Alexandre de Moraes vai testar o nível da valentia de Bolsonaro

(Foto: Reprodução | Antonio Augusto/Secom/TSE –

“O chefe do golpe sabe que não pode ser muito obediente e tampouco muito atrevido no depoimento no Supremo”, escreve Moisés Mendes

Todos os que já passaram pela sabatina de Paulo Gonet e Alexandre de Moraes, como testemunhas do golpe, ofereceram informações valiosas também para Bolsonaro. Principalmente pela exposição dos seus medos diante dos interrogadores.

Examinando o comportamento dos outros, que viram ou não viram golpe, Bolsonaro sabe o que pode e não pode ou não deve falar e fazer. O chefe dos golpistas precisa se apresentar como um réu bem calibrado na audiência no STF, que pode acontecer entre terça e quarta-feira, dependendo do ritmo dos primeiros interrogatórios da semana.

Não poderá ser impositivo e assertivo a ponto de sugerir que foi ao Supremo para produzir cortes de vídeos com manifestações de valentia e afrontas. Mas também não pode ficar encolhido como um tenente obediente na base do sim senhor e não senhor.

Freire Gomes, o ex-chefe do Exército que Braga Netto chamava de cagão, encolheu-se diante de Moraes e negou que tivesse avisado Bolsonaro de que ele seria preso, se o golpe fosse levado adiante.

Baptista Júnior, ex-chefe da Aeronáutica, surpreendeu pela postura legalista e quando desmentiu Freire Gomes (sim, o colega havia ameaçado Bolsonaro) e disse ainda que sofria coação de Braga Netto. Saiu ileso do STF.

Aldo Rebelo deu uma aula sobre o sentido das palavras, irritou Moraes, recuou e perdeu a chance de ser preso dentro do Supremo, o que transformaria um ex-comunista em herói da extrema direita.

Hamilton Mourão, sem surpresas, nada viu, nada ouviu e nada disse, porque assim se comportou durante todo o mandato, como vice que Bolsonaro considerava inconfiável e improdutivo. O general não apitava e não ouvia apitos.

Tarcísio de Freitas, poupado por Gonet e Moraes, porque não era preciso incomodá-lo, aproveitou o palco para dizer que Bolsonaro estava preocupado, não com o golpe, mas com o superávit fiscal.