Networking é obstáculo para mulheres ocuparem conselhos de administração, diz pesquisa

Dificuldades para cultivar conexões profissionais e julgamentos desfavoráveis são os principais obstáculos para que as mulheres ocupem mais espaço nos conselhos de administração de empresas.

Essa é a conclusão de uma pesquisa inédita sobre o perfil das mulheres nesse tipo de cargo, que é importante instrumento de governança nas empresas, e sobre quais são os obstáculos na profissão se comparado aos homens.

Realizada com 270 mulheres e 70 homens pela consultoria de gestão organizacional Korn Ferry, a pesquisa identificou que 4 em cada 10 conselheiras dizem que desistiriam do cargo se percebessem que suas colaborações não geram transformações.

“As conselheiras carregam consigo diversas habilidades comportamentais, cognitivas e emocionais, capazes de transformar qualquer desafio em oportunidade, ainda mais quando elas mesmas despertam um olhar crítico sobre diferentes temas”, diz Adriana Rosa, líder de transformação organizacional na Korn Ferry.

O maior obstáculo identificado por 52% das entrevistadas para existirem mais mulheres na posição de conselheira são os vieses – tendências a distorções de julgamento geralmente desfavoráveis – de conselheiros mais sêniores e presidentes de conselho sobre as mulheres de forma geral, baseadas em crenças machistas, de forma consciente ou inconsciente, e a falta de ações afirmativas para mudar esse cenário.

De acordo com o levantamento mais recente da B3, realizado em junho do ano passado, 36% de 343 empresas listadas não têm mulheres nos seus conselhos de administração. A partir de 2025, as companhias listadas em bolsa no Brasil deverão eleger ao menos uma mulher para seu conselho de administração ou diretoria estatutária.

Caso não consigam cumprir essa nova exigência estabelecida no ano passado, as empresas devem explicar o motivo de não terem feito, no Formulário de Referência, documento público de divulgação anual obrigatória por parte das empresas de capital aberto. Outra nova exigência para os conselhos ou diretoria estatutária é incluir um integrante de comunidade sub-representada – pessoas pretas, pardas ou indígenas, integrantes da comunidade LGBTQIA+, e pessoas com deficiência.

Networking

O segundo obstáculo mais comum para 25% das respondentes da pesquisa sobre mulheres em conselhos de administração é o networking – prática de cultivar conexões, compartilhar informações, buscar oportunidades de colaboração e oferecer apoio mútuo.

Entre as respostas, aparecem frases como “monopólio masculino”, “medo da diversidade”, “poucas indicações de headhunters, fundos de investimento ou outros conselheiros”, “indicação sempre de homem para homem” e “indicação prevalece mais do que a competência real de mulheres que podem ocupar as posições”.

Muitos comentários retratam que as vias informais para a indicação de conselho são sempre mais eficientes e poucos homens interpretam a diversidade como positiva ou benéfica para o negócio.

“O networking é um desafio para as mulheres porque a forma de relacionamento para construir uma rede de contatos sofre com o contexto social envolvendo questões de gênero carregados de vieses inconscientes, preconceitos e a diferença de rotina comparada a dos homens”, diz Adriana Rosa, líder de Prática de Transformação da Korn Ferry.

Culturalmente é esperado das mulheres que cumpram tarefas de cuidado, o que, na prática, influencia sua rotina e pode afetar o tempo disponível para engajar em eventos de trabalho. Esse contexto pode influenciar que homens não convidem suas colegas de trabalho mulheres para eventos em que costumam convidar os colegas homens e onde conexões profissionais e decisões de negócio podem acontecer informalmente.

Publicado por Ligia Tuon

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/negocios/networking-e-obstaculo-para-mulheres-ocuparem-conselhos-de-administracao-diz-pesquisa/