiro para receber tantos turistas. É por isso que os organizadores tentam, a todo custo, acomodar e receber bem o maior número possível de pessoas nos hotéis e pousadas disponíveis. “Nossa equipe fica mais de 20 dias na ilha fazendo todo o preparativo. Ir aos hotéis, dar os treinamentos, fazer as capacitações, as adequações que precisam ser feitas, regularizar os empreendimentos”, diz Ribeiro.

Em Parintins, um dos principais meios de transporte é o triciclo — considerado patrimônio da cidade. Até esse ponto é reparado e preparado para ter uma recepção adequada aos turistas, relata Ian. “Tem os tricicleiros também. A gente normalmente dá um novo uniforme para esses tricicleiros, para o Festival de Parintins. Dá a reforma dos triciclos também para que eles possam trabalhar de uma forma melhor, para agradar mais os turistas, né? São patrimônios culturais de Parintins.”

Triciclo em Parintins / Tacio Melo/Amazonastur

A cidade conta com diversos pontos para recepção de turistas durante o dia, como Turistódromo (onde é possível viver a cultura amazonense e conhecer um pouco da história dos bumbás), a Praça Digital, o Porto de Parintins e a praça principal da cidade, onde fica a Catedral de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade.

Turistódromo em Parintins / Tácio Melo/Amazonastur

Milhões de reais e novos comércios

Além da recepção aos turistas, a Amazonastur espera que outro recorde seja quebrado: o de arrecadação. Em 2023, o turismo gerou R$ 146,6 milhões para a economia de Parintins durante o Festival Folclórico, a melhor marca da história até então. O número significou um aumento de 30% em relação ao mesmo período de 2022. Para este ano, a expectativa é que o montante gire em torno de R$ 150 milhões de reais.

Para Ian Ribeiro, o valor deixado pelos visitantes na ilha amazonense é de grande importância. “Isso é fonte de renda para muita gente durante o ano todo, até o ano seguinte.” Ele ressalta, também, o aumento da rotatividade no comércio da cidade. “Na semana do festival, uma pessoa recebe, em um restaurante, um número maior do que recebe o ano todo. Se um restaurante tá lotado, o turista procura outro, e outro… acaba que todo comerciante consegue vender.”

Ian também destaca que, nos últimos anos, nota-se o aumento de estabelecimentos relacionados a alimentação na cidade. “As pessoas estão abrindo novos restaurantes, novos bares, até com pegadas diferentes do que normalmente tem na cidade. Bares mais sofisticados, com drinks mais específicos e bem elaborados. As pessoas estão vendo a demanda crescer, né.”

Toneladas de equipamentos e transmissão em full HD

É da nossa terra, tá na nossa tela” é o slogan da TV A Crítica, emissora amazonense que é parceira do Festival de Parintins há 35 anos — sendo os últimos 10 ininterruptamente. Integrante da Rede Calderaro de Comunicação, a emissora leva para a ilha da magia uma grande estrutura de transmissão, de onde são geradas imagens em full HD transmitidas pela TV e pela internet, através do canal da A Crítica no YouTube.

O vice-presidente da empresa, Dissica Calderaro, diz que todo o material da empresa sai de Manaus quase um mês antes do festival. Tudo é levado de balsa até Parintins. “Com 25 dias para o festival, embarcamos todo o material que vamos utilizar na transmissão. Contamos com caminhões de transmissão, carros para as equipes, equipamentos… tudo para dar suporte para o nosso time conseguir desempenhar um bom trabalho.”

Dissica destaca o número de funcionários que a Rede Calderaro envia para Parintins — e toda a estrutura que a empresa monta para conseguir transmitir o Festival em multiplataforma. “Levamos cerca de 130 pessoas só para a transmissão na TV e no YouTube da A Crítica. Se contar as mídias digitais e a rádio do grupo, são cerca de 160 pessoas. Imagina alocar tudo isso num lugar que tem uma grande dificuldade hoteleira? Todo ano reservamos um hotel inteiro, de 3 andares, só para a nossa equipe.”

Sobre a estrutura de transmissão, Dissica ressalta o uso de equipamentos de última geração e a dificuldade de realizar uma transmissão tecnológica em uma cidade no meio da floresta amazônica. “Usamos 4 drones para transmissão ao vivo, equipamentos de ponta. Mas é difícil. Levamos geradores para ajudar, a telefonia na cidade é ruim. Se der problema em um equipamento, não dá para voltar em Manaus para trocar.”

Dissica destaca o trabalho e a afinação necessários para realizar uma boa transmissão. “Você vê na arena. Vai descendo uma dança em um guindaste, de repente por trás sai um cara voando em um drone, do outro lado sai uma alegoria com 18 partes que abrem e vem um monstro caindo no meio do Bumbódromo enquanto as tribos estão dançando. Imagina filmar isso tudo com a sequência que precisa ser mostrada.”

A Azul, companhia aérea responsável pelos voos que chegam até Parintins, terá 150 voos extras para a cidade do interior do Amazonas partindo de Manaus na última semana de junho, quando acontece o Festival Folclórico de Parintins. O número representa cerca de 18 mil assentos no trajeto. É o dobro de 2023, quando a Azul colocou cerca de 9 mil lugares à venda durante o festival.

Segundo Vitor Silva, gerente geral de Malha e Planejamento Estratégico da Azul, o reforço será importante para dar mais visibilidade ao Festival e movimentar o turismo e comércio da região. “É um evento que mostra nossa brasilidade e a cultura amazonense para o exterior, por isso estamos dobrando a oferta de assentos, pois sabemos que é uma rota cuja procura aumenta a cada ano.”

Nos dias do festival, a Azul calcula uma média de 14 voos diários no trecho Manaus-Parintins, um a mais que a ponte aérea Rio-SP, a rota doméstica mais movimentada da Azul, que conta com 13 decolagens por dia. Isso acontece porque há uma grande demanda de clientes para a festa. “Muita gente vai e volta de Manaus no mesmo dia, por conta da falta de lugares na área hoteleira em Parintins. Então estamos reforçando nossa operação para o Festival”, diz Vitor.

Além dos voos a partir de Manaus, a Azul colocará aviões para fazer os trechos saindo de Tefé (AM), Tabatinga (AM), Belém (PA) e Santarém (PA) até Parintins. A empresa disponibilizará, também, voos extras de Macapá (AP) e Belo Horizonte (MG) para Manaus, com o intuito de facilitar a conexão até a cidade do Festival.

Vitor diz que, como patrocinadora oficial do Festival, “a Azul tem o compromisso de oferecer a melhor conectividade para a região, o que facilitará a chegada de mais turistas, além da melhor experiência aos nossos clientes”. Ele ainda ressalta que serão pelo menos 200 pessoas envolvidas nos trabalhos da Azul durante o Festival — entre tripulação, funcionários de aeroportos e outros setores.

Sobre os planos de um voo direto de São Paulo, Campinas ou Belo Horizonte para Parintins, Vitor diz que existe um planejamento para o ano que vem, já que o aeroporto da cidade amazonense não tem área de reabastecimento de aeronaves, inviabilizando um voo mais longo — o que demandaria o reabastecimento para a volta. “Estamos trabalhando com o governo do estado para criar uma área de abastecimento fixa no aeroporto, para podermos ampliar nossa oferta de voos para Parintins, oferecendo mais opções para os turistas na época do festival e durante o ano todo”, finaliza.

O que não falta na organização do festival é a lista de celebridades com interesse em conhecer e divulgar o evento. Com a popularização do festival nos últimos anos e a participação de Isabelle no BBB 24, a organização notou o aumento do interesse de famosos em ir até Parintins. “A procura acontece das duas formas, nós vamos atrás de alguns famosos e tem alguns que vem nos procurar porque eles querem conhecer o festival. Esse ano, o passivo (celebridades procurando a organização) está muito maior do que nos anos anteriores. Continuamos fazendo a parte ativa, de procurar celebridades específicas que achamos que se enquadram mais na forma de divulgação, que achamos adequada. Por outro lado, temos muitas pessoas que estão procurando”, relatou o presidente da Amazonastur.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/120-mil-turistas-voos-extra-famosos-em-camarotes-a-estrutura-que-move-parintins/