Prefeitura demite médicos de hospitais, corta verba de combate à dengue e pede “paciência” a paulistanos

Em meio a uma crise acentuada de casos de dengue na capital paulista, os hospitais públicos municipais enfrentam uma situação aguda de superlotação, enquanto o prefeito, Ricardo Nunes (MDB) corta pela metade a verba de combate à doença e o serviço público opera 2024 com 521 médicos a menos do que no ano passado.

A superlotação dos hospitais foi registrada por diversas reportagens do SPTV, da Rede Globo, que flagrou vários problemas nos hospitais do Tatuapé – o maior da rede municipal de saúde e Campo Limpo, na zona sul.

Além da superlotação, esses hospitais enfrentam problemas de infraestrutura como elevadores interditados, falta de medicamentos e material de apoio para pacientes e familiares acompanhantes.

Relatos ouvidos pela TV Globo dão conta de que as famílias têm comprado material para poder ofertar aos entes internados no Hospital do Tatuapé, por exemplo. O motorista Fábio da Silva Caruzo tem a mãe de 61 anos internada na unidade desde 13 de março.

Quem comprou os remédios usados por ela no hospital foi o irmão dele. Ela é diabética e estava com um pequeno machucado no dedo do pé. Agora já está quase perdendo o pé por causa dos ferimentos.

“Você conversa com um, com outro [no hospital], pede informação. E eles dizem que você tem que vir no horário da visita, das 15h30 às 16h30. Aí o médico vai passar aqui, conversa com vocês e explica como tá a situação. Chega na hora da visita não aparece o médico. Você tem que ir pro oitavo andar. Sobe no 8º andar e chega lá não tem ninguém que possa dar explicação. Fica a Deus dará e ninguém sabe o que fazer”, disse o motorista.

No Hospital Municipal Carmen Prudente, administrado pela organização social Santa Marcelina, em Cidade Tiradentes, a situação não é diferente. A unidade é um hospital para casos de média complexidade de portas abertas. Atende 17 mil pessoas no pronto-socorro e tem 245 leitos.

O hospital tem macas para todos os lados, até na frente dos elevadores. Na enfermaria, é uma maca colada na outra, sem qualquer privacidade. Quem está nos corredores não tem como ter acompanhantes e a alimentação, invariavelmente, fica nas cadeiras porque não há quem dê apoio para o paciente se alimentar.

DEMISSÃO DE MÉDICOS

Dados levantados pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo mostram que a capital perdeu 521 médicos nos hospitais municipais entre 2022 e 2023. Se em 2022 havia 10.382 médicos, no ano passado, este efetivo caiu para 9.861. Uma queda de 5%

O secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Zamarco, ainda pediu nesta terça-feira (26) que a população tenha “um pouquinho de paciência” para enfrentar as longas filas de espera para atendimento.

“Nós pedimos um pouquinho de paciência para a população. Mas o importante é que nenhum paciente no município de São Paulo fica sem atendimento. Todos que chegam em qualquer serviço de saúde, ele vai ser atendido. O médico vai atender, ele vai receber a medicação que precisa e ter o diagnóstico que ele precisa”, disse Zamarco

CORTE DE VERBA

O Ministério Público de São Paulo atuou a Prefeitura de São Paulo por má gestão de dinheiro público na vigilância epidemiológica após uma representação assinada deputado estadual Carlos Giannazi (PSol) e pelo vereador Celso Giannazi (Psol). A Prefeitura cortou os investimentos contra doenças como a dengue caíram quase que pela metade de 2021 a 2023.

De acordo com a representação, quando Ricardo Nunes assumiu a prefeitura de São Paulo, após a morte de Bruno Covas, em 2021, a verba da prefeitura paulistana para a vigilância epidemiológica era de R$ 483,9 mil. Um ano depois, caiu para R$ 435 mil (queda de quase 10%). Em 2023, o valor caiu 42% em relação a 2022, para exatos R$ 249.698 mil.

A representação pede que o MPSP instaure um inquérito para investigar a atuação da prefeitura de São Paulo no combate à dengue. Também pede que a Procuradoria estadual obrigue o prefeito Ricardo Nunes a adotar um plano emergencial contra a doença na capital paulista.

A capital paulista já soma 49.721 casos de dengue, de acordo com a própria prefeitura. Segundo os irmãos Giannazi, a queda de investimento pode estar diretamente ligada ao boom de casos da doença neste ano. Os valores de 2024 ainda não foram computados pelo sistema da prefeitura.

Integrantes da campanha de Nunes à reeleição argumentam que a queda de gastos com vigilância epidemiológica se dá pelo recrudescimento da pandemia de covid-19 e que não faria sentido manter os investimentos naquele patamar.

Já a prefeitura de São Paulo alega que os dados estão equivocados e os investimentos contra a dengue, na verdade, representam um recorde desde 2015.

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