Empresas acusadas de ligação com PCC receberam R$ 800 milhões da Prefeitura de SP

A Prefeitura de São Paulo repassou R$ 800 milhões para empresas de ônibus acusadas de ligação com o crime organizado em 2023. A Transwolff e a UPBus, que atuam nas zonas Sul e Leste da capital paulista, são alvos de investigação pelo Ministério Público de São Paulo. Juntas, elas transportam cerca de 700 mil passageiros por dia. A primeira delas recebeu 740 milhões; já a outra foi remunerada com R$ 81,1 milhões, segundo relatório do MP, obtido pela F. de São Paulo. 

As duas empresas investigadas por suspeita de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), são apontadas pelo órgão como “organizações criminosas” que lavam dinheiro do tráfico de drogas e outros crimes. Na terça-feira (9/04), sei pessoas foram presas em uma operação do MP, e 29 foram denunciadas na quinta (11). 

Dados da Receita Federal mostram que os investigados detêm, juntos, patrimônio de mais de R$ 148 milhões. Entre 2020 e 2022, eles movimentaram mais de R$ 732 milhões em suas contas correntes. Operações de compra e venda de imóveis e bens de luxo foram identificadas entre as movimentações. 

O Fisco mostra tratar-se de uma “rede de holdings”, empresas de participação em empresas e revendedoras de veículos pertencentes a pessoas vinculadas aos investigados. Entre os bens que passaram por essas empresas está o helicóptero usado numa emboscada para matar Gegê do Mangue e Paca, líderes do PCC, em 2018.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que visitou a Transwolff e a UPBus nos últimos dias, elogiou a atuação delas e disse que “não dou o dinheiro para a empresa do PCC”. Segundo Nunes, “eu remunero um serviço contratado para transportar os passageiros”. Ele justificou que a as duas empresas participaram de uma licitação e foram vencedoras junto a outras 30 entidades.  “Houve uma licitação, 32 empresas ganharam, elas estão com um contrato com a prefeitura, transportam as pessoas e me cabe fazer o pagamento”. 

“Agora, se ela é ligada ao PCC, se não é, se a pessoa cometeu algum crime”, continuou o prefeito, “quem tem que investigar é o Ministério Público e a Polícia Civil, apresentar as provas ao judiciário e ser condenada”, defendeu. 

Os serviços operados pela Transwolff e a UPBus que agora sob intervenção do MP, foram assumidos pela SPTrans até o desfecho das investigações. Nunes nomeou dois diretores para cuidar da operação e afirmou que só irá impor eventual restrição quando o inquérito foi concluído. “Não é possível que, por suposição, a gente vá sair rompendo o contrato, porque eu vou tomar uma invertida de multa contratual”, alegou. 

Entre os presos na operação do MP está Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o “Pandora”, dono da Transwolff. Ele atua no setor de transportes desde a década de 1990. Pandora já havia sido preso em 2006 por suspeita de financiar uma tentativa de fuga de presos ligados ao PCC com dinheiro da Cooper Pan. A Copper Pan, uma das principais cooperativas de transporte foi incorporada à Transwolff em 2024. 

A cooperativa era formada por ex-perueiros, como eram chamados os operadores do transporte clandestino na cidade de São Paulo, até 2003, quando foi criado o Sistema Interligado e a modalidade foi legalizada. O sistema dividiu o município em oito áreas que passaram a ser atendidas por ônibus de diferentes cores, de acordo com a região.

As investigações do MP apontaram que dirigentes da cooperativa chegaram a ameaçar os cooperados para transferir o controle da CooperPam para a Transwolff, ou TW. Em 1987, a mulher de Pandora, Helena Cristina Reis Magela, fundou a Transwolff Transportes e Turismo Ltda.  Três anos depois, ela transferiu o controle para o marido.

A partir de então, segundo a investigação do MP, Pandora se tornou um dos principais aliados do PCC, atuando na lavagem de dinheiro por meio de sua empresa como também nos bastidores para libertar presos da organização criminosa.

APORTE DO CRIME

De acordo com o MP-SP, o Primeiro Comando da Capital (PCC) aportou R$ 54 milhões, obtidos com tráfico de drogas e outros crimes, para permitir que a Transwolff participasse da licitação do transporte público na capital paulista.

O dinheiro da facção foi ocultado a partir da criação da empresa MJS Participações Ltda., em 2014, que ingressou no quadro societário da Transwolff no ano seguinte, segundo a promotoria. Com isso, o capital social da Transwolff, que até então operava por contratos emergenciais com a Prefeitura, saltou de R$ 1 milhão para R$ 55 milhões em 2015.

O aporte habilitou a TW, como a viação é conhecida, a participar da licitação do transporte público, que foi lançada naquele ano pela gestão Fernando Haddad (PT) com o objetivo de renovar os prestadores de serviço. O edital exigia que os concorrentes tivessem capital social de, no mínimo, R$ 25 milhões.

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