Meta de inflação não é para se discutir, é para se perseguir, afirma Galípolo, diretor do BC

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que a viabilidade de cumprir a meta de inflação do Brasil, de 3%, é um “não-tema” para o Comitê de Política Monetária (Copom). “A meta não é para se discutir, é para se perseguir”, afirmou, em um evento organizado pela Upload Ventures, em São Paulo. “Na minha opinião, o Banco Central nem deveria votar na meta de inflação no CMN [Conselho Monetário Nacional].”

Galípolo defendeu que o BC deveria perseguir as metas estabelecidas pelo Poder democraticamente eleito.

As declarações vieram em resposta a uma pergunta sobre a viabilidade de se atingir a meta de inflação de 3%, considerando a situação fiscal do País. Segundo Galípolo, essa dúvida aparece no mercado desde o ano passado.

Ele relatou que, quando chegou ao Banco Central, havia ceticismo no mercado sobre a possibilidade de cumprir o alvo. No segundo semestre de 2023, afirmou, a preocupação diminuiu e, agora, voltou a aparecer.

“Tem havido idas e vindas, e para a gente é perseguir a meta que foi determinada”, disse o diretor do BC.

Período de redução de balanços dos BCs

Gabriel Galípolo voltou a afirmar que “estamos num período de redução dos balanços dos bancos centrais e de juros mais altos”. A discussão, de acordo com ele, é sobre quão longo é o ‘higher for longer’ – ou seja, o período em que os juros precisarão ficar elevados por mais tempo -, especialmente nos Estados Unidos.

A questão, segundo Galípolo, é que a permanência do juro norte-americano em níveis altos aumenta a dificuldade na disputa por capital, já que há algum enxugamento da liquidez. Como o aumento da necessidade de rolagem da dívida norte-americana afeta a relação de oferta e demanda, o “yield” torna-se mais alto.

“Há uma adversidade adicional quando se fala de juro americano mais alto porque com o Tesouro americano pagando o juro o que paga, fica difícil competir por recursos”, destacou o diretor do BC.

Ainda, de acordo com Galípolo, o estresse nos juros de Treasuries hoje parece relacionado a leilão do Tesouro dos EUA. Para ele, a pressão de rolagem de dívida nos EUA vem crescendo.

Processo de desinflação global

Mesmo com juro mais alto e atividade mais resiliente, há um processo de desinflação global em curso, disse Galípolo, ao participar do Upload Summit, em São Paulo. Ao se referir mais especificamente ao Brasil, ele afirmou que o desafio do País está em promover um crescimento mais harmônico entre oferta e demanda já que o petróleo e as reservas internacionais colocam o País em uma situação bastante privilegiada.

Um problema, segundo o diretor, é que os gastos do governo fornecem resiliência para o crescimento econômico. “O platô do gasto do governo é bastante elevado desde a PEC da Transição”, disse, observando também que a demanda das famílias seguirá resiliente puxada por inflação e juros em queda e pelo impulso do Bolsa Família.

A avaliação do diretor do BC é de que mesmo com o cenário global mais adverso, o Brasil fica ainda melhor. “Estou otimista com o Brasil, e não é de agora”, disse.

Galípolo também voltou a reforçar que a maior parte dos bancos centrais do mundo recuou para uma situação de dependência de dados, o que ocorre com o BC brasileiro.

Estadão Conteúdo

Fonte: https://jornaldebrasilia.com.br/noticias/economia/meta-de-inflacao-nao-e-para-se-discutir-e-para-se-perseguir-afirma-galipolo-diretor-do-bc/