Mudanças climáticas influenciam na produção e preços dos alimentos

Irlaine Nóbrega

As mudanças climáticas são algumas das maiores problemáticas que a humanidade vem lidando. Isso porque o aumento das temperaturas, mudança nos padrões de precipitação e maior ocorrência de catástrofes naturais tem afetado principalmente a agricultura, setor responsável pela alimentação. Com as extremas variações climáticas, a qualidade dos produtos alimentícios pode ficar prejudicada.

A produção de alimento pela cultura agrícola depende diretamente de boas condições climáticas para ter sucesso. A emissão desenfreada de gases que agravam o efeito estufa tem influenciado na temperatura global e no volume de chuvas, o que causa dúvida quanto a disponibilidade de alimentos.

Uma das principais consequências do agravamento do efeito estufa é a intensificação do fenômeno El Niño, que ocorre a cada dois a sete anos. Se trata do aquecimento superficial maior ou igual a 0,5ºC das águas do Oceano Pacífico, gerando impacto no aumento da temperatura global. A última ocorrência do fenômeno (2023-2024) foi considerada uma das cinco mais fortes registradas, segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO).

Nesse período as águas do Pacífico atingiram o pico de 2ºC acima da média dos anos de 1991 a 2020. Atualmente, os impactos vêm enfraquecendo, o que indica que há 80% de chance de atingir a neutralidade entre abril e junho, mas, ainda, 60% de continuar a atuar até o mês de maio. Com ápice entre dezembro de 2023 e janeiro deste ano, o fenômeno está entre as principais causas de mudanças climáticas e seus impactos na produção alimentícia.

“Desde julho de 2023 os modelos já estavam estimando condições típicas de El Niño, que ainda continua com sérias anomalias até final de abril de 2024. Esse efeito compromete a circulação geral da atmosfera, causando secas na parte Norte do Brasil, principalmente no Baixo Amazonas, seguindo até o Acre”, esclarece Lucieta Martorano, doutora em Agrometeorologia e pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.

Por conta do El Niño, o Brasil registrou fortes chuvas nas regiões Sul e Sudeste, enquanto as regiões Norte e Nordeste presenciaram uma redução drástica das chuvas, comprometendo a produção agrícola. Em caso de alta precipitação, a quantidade de água no solo fica elevada e causa a morte de sementes e pequenos pés de plantas. Nos casos de redução, os estoques de água do solo ficam escassos, dificultando o desenvolvimento das culturas agrícolas.

EFEITO

“Cada espécie possui o seu potencial máximo em forma, sabor e nutrientes. Com a redução da oferta de água às plantas, o efeito é sempre em cascata em termos de perdas. Sem água no solo ocorre abortamento das flores. Quando são mantidas há redução no tamanho e qualidade de muitas frutífera. Na região Norte, as pessoas costumam utilizar a farinha de mandioca como base na alimentação. Com a forte seca, essa é uma cultura que cai drasticamente a produtividade e os preços se tornam elevadíssimos”, revela a agrônoma Lucieta Martorano.

Apesar de ser 10º lugar em participação no agronegócio, o Pará tem alto grau de dependência de importação de alimentos dos grandes centros produtores, o que encarece ainda mais o valor dos alimentos. Durante o período chuvoso, chamado de “inverno amazônico”, a região passa por período de entressafra de alguns alimentos regionais e enfrenta consequências materiais relacionadas a danos em pontes e estradas que interligam estados e municípios exportadores de alimentos ao estado, ocasionando na alta do custo do frete.

“Ainda dependemos, e muito, do feijão da Bahia, do arroz do Sudeste, do tomate do Sul. O açaí e a farinha de mandioca são produtos que o Pará é líder em produção, mas é um processo muito artesanal. Isso faz com que entrem em cena os atravessadores, que também fazem parte da precificação. São pessoas que compram e vendem o produto ao seu valor, isso traz prejuízo para os consumidores”, explica Everson Costa, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA).

Belém ocupa a 11ª posição entre as capitais com maior valor da cesta básica, conforme pesquisa do Dieese-PA. Foram pelo menos nove alimentos que apresentaram alta durante o mês de fevereiro, incluindo o arroz, feijão, carne bovina, tomate, manteiga, banana, farinha de mandioca, leite e o pão. Com alta de 1,27% em relação ao mês anterior, o custo da cesta básica chegou a R$665,12 na capital, comprometendo mais da metade do valor do salário mínimo (R$1.412)

De acordo com a pesquisadora Lucieta Martorano, os impactos das altas temperaturas na disponibilidade de alimentos diversos compromete a economia e a segurança familiar principalmente de pessoas de baixa renda e em condições de vulnerabilidade social.

Para mitigar as consequências climáticas são necessárias estratégias de irrigação como as do projeto IrrigaPote, que abastece água da chuva durante o ano para manter potes de argila sempre cheios. A função é prover água às plantas em período seco, que, através das raízes finas, sugam o líquido necessário dos potes para se manterem vivas.

Fonte: https://diariodopara.dol.com.br/belem/mudancas-climaticas-influenciam-na-producao-e-precos-dos-alimentos-118310/