Ação de Elon Musk ajuda a piorar o desempenho do congresso brasileiro

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Os acontecimentos dos últimos dias, envolvendo Elon Musk têm sua ingerência na política brasileira sendo organizada desde o período em que um grupo de parlamentares esteve nos EUA

Por José Osmando

Em fevereiro deste ano, um grupo de parlamentares brasileiros, à frente o deputado federal Eduardo Bolsonaro, bateu às portas do congresso dos Estados Unidos, querendo que os congressistas americanos abrissem caminho para uma audiência, na qual pediriam ajuda para “libertar o Brasil da tirania” em que vive, segundo eles.

O grupo fora participar nos EUA de um evento periódico que o grupo mais à extrema direita da política americana realiza, a Conferência de Ação Política Conservadora. Eles aproveitaram esse evento para encher a cabeça dos norte-americanos de fantasias sobre a falta de liberdade política no Brasil, rogando ajuda aos “verdadeiros líderes do mundo livre” para que os ajudassem a sair da “tirania” e da “ditadura do judiciário.”

Na sequência, ainda em fevereiro, o mesmo deputado Eduardo Bolsonaro pediu uma audiência ao Congresso dos EUA, para falar sobre “o sistema totalitário do Judiciário brasileiro”. Mas o pedido foi negado no começo de março. O veto a esse encontro foi proclamado pelo deputado do partido Democrata e Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Estados Unidos, Jim McGovern. A reação ao veto foi imediata. O deputado brasileiro disse que o ato do parlamentar norte-americano era “censura da esquerda para calar a verdade.”

Esses acontecimentos ocorreram às vésperas de um evento que os bolsonaristas realizariam na Avenida Paulista, em São Paulo, durante o qual dariam os primeiros passos para um movimento em favor da anistia para os bolsonaristas, especialmente para os implicados nos atos de 8 de janeiro, uma tentativa de golpe de Estado para impedir o governo Lula.

E foi nessa passagem pelo território norte-americano que essa movimentação política lançou as bases para construir um colaboração internacional em torno das causas que eles defendem: não-condenação pela justiça, anistia, retomada de direitos políticos de condenados, não regulamentação das redes sociais e big techs, direito a permanecerem propagando fake news, sob a argumentação de “liberdade de expressão”.

Os acontecimentos dos últimos dias, envolvendo o bilionário Elon Musk, dono da big tech X ( antigo Twitter), magnata que também detém em seu nome outras empresas (SpaceX, Tesla, Neuralink, Boring CVompany e Solar City), têm sua ingerência na política brasileira sendo organizada desde esse período em que o grupo de parlamentares esteve nos EUA. Era necessário para eles ter alguém do peso e influência de um Elon Musk para fazer valer um movimento internacional robusto em torno das causas indefensáveis que eles sustentam.

O saldo dessa ingerência descabida que Elon Musk exercita no Brasil, além de expor a voracidade de sua violência contra o STF e, sobretudo, contra o ministro Alexandre de Moraes, é que se gera uma crise grave nos bastidores da vida política nacional, criando um embate interminável entre o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

O sinal mais claro desse prejuízo ao Brasil é a decisão de Arthur Lira de jogar para debaixo do tapetão da Câmara a proposta de fixação de normas legais das plataformas e redes digitais, um projeto levado ao senado pelo senador Alessandro Vieira ainda em 2019, que foi aprovado pelo Senado em 2020, enviado à Câmara e há quase quatro anos ficou sem solução nessa Casa.

Com relatório produzido pelo deputado Orlando Silva, amplamente discutido, encaminhado numa linha satisfatória de coibir as fake News, os conteúdos racistas e discriminatórios, a proliferação de ódio e o impulsionamento de algoritmos criminosos, incluindo a responsabilização partilhada das plataformas, o projeto foi arquivado, seus estudos jogados no lixo, sob a astúcia de se criar um “grupo de trabalho” para começar tudo de novo.

A Câmara demonstra, com isso, que além de jogar gasolina no fogo que incendeia as relações de Lira e Pacheco, fica literalmente ao lado dos que querem continuar mentindo, caluniando, difamando e pregando ódio, e mais ainda, ajudam de modo robusto os donos de plataformas poderosas, das chamadas big techs , a continuarem enchendo os cofres, ganhando muito dinheiro, por que é disso que finalmente se trata e é isso que aos Musks da vida interessa.

Elon Musk, jogando noutro interesse, ajuda em muito a piorar a qualidade do Parlamento nacional.