O Amazonas vive um momento histórico para a bioeconomia e o desenvolvimento sustentável. Nesta sexta-feira (09/05), o município de Carauari, a 788 quilômetros de Manaus, sediou a primeira feira de venda legalizada de quelônios manejados por comunidades tradicionais.
“É motivo de muita alegria pra gente ter uma feira para reconhecer o trabalho de conservação que é feito por esses homens e mulheres. É um esforço de proteção à natureza e, especialmente, de proteção das pessoas que preservam e ninguém sabe fazer isso melhor do que eles”, disse o governador Wilson Lima.
Resultado de quatro décadas de conservação
A comercialização inédita é fruto de mais de 40 anos de esforços comunitários para proteger as espécies, especialmente na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari, sob gestão da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). A região também abriga a Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Graças ao trabalho de monitoramento, essa área hoje possui uma das maiores populações de quelônios de água doce do Brasil. Apenas em 2024, foram mais de 8,6 mil ninhos acompanhados, resultando em mais de 361 mil filhotes devolvidos à natureza.
“A proposta dessa atividade é conservar as populações desses animais, garantindo sua sobrevivência a longo prazo e, ao mesmo tempo, permitindo que as comunidades locais possam gerar renda sustentável. É um salto gigante que damos na materialização da bioeconomia na prática”, afirmou o secretário de Meio Ambiente, Eduardo Taveira.
Renda com responsabilidade
O ribeirinho Francisco Mendes, conhecido como “Bomba”, foi um dos primeiros a atuar com o manejo dos quelônios.
“Foi um sonho que a gente teve há muito tempo e hoje, graças a Deus, está sendo realizado. É um privilégio para todos os monitores do Médio Juruá, porque é mais uma renda que vai surgir para as comunidades”, disse ele.
A feira de comercialização reuniu mais de 1 mil quelônios legalizados, todos identificados com lacres e recibos oficiais, sendo vendidos a R$ 20 o quilo. A ação beneficia diretamente 50 famílias e deve gerar cerca de R$ 80 mil, promovendo renda com responsabilidade socioambiental.
Do risco à proteção
Quelônios como a tartaruga-da-Amazônia e o tracajá sempre foram parte da dieta e cultura dos povos ribeirinhos. No entanto, a captura predatória e o comércio ilegal reduziram suas populações. Em resposta, as comunidades começaram, nos anos 1980, a monitorar voluntariamente os ninhos.
Essa iniciativa segue a metodologia do projeto Pé-de-Pincha, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), combinando ciência e conhecimento tradicional.
“Esse é um momento esperado há muito tempo. Representa o fruto desse esforço deles na conservação e do conhecimento tradicional somado ao conhecimento científico”, destacou Paulo Andrade, coordenador do programa.
Legalização e apoio institucional
Em 2017, o Estado reconheceu oficialmente o trabalho comunitário por meio das resoluções nº 25 e 26 do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Cemaam), que estabeleceram diretrizes para o manejo sustentável e a comercialização de parte dos filhotes.
Em 2019, comunidades como Xibauazinho, Manariam e Vila Ramalho receberam autorização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para realizar manejo experimental, com apoio da Associação dos Moradores Agroextrativistas da RDS Uacari (Amaru).
“Esse modelo garante a conservação da espécie e valoriza o conhecimento tradicional”, disse Gustavo Picanço, presidente do Ipaam.
A iniciativa também conta com o apoio da Sema, Ipaam, ICMBio, Ufam, Amaru, Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Asproc, Amecsara e Instituto Juruá.
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Fonte: https://emtempo.com.br/398720/amazonas/amazonas-realiza-primeira-venda-legal-de-quelonios/