Drinque de R$ 34 mil leva ingredientes anteriores à Revolução Francesa

Um dos drinques mais caros do mundo pode ser pedido em Londres pelo preço de 5,500 £ – ou seja, mais de R$ 34.800 na cotação atual. Servido no The Donovan Bar, dentro do cinco estrelas Brown’s Hotel, o coquetel recebe o nome de Salvatore’s Legacy em homenagem ao seu criador, o bartender italiano Salvatore Calabrese.

Concebido em 2012, o drinque recebeu no mesmo ano a distinção de “coquetel mais caro do mundo” pelo Guinness World Records, o Livro dos Recordes.

Mas o que explica a cifra tão alta? A resposta está no uso de ingredientes que datam antes mesmo da Revolução Francesa. “O coquetel tem 750 anos de história líquida em um copo”, diz Salvatore.

Ingredientes seculares

Os ingredientes são provenientes da coleção de destilados vintage do bartender, alguns à mostra em um armário envidraçado na entrada do The Donovan Bar, onde é possível avistar até um conhaque de 1796. Salvatore possui, inclusive, uma das coleções de conhaque mais antigas do mundo.

Para o Salvatore’s Legacy, o bartender chegou à seguinte composição: conhaque vintage Clos de Griffier de 1788, licor Kummel de 1770, licor Dubb Orange de cerca de 1860 e angostura bitters da década de 1930. “Eles são misturados em um mixing glass e colocados com muito cuidado em um copo. Cada gota é ouro líquido”, conta o bartender.

Coquetel Salvatore’s Legacy é feito com conhaque de 1788 e licores centenários / Ming Tang-Evans

Ele revela que o coquetel é pedido, em média, uma vez ao ano, especialmente durante o período do Natal. Um dos boatos que corre no bar é que há um cliente que gosta de tomar o drinque junto de um hambúrguer. Salvatore, no entanto, alerta: “Eu não ousaria prová-lo com comida”.

Caso alguém insista em harmonizá-lo, o bartender recomenda utilizar chocolate amargo, “já que o conhaque tem tons de chocolate, enquanto o kümmel tem tons de anis”.

A história por trás do drinque

O coquetel nasceu da ideia de quebrar outro recorde, o de “coquetel mais antigo do mundo”. A façanha, porém, não foi reconhecida pelo Livro dos Recordes, o que fez com que Salvatore criasse o “coquetel mais caro do mundo” na época.

“Comecei a analisar todos os destilados que tinha na minha coleção e sabia que todos os ingredientes combinariam bem, como o terroso e a delicadeza do conhaque, a doçura do kümmel e o laranja do triple sec combinado com o amargor do angostura bitter”, relembra.

Para testar a composição, Salvatore experimentou primeiro garrafas mais contemporâneas das bebidas para depois usar os ingredientes antigos e chegar ao coquetel. “As garrafas ainda nem haviam sido abertas”, revela.

A coleção de bebidas antigas do bartender faz parte da sua vontade de vender a “história em formato líquido”. Seus clientes podem experimentar, por exemplo, um conhaque do ano em que Napoleão invadiu a Rússia, em 1812, ou do ano em que Lord Nelson morreu, em 1805, durante a Batalha de Trafalgar. “Sempre associo a idade do destilado a algo que acontece no mundo”, diz.

O Maestro

Apelidado de “Maestro”, o italiano Salvatore Calabrese trocou a Costa Amalfitana por Londres nos anos 1980 e é o inventor do Breakfast Martini, que leva marmelada de laranja, dry gin, triple sec e suco de limão.

Ele é o nome por trás das cartas do The Donovan Bar, dentro do Brown’s Hotel, o hotel mais antigo de Londres, situado no luxuoso bairro de Mayfair. No menu, chama a atenção a seção de coquetéis Vintage, que, além do Salvatore’s Legacy, possui drinques clássicos que variam de 350 £ a 1 mil £, preços explicados pelo uso de ingredientes vintage da coleção de Salvatore.

O Daiquiri da casa, coquetel imortalizado pelo escritor Ernest Hemingway, leva rum Bacardí de aproximadamente 1905, quando o destilado ainda era produzido em Cuba. Ele sai por 1 mil £ (mais de R$ 6,3 mil). Já a versão do Aviation, que apareceu pela primeira vez em 1916 em um livro do bartender Hugo Ensslin, sai por 350 £ (cerca de R$ 2.200) e leva gim Gordon’s, licor crème de violette e licor maraschino da década de 1930.

Mas não se preocupe: as cartas periódicas The Donovan também possuem drinques clássicos e autorais que custam bem menos, a maioria na faixa de 24 £ (cerca de R$ 152). As comidinhas também fazem bonito e levam sotaque italiano, como as unidades de arancini e os pratos de prosciutto da Toscana, de salame da Sardenha e de mortadela da Emília-Romanha, entre 11 £ e 16 £ (R$ 69 e R$ 100).

O bar leva o sobrenome do fotógrafo inglês Terence Donovan e oferece um ambiente sexy de luz baixa repleto de fotos em preto e branco pelas paredes.

Coquetéis mais caros do mundo

Atualmente, o coquetel mais caro do mundo chancelado pelo Guinness World Records é o The Winston, vendido na Austrália por 8,583 £ em 2013 – hoje o valor passa dos R$ 54 mil. Ele contém 60 ml do conhaque Croizet Cuvee Leonie, de 1858, e tem o bartender Joel Heffernan por trás da criação.

No entanto, um drinque servido no bar do hotel The Ritz-Carlton em Tóquio passa esse valor. O Diamonds Are Forever Martini é servido por ¥ 3,000,000, ou seja, aproximadamente R$ 100 mil. Segundo o bar, ele é preparado ao lado da mesa e leva vodka Absolute Elyx, suco de lima e um diamante de um quilate.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/viagemegastronomia/gastronomia/drinque-de-r-34-mil-leva-ingredientes-anteriores-a-revolucao-francesa/