SPTrans assumirá linhas de ônibus de São Paulo após prisão de diretores de empresas privadas

Nesta terça-feira (9), diretores de duas empresas de ônibus que operam na cidade de São Paulo, como a Transwolff e Upbus, foram presos nesta manhã na capital em uma operação do Ministério Público de São Paulo. Há suspeita de ligação dessas pessoas com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Até por volta de 11h, três dirigentes ligados à Transwolf, que atua na Zona Sul da cidade, haviam sido presos, e um dirigente da UPBus, que opera na Zona Leste, estava foragido. Um homem que não era alvo da operação, mas estava em um dos endereços onde foram feitas buscas, foi preso por porte ilegal de armas.

Os presos foram: Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como “Pandora”, dono da Transwolff. Ele foi preso dentro de casa; Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff. Ele foi preso na garagem da Transwolff; Joelson Santos da Silva, sócio e representante legal de um escritório de contabilidade que, segundo o MP, dava suporte ao esquema da Transwolff. Não foi informado onde ele foi achado e; Elio Rodrigues dos Santos. Não era dirigente de nenhuma empresa e não era alvo da operação, mas foi preso em flagrante por porte ilegal de arma em um dos endereços onde foram feitas buscas. Está foragido Silvio Luis Ferreira, o “Cebola”, sócio da Upbus.

A operação tem a participação da Receita Federal, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Polícia Militar. Ao todo, foram cumpridos 52 mandados de busca e apreensão na operação. As ações ocorreram na capital, Grande São Paulo e em cidades do interior paulista.

No imóvel de um de Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da Transwolff, foram encontrados diversos fuzis, revólveres, além de dinheiro e joias.

Ambas as empresas já tinham histórico de problemas, falhas na operação, além denúncias anteriores de ligação com o crime organizado. Há duas semanas, passageiros quebraram equipamentos do Terminal Varginha II após atraso de mais de duas horas em um das linhas operadas pela Transwolff. Por conta dos atrasos e falhas, a SPTrans tirou seis linhas da empresa e aplicou multa.

Os dirigentes das empresas devem se afastar dos cargos e cinco deles, ligados a UPBus, terão de cumprir medidas, entre elas a proibição de frequentar a empresa de se ausentar da cidade sem comunicação prévia à Justiça.


PREFEITURA

O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a SPtrans, empresa municipal que administra o transporte coletivo na cidade assuma imediatamente a operação das linhas, que transportam mensalmente cerca de 15 milhões de pessoas. 

“Estamos no aguardo com relação à decisão judicial quanto às medidas que a SPTrans precisa tomar”, disse secretário executivo de Transporte e Mobilidade Urbana, Gilmar Pereira Miranda.

Segundo Miranda, a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, tem condições técnicas para dar conta do serviço sem prejudicar a população.

“A gente não vislumbra, neste momento, qualquer substituição de operador. Muito pelo contrário: a gente tem pessoal capacitado na SPTrans, com expertise desde a época que já teve no passado necessidade de intervenção por má prestação”.

“O que a gente tem hoje é que a operação de todas as empresas, incluindo as duas citadas, estão conforme o contrato da prefeitura com eles. Se houver essa ordem judicial, a gente vai passar a gerir a operação, o RH e a manutenção dessas empresas”, continuou.

O secretário garantiu que os funcionários das empresas devem ser mantidos. E que eventuais mudanças de quadros ou no efetivo da frota serão feitas pontualmente.

“Será mantido o emprego de todos os operadores, os veículos são de ótima qualidade, dentro do cenário brasileiro e até sul-americano, então a gente vai manter a operação da cidade de SP.”

HISTÓRICO

Durante quase cinco anos de investigação, os promotores do grupo de combate ao crime organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.

A suspeitas de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vêm desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus.

Em 2003, a prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul.

Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes dessa cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados a transferir o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff. Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados.

Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura de SP chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão.

Só em 2019, depois que o TCM liberou a licitação, a prefeitura da capital assinou 32 contratos para a concessão das linhas de ônibus da cidade, por um prazo de 15 anos.

No caso da UPBus, o Ministério Público afirma que os diretores integram a cúpula da facção criminosa. Um dos donos da empresa era Anselmo Bicheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”.

Anselmo foi assassinado e degolado em dezembro de 2021. A cabeça dele foi deixada em uma praça do Tatuapé, também na Zona Leste.

Os promotores descobriram que outros chefes da facção criminosa fazem parte da direção da UPBus. Dois deles aparecem entre os sócios: Alexandre Salles Brito, chamado de Buiú, e Claudio Marcos de Almeida, o Jango. Eles já foram alvo de investigação por crimes graves como homicídios, tráfico de drogas, sequestros e roubo a bancos.

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