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No ano passado, o G20 abriu espaço nas suas estratégias para ouvir 50 mil crianças e adolescentes de 60 países
No ano passado, o G20, grupo dos mais importantes países do mundo, com economia e organização política melhor definidas, abriu espaço nas suas estratégias, pela primeira vez de maneira mais abrangente, para ouvir 50 mil crianças e adolescentes de 60 países, na intenção de saber o que eles pensam sobre as condições em que se vive no mundo de hoje, e o que esperam para o seu futuro, quando chegarem à idade adulta.
Os resultados desse levantamento, recentemente divulgados, mostram que crianças e jovens se mostram, sim, preocupados com o futuro, especialmente quanto à alarmante degradação natural do planeta, preocupação que carregam, na mesma dimensão, para as chances que terão para ocupar seus próprios espaços numa sociedade que esperam ser melhor do que a de hoje.
Esse diagnóstico, mostrando que crianças e jovens, ao invés do mergulho nos estudos e da imersão no divertimento, já ocupam suas mentes com preocupações com o futuro– o que significa que estão sendo invadidos pelas inquietações da incerteza, da dúvida, do temor -, é um demonstração evidente de que esses grupos precisam ser escutados.
Ao contrário da postura histórica de dar exclusividade aos adultos na preparação das estratégias que levem ao futuro, torna-se cada vez mais significativo, essencial, diria até, dar voz a crianças e jovens para que ajudem a esclarecer as mentes adultas que nos governam, quer seja no terreno da política, da administração, quer seja, igualmente, no terreno econômico, empresarial. E, assim, seja possível traçar metas que reflitam os anseios desse universo negligenciado até hoje.
O Brasil, por suas gigantescas dimensões territoriais, por enormes diferenças entre suas diversas regiões, por conta, sobretudo, de uma herança econômico-social que crava a desigualdade desde a sua colonização, pela consequente manutenção de um modelo econômico centrado no lucro financeiro a serviço de alguns poucos, garante pouco a sua população jovem, acostumada a presenciar verdadeiro espetáculo de injustiças.
Dados extraídos de um levantamento feito pelo Pacto Nacional Pelas Juventudes, apontam o Brasil como o segundo , entre 37 países, com maior número de jovens que não estudam e nem trabalham, num total de cerca de 10 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos de idade, uma condição que já foi pior, mas que permanece trazendo preocupações.
Esse quadro é indicativo de que crianças e jovens precisam, de modo permanente e progressivo, serem escutadas. E mais do que isso, como resultado também das suas falas, possam as autoridades dar prioridade a programas e iniciativas que andem em seu socorro, mudando e melhorando a infraestrutura de escolas e as metodologias do ensino. E esses investimentos têm que caminhar também no sentido do ensino profissionalizante, investindo na formação de estágios para jovens aprendizes, o que implica na necessidade de que as empresas assumam o papel que historicamente estão devendo ao país, de integrar-se aos governos na formação humana do nosso futuro.
O Brasil tem atualmente 630 mil jovens aprendizes, o que é muito pouco para uma população superior a 50 milhões de matriculados atualmente na educação básica, e apresenta dados inexpressivos entre aqueles que estão recebendo os benefícios das empresas na sua formação digital.
Programas governamentais, como o Bolsa Família, têm tido significativa importância na manutenção de crianças e adolescentes na escola (uma exigência formal para que famílias pobres possam ter acesso ao programa), e outros incentivos, como o Pé-de-Meia, lançado no ano passado pelo MEC, com o papel de estimular financeiramente adolescentes a concluírem o ensino médio, têm demonstrado grande eficácia.
Mas é preciso fazer muito mais. Deve tornar-se obrigatório, a partir desses diagnósticos, que precisam ser mais frequentes, debruçar-se sobre o que estão dizendo jovens e crianças, não apenas porque é essencial, sob a sua escuta, garantir-lhes direitos, mas porque que é urgente promover o seu desenvolvimento, proteger a sua integridade e preparar o lugar que eles querem no amanhã.
Governantes, empresários, dirigentes da sociedade civil de todos os níveis, precisam colocar em suas pautas crianças e jovens como agentes de escuta e como elementos fundamentais na estruturação do seu próprio futuro.